Thiago Santos: Quem é o ser humano Sara Yacov?
Sara Yacov: Uma incógnita quando se trata do ser Humano, para mim, que sou espiritualista, vejo por vários ângulos. O comportamento humano não depende somente do ambiente onde ele é criado, as influências sociais, morais, religiosas, mas também do “quantum de evolução espiritual” que o Ser já traz.
Sei que a música é a expressão máxima em sua graça irresistível. Mas fica a curiosidade em relação a uma criança que se encanta por esta beleza única! Como pode?
As notas musicais fatalmente entrarão em contato ressonante com a criança, pois ela está no estado mais puro de percepção geral. Não tem como nem uma criança e nem um adulto reagir à vibração das notas... O que pode diferenciar é o tipo de música (dada a combinação rítmica), popular, clássica e outros, onde sempre a percussão e/ou instrumentos ativam uma certa emoção... as músicas com batidas rítmicas "quadradas" são as que mais as crianças gostam.
Quais sentimentos lhe tomaram em sua primeira apresentação como artista desta bela e fantástica arte que é a dança?
Comecei muito cedo, a criança não tem julgamento, simplesmente faz. Lembro-me que a timidez imperava (risos). Tinha muita energia, era estabanada (risos), o ballet ajudou a disciplinar a energia corporal. Sou grata demais a todos os mestres que tive a honra de conhecer, caso contrário seria uma adolescente terrível, no mau sentido da palavra(risos). Daí a importância das artes no desenvolvimento humano/social.
O tempo passou e na adolescência você se rendeu ao “mundo” da interpretação! Quais importâncias houveram neste ato?
Como já comentei, a minha energia era demais, hoje os médicos diriam: hiperatividade, na minha infância;peste. (Risos)
Graças a Deus as coisas evoluíram. Para um artista só dançar não basta, só interpretar, não basta, o artista deve ter contato com a DANÇA, CANTO, TEATRO, pois assim o universo e o auto conhecimento se amplia.
Participei de um grupo amador de minha cidade (TAMEJ), onde aprendi muito, pois éramos uma família. Tive a honra de participar do grupo Os Satyros, e me aventurei em teatro comercial (Oh Calcuttá!), do qual fui criticada, viajei muito, mas a dança exigiu mais de mim e então montei o meu espaço holístico. Gosto mais de comédias e peças infantis pois acho que precisamos de leveza.
Tento sempre imaginar como é para um ator se encontrar com seu primeiro personagem.
Uau!!! O trabalho de laboratório de um personagem é inebriante e cansativo, pois não somos aquela persona. Tanto na dança, quanto no teatro, encarnar outras emoções que não são as nossas permite que mergulhemos num universo paralelo.
Aos 17 e aos 18 anos, interpretar uma persona mais velha e louca. Foi alucinantemente bom, quantas dúvidas e receios de como trazer aquele peso para um corpo de adolescente? Qual o tom de voz? Gemidos? Olhares? Desafios e mais desafios... lágrimas por não conseguir fazer e/ou entender e lágrimas quando é entendido e o sentimento vir à tona. Grande demais!!! Isto tudo, decorrido meses.
Não conformada entregou-se ao gênero comédia?
Impulsiva e até inconsequente, testes e mais testes, lá estava eu no TBC, Teatro Brasileiro de Comédia, onde participei do único infantil que o grande Plínio Marcos fez. " O Coelho e a Onça" dirigida por Elizabeth Hartmann. Conheci Iacov Hilel pessoas e artistas incríveis, grandes diretores!! Fazer comédia me interessou muito, pois meu espírito era compatível, além de ser mais difícil , pois nosso humor altera-se todos os dias e influencia na inflexão de voz ao dar a piada... O termômetro é a platéia que por meio dos risos, demonstram se atingiu o objetivo ou não. No infantil me sinto livre para estar na essência das crianças, aí me jogo (risos).
Lhe dar com um personagem voltado ao humor é uma ótima inspiração quanto o enfrentamento da vida diante os seus dramas?
Siiiiimmmmm, pois este é o combustível ideal para enfrentar as dificuldades reais, mais ou menos como se a realidade fosse uma história e vamos laboratoriando( exercícios para entender a personagem e situação desta), para sair da situação.
É gigantesca a diferença entre atuar e produzir?
Uma diferença gigantesca, já que o produtor tem que olhar o todo, a logística do começo, meio e fim... atores ou bailarinos, cenário (se houver), iluminação, adereços, chegada, saída, divulgação, enfim, um produtor só dorme quando a última luz se apagar!
Tenho vivenciado isto em produções de espetáculos de dança, feiras que organizo, peças de teatro e no momento a produção de um documentário: Sem Salário: O Pagamento de Um Voluntário!
Nessas muitas realizações lhe vem a mente que para o ser humano, o que é denominado impossível jamais ficará de pé, se este perseverar e dedicar-se ao que deseja realizar?
A Alma não morre, o corpo sim...e o que podemos fazer ao próximo? Como criar possibilidades de partilhar coisas boas? No momento minhas ferramentas são a dança, o teatro e as terapias... mas... almejo... creio que a perseverança é a realização de um sonho, sonhar realiza... Gostaria muito de um dia ter um orfanato e um asilo unidos, pois o idoso morre de tristeza, esta tristeza sumiria com o brilho das crianças, e as crianças receberiam o carinho dos mais experientes... Um ciclo de vida... planta-se uma semente... e o sonho não acaba... apenas transcende.
Qual conselho você daria para aqueles que desejam viver diversas artes?
Acreditar sempre, observar, ser humilde, questionar e doar-se!
Para finalizar nos fale dos seus projetos atuais e futuro!
Estou em andamento com o Projeto Viva Dança, com aulas nos bairros, carentes ou não. Todo artista precisar ir onde o povo estiver! Creio nesta máxima....e o documentário, já em andamento, já que o cinema sempre foi um sonho!! Abordamos o tema do voluntariado, porque acredito que precisamos descobrir em nós o quanto podemos Ser para poder ter, doando um tempinho, uma palavra...assim gratidão volta com a resposta!!!