Thiago Santos: Quem é o ser humano Luiz Navarro?
Luiz Navarro: Me considero uma pessoa de muita sorte. Pois tive desde pequeno uma noção muito clara de um sentimento que me é muito caro. O amor! Meus pais nasceram e foram criados no interior de Pernambuco, onde não tiveram muitas oportunidades de acesso a educação, e a informação de um modo geral. Mas tiveram aquilo que não se aprende na escola... Muito amor!!! E essa é minha essência.
Tudo começou para você no ano de 1986?
Exatamente. Comecei aos dezesseis anos, num grupo de jovens ligados a Igreja católica. Essa trupe chamava-se Grupo Teatral Natureza.
O Grupo Teatral Natureza, visava levar quais temas ao publico?
Naquela época a Igreja católica tinha forte penetração na periferia das Cidades, e acabava absorvendo a problemática política do seu "rebanho". E nós por conseqüência acabávamos por refletir e reproduzir em cena temas como: reforma agrária, Nova constituinte, direitos indígenas, violência urbana e rural, entre outros.
Como é a sensação de ter em mãos um personagem a qual será de sua responsabilidade dar vida ao mesmo no palco?
É uma "brincadeira" muito interessante, essa de criar e dar vida a personagens. Este exercício de certa forma ainda me limita, pois a proposta da encenação impõe esses limites. Agora, eu brinco de fato mesmo quando crio as personagens da minha dramaturgia.
Seu pensar ao pisar pela primeira vez num palco diante uma pré-apresentação, foi?
É isso que eu quero pra mim! Meu primeiro espetáculo foi "verdades para a constituição", em 1986.
Grande batalha pela construção de uma política cultural?
No ano de 1987 deixei o Grupo Teatral Natureza e ingressei no Grupo da Gente - GRUDAGE. Este grupo era, e ainda é considerado como um grupo de resistência. Filiado a Associação Cabense de Teatro Amador - ACTA, esteve a frente de grandes "batalhas" na busca de uma política cultural para a cidade. Atualmente estou Coordenador de Cultura da Prefeitura Municipal do Cabo de Santo Agostinho, e agora representando o poder público, a luta é para implantar o Sistema Municipal de Cultura, que permitirá criar as diretrizes para a implementação de políticas públicas de cultura para o município.
Nos conte o quanto lhe foi importante ser Presidente da Associação Cabense de Teatro Amador.
Eu era muito jovem nesta época, e estava a pouco tempo na militância, mas com a vacância do cargo de presidente, eu como suplente assumi. O que ficou de bom dessa época foi a certeza de que está no palco, e escrevendo meus textos, me deixa muito mais a vontade e seguro.
A Trupe Cara & Coragem, conquistou muito do meu respeito pelos temas e propostas que fazem parte de sua filosofia.
Costumo dizer que A Trupe Cara & Coragem foi a minha melhor criação, pois não criei apenas um grupo teatral, mas sobretudo uma grande família! Sou muito grato a todos que passaram por ela e aos que continuam até hoje na busca de um teatro insurgente, capaz de utilizá-lo como ferramenta indispensável para a construção da cidadania.
Promover o debate de temas como: Violência contra mulher, tráfico de seres humanos, abuso sexual contra crianças e adolescentes de forma lúdica é sem dúvida o grande desafio de nossa Trupe. E o teatro tem esse poder!
Tenho como causa pessoal cooperar no combate contra todas e quaisquer espécies de agressões sexuais contra as nossas crianças. E sua trupe também aborda tal tema objetivando ser também um canal importante que visa cooperar em prol da proteção das nossas crianças.
Este foi o nosso primeiro desafio. A convite da Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco, no ano de 2004 a Trupe foi criada exatamente para trabalhar este tema. Daí por diante não paramos mais.
Como é já ter vivido uma “bodas de prata” para com o teatro e agora caminhando rumo as “bodas de ouro”?
Exatamente. Em 2016 estarei comemorando 30 anos de ofício. E o que me deixa mais feliz é saber que ainda tenho gás para muito mais.
Quando o Sol Vem à Janela e Um Minuto Para Dizer Que Te amo?
Esses dois espetáculos em particular tem de mim um carinho especial. Convivi com o mal de Alzheimer durante 10 anos de minha vida, através de pai e minha mãe. E eu quis usar o teatro para falar um pouco dessa experiência. Mas eu não queria que a doença em si fosse o foco central do espetáculo. Mas gostaria de falar do amor incondicional que é necessário para lidar com ela. Então escrevi e dirigi QUANDO O SOL VEM À JANELA, abordando a doença a partir do universo feminino, e UM MINUTO PARA DIZER QUE TE AMO abordando o masculino.
No ano de 2009 houve um acontecimento de grande importância para você?
Neste ano tive o prazer de assistir um espetáculo de minha autoria em outro país. Com direção de Jaime Aragão da Rocha e Produção de Nuno Marques, com elenco português, a comédia AS MALDITAS fez temporada no Teatro Tivoli na Cidade de Lisboa.
Quais foram seus grandes êxitos até o momento e quais importâncias tudo o que já conquistou tem no todo de sua vida?
O que mais me deixa feliz é sentir que as pessoas da minha Cidade, do meu Estado, reconhecem o meu trabalho. E que este trabalho mesmo depois de tantos anos ainda é embrionário, mas que te leva a viver grandes emoções como ter um assento na academia de letras do Cabo de Santo Agostinho. Ter o respeito e a confiança de todos que fazem a Trupe Cara & Coragem também é combustível para eu continuar crescendo.
Para finalizar nos fale dos seus projetos atuais e futuro!
O que absorve meus pensamentos no momento é o lançamento de um livro com alguns textos meus. Um projeto idealizado pelo meu grande mestre, o historiar da arte e diretor teatral Williams Sant'anna.
Neste momento estou na Cidade de Araguaína - TO, dirigindo o espetáculo A POÇÃO DO AMOR de Mauro Alvim, numa produção do Grupo Artpalco, de onde acompanho o sucesso da temporada do espetáculo O REI DO LIXO sob a direção de Maria Pia Carone e Produção de Renata Villaverde. Meu primeiro texto dirigido a crianças e adolescentes.
No mais... Muito Teatro em nossas vidas!
