01/02/2014 às 08h57min - Atualizada em 01/02/2014 às 08h57min

Protestos, Copa, Rolezinhos, Eleições

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Caio Manhanelli

O ano de 2013 ainda não acabou. Não para a classe política pelo menos. Os protestos que ocorreram por todo o país em meados do ano fazem parte de um movimento mundial de descredibilização do regime democrático. Essa euforia contestatória acabou aflorando uma grande rejeição à democracia, tendo alvo na figura dos políticos, desabrochando o cogumelo atômico que a “grande mídia” sempre cultivou com carinho no imaginário coletivo. Muitas sugestões apareceram de setores da população de intervenções militares e/ou autoritária, além das absurdas teorias da conspiração que variam entre golpe comunista ou golpe militar, alimentadas por vasta rede de “desinformação” sobre médicos cubanos ou mesmo sobre o Partido Militar Brasileiro. Mas, uma coisa se produz de “positivo” (sempre, como diria Foucault, padrinho do título dessa coluna), surgiu uma classe que se enuncia de direita, coisa que até ontem era um pecado ou excrecência qualquer um dizer nas ruas.

Então, esse novo enunciado, ou melhor, anunciado, - pois sempre esteve presente - de direita, depois do desfoque das bandeiras iniciais de reivindicação (em maioria o transporte público), se focou no maior evento político do ano, a Copa. A todos é conhecido um adágio político que poderia ser expresso da seguinte forma: “em ano de copa o governo é quem leva a taça”, vulto referenciado na velha marchinha usada eximiamente como propaganda do Regime Militar nos anos 70, “a taça do mundo é nossa”, dando liga para o paradoxal auge da repressão com a boa fase econômica do país. Pão e Circo como se sabe, com o adicional, Cassetete. E a formula está se reproduzindo, e se viu reproduzida nos protestos, quais quer, seja contra o aumento de tarifas, seja contra a realização da copa.

Mas esse referencial de direita e esquerda fora da Europa sempre me soou deslocado, como tentar encaixar o triângulo do brinquedo infantil no lugar do cilindro, me parecem mal encaixados em terras tupiniquins. Veja a esquizofrenia, um governo federal que se diz de esquerda usando o exercito para conter manifestações, pois não está mais inserido “nas bases”; governos estaduais que se dizem sociais democratas que possuem aparatos militares mais eficientes do que a SS alemã com dispositivos de inteligência e repressão que dariam inveja à Hitler e Stalin. E estamos em um “estado de direito democrático”, aquele do direito de ir e vir, mas que os jovens de periferia não podem usufruir em coletivo para dar um “rolé” no shopping...

O que surge nesse cenário de “configurações de forças” é um sentimento de insegurança e de violação dos direitos liberais mais básicos, a “rota na rua” violentamente oprimindo até a “imprensa”, mobilizou milhões de cidadãos que sentiram o Cassetete na pele com as imagens da violência policial dispersadas pela internet, mobilizando o país contra algo, que não sabem dizer o que é exatamente, mas que apontam para os políticos que se valeram do uso da força para calar ao invés de escutar e atender as demandas. Faltou Marketing Político de fato, sobrou jogo de mídia e desinformação nas telinhas.

Ao inverter a ordem da formula Pão, Circo, Cassetete, os governantes geraram um desconforto geral, mal acalmado, como peneira tampando sol, com propostas tiradas às pressas de reformas políticas torpes e consultas mal elaboradas. Acomodaram-se na velha forma de fazer política acreditando que o povo esquecerá quando a Copa chegar. Quando o Cassetete veio, mesmo com o Pão bem distribuído, o Circo só se tornou uma referência para se lembrar de como doeu no lombo a pancada, e esse sentimento que não está às vistas dos políticos que se cegaram no conforto envergonhado de suas poltronas, será materializado nas urnas, de alguma forma que ainda não é tão fácil de saber, se com autos índices de abstenção ou com a eleição de lideranças repressivas.

A população quer sim ser representada, também quer Copa e segurança, só não estão aceitando essa atitude política de negligenciar a transparência de suas atividades, e aqui não é jogar num site tudo que se gasta de dinheiro, mas é mostrar respeito com o que se gasta, é representar de fato sem oprimir. Essa negligência está deixando uma marca, uma vontade de agir na população, que terá no momento do voto, seu espaço permitido e “disciplinado” para reclamar, a sublimação dessa libido contida, já que todos os dias na rua eles devem calar. Renovação é previsível, mas qual renovação é a dúvida que fica.

Este artigo é um esboço de parte da obra no prelo, Primavera Tupiniquim: Marketing Político e Manifestações, que será lançado pela editora Manhanelli em Maio de 2014.

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