17/08/2014 às 14h11min - Atualizada em 17/08/2014 às 14h11min

Espetacularização da Morte na Política

A morte é um desses elementos que alimentam a máquina espetacular de nossa sociedade. Quando ocorre na política então, vira um evento sem igual.

Caio Manhanelli

Vivemos na Sociedade do Espetáculo, já dizia Guy Debrod na França em 1967 (um ano antes das grandes manifestações de 1968 naquele país). Seu livro mostra o quanto toda a vida social vive nesse sentido espectral, espetacular e especulativo, e como isso serve para nos isolar. A morte é um desses elementos que alimentam a máquina espetacular de nossa sociedade. Quando ocorre na política então, vira um evento sem igual. Líderes déspotas viram santos e heróis, líderes que não tinham tanta representatividade viram ícones da política nacional, líderes muito representativos viram mártir, e por aí vai.

No Brasil vivemos muitas mortes políticas e suas consequentes espetacularizações, Vargas, Jango, Ulisses, são alguns exemplos, e agora, Campos. Essa espetacularização ganha forma e conteúdo conforme as versões e sugestões de conspirações ganham mais ou menos força. Óbvio que existem elementos factuais para a construção desse espetáculo, se não houvessem, não seriam legítimas as versões, mas os próprios elementos factuais servem para alimentar espectros, fantasmas, ilusões conforme a conveniência dos enunciadores. Nessa mais recente morte, uma lei aprovada alguns meses antes (um fato) para proteger as grandes empresas aéreas, serve de alimento para a mente delirante de jornalistas (não acho que mereçam esse título tais pessoas da Veja) acusarem a Presidenta de assassinato/conspiração. A falta de gravação na suposta caixa preta do avião (um pseudo fato, pois até provar que aquela de fato é a caixa preta do avião referido), alimenta mais ainda o clima de conspiração e incertezas.

O motor do espetáculo ignora argumentos racionais, ignora o princípio matemático simples da divisão nas contas simplistas operadas pelos políticos, me explico: quando se é governo e se está bem aprovado, ainda mais com um fator de conversão aprovação/voto alto, se motiva a oposição a se fracionar, para que seja disperso os votos dos descontentes em mais de um candidato de oposição, isso faz com que não haja interesse do atual governante em diminuir seus concorrentes, pelo contrário, quanto mais concorrentes melhor. Analisando nosso caso, Campos tinha o voto só de Pernambuco, um colégio eleitoral tão grande quanto a Bahia ou o Ceará, por exemplo, que possuem aliados ao governo federal. Nas últimas pesquisas não mostrou crescimento nos outros estados nordestinos, não tirando de fato votos de Dilma, além do mais, tais pesquisas mostram que na simulação dos cenários eleitorais, 55% das intenções de votos de Campos no primeiro turno migrariam para Aécio no segundo, isto é, Campos disputava mais os votos com Aécio do que com Dilma.

Nesse caso, Marina Silva ameaça mais o potencial de votos de Dilma do que Campos, conforme o mesmo princípio simplista de pressuposto errôneo de que voto é propriedade dos políticos. Marina teve aproximadamente 20 milhões de votos em 2010, e seus votos, segundo análise estatística, migraram por igual para Serra e Dilma, assim, seria mais vantagem para o PT a candidatura de Campo, que dentre seus eleitores, menos de 45% passariam para Dilma no segundo turno. Vejamos agora, com a conformidade do cenário eleitoral após as decisões de Marina e do PSB como ficará a disputa presidencial no Brasil, em mais um capítulo trágico de nossa história política, e por isso mesmo, tão espetacular e especulativo.

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