11/12/2014 às 21h14min - Atualizada em 11/12/2014 às 21h14min

Catia Mourão

Escritora

Thiago Santos

 Thiago Santos: O que move o ser humano Catia Mourão?

 Catia Mourão: A paixão! Digo isso sem medo de errar Thiago.

 É a paixão que nos impulsiona todos os dias, quando despertamos e saímos em busca de conquistar nossos sonhos.

 O que seria dos sonhos sem a paixão que nos dá aquela força necessária para transformá-los em realidade?

 Todo projeto de vida apresenta dificuldades em sua execução, seja ele profissional ou pessoal.

 Os caminhos geralmente são árduos, mas o ser humano é movido pela paixão. E quando se tem essa certeza dentro de si, de que isso é o certo a fazer e é a coisa mais importante em seu universo, então a conquista está garantida. É só uma questão de tempo até que se obtenha o sucesso.

 

 Quais foram os sentimentos que tomaram o coração daquela pequena criança ao escrever suas primeiras palavras?

 Encantamento, fascínio, emoção... São tantos os sentimentos que poderiam descrever esse momento.

 É muito sedutora a ideia de que através das palavras é possível transportar outra pessoa para um mundo que só existe na sua cabeça. Um universo fictício ou uma época distante, por exemplo; imprimindo diferentes estados de emoção, criando verdadeiros vínculos com os personagens, a ponto de torná-los quase palpáveis.

 Toda forma de arte surgi da alma do artista e por isso mesmo gera deslumbramento. Com a literatura não é diferente.

 Eu sou uma apaixonada pelas palavras e pela força criadora que provém delas.

 

 Analogicamente falando muitos escritores se referem ao processo da criação dos livros como de um parto sofrível?!

 O processo de criação, principalmente o de uma obra de ficção, é um desafio que precisa ser vencido a cada capítulo.

 Por mais que o autor esteja envolvido com a trama, sempre tem aquele dia em que a inspiração te abandona e é aí que entra a disciplina.

 Ainda que a literatura seja uma forma de expressão da arte, o autor tem regras a serem cumpridas, como em todo trabalho, e o prazo de entrega da obra para publicação é uma delas.

 Existem técnicas e recursos que o autor pode e deve utilizar para minimizar esse e outros problemas que surgem ao longo do desenvolvimento de uma obra. Um roteiro prévio, bem elaborado e estruturado por tópicos, ajuda muito quando se tem a sensação de estar se perdendo dentro da historia. Um trabalho de pesquisa abrangente também. Mas, acima de tudo, é importante ler o que se escreve uma, duas, dez vezes se for necessário, e dar tempo para que o texto amadureça.

 

 Através das palavras, monte o cenário para que vejamos como foi o momento em que você teve a inspiração da ideia de seu primeiro livro até o momento em que escreveu a primeira frase!

 Era fim de tarde de um dia qualquer de 1997. Eu estava dentro de um ônibus, parada na frente de um shopping. O ponto estava cheio de gente que esperava para entrar e lembro exatamente o que chamou minha atenção.

 Um casal discutia perto do ponto, mas dava para perceber que apesar da briga havia amor naquela relação. E pronto! De repente estava eu criando toda uma história para eles em minha mente que culminava com aquela briga.

 Foi tão espontâneo que eu senti necessidade de escrever sobre aquilo. Só tinha um problema: naquela época os celulares não tinham os recursos de hoje. Ao menos não o de uma moça de vinte e poucos anos, de classe media, que andava de ônibus pela Barra da Tijuca.

 Então usei o único recurso que estava disponível e comecei a escrever no verso da nota fiscal de algum produto que eu tinha comprado e que por acaso ainda estava na minha bolsa.

 O papel era pequeno e o balanço do ônibus não ajudava em nada, mas pelo menos não perdi a ideia original da história.

 Quando cheguei em casa fui direto para o quarto e passei tudo a limpo para um bloco pautado grande.

 Eu não tinha computador em casa. Eram outros tempos. Então, eu escrevia a mão, como faziam os antigos escritores. Meu ex-marido levava de manhã para o trabalho, digitava tudo e trazia de volta a noite, com as páginas já impressas.

 Foi assim que surgiu "Elos do Destino", meu primeiro livro.

 

 Houve algum processo na sua pessoa diante o outro processo. Começo, meio e fim. Em todos os seus livros?

 Cada obra que escrevo tem o poder de me transformar um pouco. A ideia original de um livro surge naturalmente, de alguma experiência vivida ou presenciada. Mas sinto, que em dado momento no decorrer da trama, deixo de ser a criadora para assumir o papel de espectadora da criação.

 É como se a história ganhasse vida, os personagens se tornassem reais e eu me transformasse em mero veículo para eles se expressarem. Isso, com certeza, interfere em minha forma de escrever.

 Quando o autor está realmente envolvido com a historia, a obra ganha outra dimensão, que acaba refletindo nos leitores e em mim também.

 

 Escrever uma história que terá toda uma sequência, sequência essa que mostra não haver limites para a criatividade lhe traz quais sensações?

 As mais diversas! Principalmente quando recebo o feedback dos leitores e vejo que eles embarcaram comigo nessa aventura por um mundo mágico e fictício; que estão ansiosos, aguardando para saber o que vai acontecer agora com tal personagem por quem estão torcendo, ou qual será o destino daquele vilão que eles odeiam.

 Acho que os leitores não fazem ideia da verdadeira dimensão que isso representa para o autor. Acabo ficando tão ansiosa quanto eles, ou mais, com cada lançamento.

 A saga Mais Além da Escuridão foi muito além do que eu esperava. Os personagens conquistaram o carinho dos leitores de tal forma, que não se passa um dia sem que eu receba mensagens demonstrando o quanto eles são fortes e estão presentes na vida dos fãs.

 É claro que isso traz também uma grande responsabilidade. A cada novo volume, e serão seis no total, bate aquele medo de decepcionar. Quando recebo mensagens elogiando "Revelações", dizendo que está ainda melhor do que "Entre Nós", imagino o tamanho da expectativa dos leitores em relação ao lançamento de "Insurgência".

 É meio assustador, às vezes parece irreal, mas ao mesmo tempo é um estímulo quase mágico para o trabalho que vem pela frente.

 

 Existe diferença entre conviver com diversas culturas através do contato real e, na prática da leitura?

 Seria pretensioso negar. A experiência real será sempre mais rica e intensa que a experiência descrita, por melhor que seja o autor. Mas isso não torna a experiência da leitura menos válida, já que ela é capaz de despertar emoções muito próximas das que vivenciamos durante um contato real.

 É por isso que o trabalho de pesquisa é uma etapa tão importante. É ele que garante a veracidade daquilo que o autor escreve e permiti criar a sensação que o leitor busca, de viajar através das páginas.

 

 Sua "alma" diria quais palavras em relação a sua profissão literária?

 Literatura é, antes de tudo, uma arte e como tal ela brota do coração, da alma de quem senta no meio da noite em frente ao computador e dá vazão aos sentimentos.

 Um autor é tão somente um artista que usa as palavras para expressar seu pensamento, suas emoções e suas experiências, dispondo da criatividade para fazer com que aqueles que leem seus textos sejam transportados para seu universo particular.

 

 Literabel?

 Literabel é mais que um evento literário. Ele tem um cunho social e um objetivo bem determinado, que é tornar a literatura mais presente no dia a dia das pessoas que vivem em cidades onde as livrarias são raras ou mesmo inexistentes.

 Somos um país de diferenças e elas se apresentam em todas as áreas, e estão bem perto de nós. Mas se cada um fizer a sua parte isso pode mudar mais rápido do que imaginamos.

 Para quem mora em uma cidade grande como Rio ou São Paulo isso soa irreal, mas existem municípios que não contam sequer com uma livraria, onde os leitores possam adquirir livros, participar de eventos literários e cultivar o gosto pela leitura.

 É preciso lembrar que leitura é sinônimo de educação e educação é garantia de um futuro melhor, seja individualmente ou para a sociedade em geral.

 Literabel traz essa proposta, levar os autores nacionais até essas cidades, reunindo os leitores em palestras coletivas, seguidas de uma pequena feira literária, onde será possível não só ter contato direto com os escritores, como também adquirir os livros com preços mais acessíveis para todos.

 Temos recebido mensagens de muitos autores que tomaram conhecimento do projeto e demonstraram interesse em colaborar, inclusive contaremos com a participação de autores vindos de outros estados especialmente para o evento, já nessa primeira edição.

 Paralelamente, vamos receber doações de livros não didáticos, usados e em bom estado, que serão encaminhados para o projeto Pegaí, que faz um trabalho muito bonito de disseminação da literatura para a população menos favorecida.

 Quero aproveitar e deixar aqui um convite para os leitores da cidade de Belford Roxo, no Rio de Janeiro. Dia 21 de dezembro às 14 horas estaremos esperando por vocês de portas abertas, na Câmara Municipal, que gentilmente nos cedeu o espaço para o evento. A entrada é gratuita e quem puder, leve um livro para doação.

 

 Para finalizar nos fale dos seus projetos atuais e futuros!

 Estou finalizando a coletânea "Contos e Poemas Góticos de Carlie Marie", que será lançada em março de 2015, com o selo da Ler Editorial, e para os fãs de MADE tem o tão aguardado "Insurgência", o terceiro volume da saga, que será lançado em setembro, na Bienal do Rio.

 Além disso, apoio incondicionalmente a Lei Editorial, que acredito ser a única maneira para solucionar uma parte do problema que atinge a distribuição e comercialização de livros no Brasil.

 A lei é a melhor proposta para garantir a inclusão dos novos autores brasileiros no mercado editorial, permitindo uma competição mais justa com os grandes autores best-sellers estrangeiros, que são massificados pela divulgação poderosa das grandes editoras.

 Nada contra, mas é preciso dar espaço a cultura nacional, que é tão rica.

 Temos vários autores brasileiros que produzem livros maravilhosos e que estão distantes do público, pela dificuldade que existe na inserção dessas obras nas grandes redes livreiras.

 Os leitores merecem ter acesso a esses autores e acredito que a nova lei nos proporcionará isso.

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