16/03/2015 às 09h33min - Atualizada em 16/03/2015 às 09h33min

Evill Rebouças

Amante da arte em um nível em que nela e por ela, está o todo de seu viver...

Thiago Santos
Thiago Santos

 Quem é o ser humano Evill Rebouças?

 Se conhecendo, em construção... às vezes me surpreendo comigo mesmo.

 

 

 Lembra qual foi seu primeiro contato com a arte e como isso influenciou em sua escolha por ela?

 Acho que foi quando eu pedi para a minha professora do primário indicar outros livros que não àqueles obrigatórios... eu achava aquelas histórias de ilhas e meninos perdidos muito chatas. Ai cai na minha mão “Incidente em Antares”, de Érico Veríssimo. Fiquei fascinado e comentei que eu conseguia ver o que os personagens do livro falavam. A professora então disse: escreva. Anos depois fui ver teatro no palco: “O beijo da mulher aranha” com o Rubens Corrêa e o José de Abreu. São marcos que me influenciaram, com certeza.

 

 

 Amante que sou das emoções humanas, gostaria de saber o que lhe veio em mente ao se deparar com seu primeiro personagem!

 Uma sensação indescritível de ver que eu poderia ser outras pessoas que não eu. Eu fazia um ativista que lutava contra altos alugueis cobrados por um senhorio. A peça era “Greve dos inquilinos”, de Neno Vasco (um autor anarquista).

 

 

 

 

 Sem o público seus personagens seriam como filhos sem pais?

 Acho que são filhos a procura de inseminação, de vida. Quanto as peças não montadas, sinto que são filhos guardados em arquivos, e se lhes forem concedida a graça de serem levadas ao palco, a vida desses filhos se completará.

 

 

 Fazendo uma retrospectiva, o que foi determinante para que no dia de hoje sua história seja descrita como professor de artes cênicas, diretor, ator e dramaturgo?

 Fui guiado pela intuição, intuição de que conseguimos dizer muito mais ao mundo pela arte do que pela vida. A arte está isenta de leituras singulares, principalmente quando temos consciência de que é pernicioso produzir mensagens únicas e morais inabaláveis por meio de uma história ou personagem.Me divirto quando me perguntam qual a mensagem que eu queria transmitir numa peça. Eu respondo perguntando o que a pessoa acha... e escuto reflexões muito além daquilo que eu gostaria de dizer pro mundo.

 

 

 

 

 O que o levou a investigar dramaturgia e encenação no espaço não convencional?

 O que mais temos no “mercado” são espetáculos apresentados em teatros que, geralmente, são vistos por uma classe social específica. O valor dos ingressos, o preço do estacionamento, a pompa de um shopping, dentre outros elementos, inibem o acesso ao público, principalmente aquele que nunca viu teatro. Foi a partir dessa visão que a Artehúmus, grupo do qual faço parte, passou a investigar e apresentar espetáculos em espaços inusitados. Pessoas que nunca tinham visto teatro foram nos ver em um banheiro público, abaixo do Viaduto do Chá; num prédio abandonado no Bom Retiro onde andávamos pelos cinco andares do imóvel; dentro de uma igreja na cidade do Porto, em Portugal; na lanchonete, elevador e cobertura do Sesc Consolação etc. Nesses lugares, além de ter acesso fácil ao público, existe a possibilidade de o espectador passar por experiências, ou seja, ele escolhe de onde quer ver, como quer ver; inclusive ir embora se não gostar.

 

 

 

 

 O maior desafio quanto à escrita de vários textos teatrais seria evitar repetições entre ambos?

 Não. Repetir é algo que faço sempre. Roubo de mim diálogos que estão em outras peças quando estou escrevendo uma nova história. Acho delicioso inserir diálogos de outros textos meus em novos contextos, novas situações. Vejo como uma brincadeira de colagem, uma espécie de resgate daquilo que a gente fazia quando era criança. No entanto, penso que o maior desafio de um escritor é criar histórias que possam gerar reflexões sobre o nosso tempo. Tenho vários incômodos quanto ao nosso jeito de viver e esse é o maior desafio: como transformar esses incômodos em arte que venha a dialogar com a sociedade contemporânea?

 

 

 Imagino que seja sublime se deparar com seu nome vinculado a uma indicação que visa premiar aquele que teve um melhor desempenho?

 Olha, receber prêmios ou indicações abre portas, mas tem prazo determinado. Hoje em dia só fica na memória aquilo que ganha repercussão midiática e o teatro é uma arte artesanal, geralmente sem espaço midiático. Yara Amaral foi a única atriz brasileira que recebeu três prêmios Molière e nas suas entrevistas relatava a dificuldade de encontrar trabalho; e olha que ela fez tv, mas jamais ganhou espaço ou destaque nesse último seguimento. Outra questão que está implícita numa premiação é o gosto de quem escolhe, ou seja, não se trata de ser o melhor, mas de receber um prêmio que foi dado por uma comissão que pode ter um olhar classicista, por exemplo. Digo isso porque grande parte dos prêmios que recebi foi para criações que se encaixam numa estrutura consagrada, ou seja, os julgadores premiam o passado. O mais perigoso disso tudo é que tal eleição desqualifica toda uma produção de novos autores, novas formas de se comunicar com o mundo. É uma faca de dois gumes receber um prêmio. Fundamental é ter consciência de porque o recebemos.

 

 

 

 

 Quais os sentimentos que brotam ao dirigir mais de quinze encenações?

 A cada trabalho que surge, procuro estabelecer novos desafios. A atual montagem da Artehúmus, por exemplo, será uma intervenção na rua – coisa que nunca fizemos. Teremos o desafio de transformar em arte/espetáculo os carros que passam, os ruídos, as pessoas que circulam, ou seja, o espetáculo será resultado da integração entre esses fenômenos e as criações dos atores. Enquanto sentimento, eu tenho um lema: os espetáculos passam, as pessoas ficam. O mais importante nesses processos é descobrir como lidar com cada artista. Só consigo o melhor de mim numa direção se abro espaço para conhecer o melhor de cada ator, de cada integrante da equipe artística.

 

 

 Também atuou em novelas e cinema?

 Sim, integrei o elenco de “Cristal” (SBT), “Agua na boca” (Band), além de atuar em cinema e em algumas minisséries para canais fechados.  Ultimamente, em função de escrever e dirigir muito, é quase impossível arrumar tempo para atuar, mas quando surgem trabalhos que não exigem muito tempo, eu dou um jeito na agenda. É mais uma fonte de renda, aliada ao desafio de atuar em veículos que não tenho tanto domínio.

 

 

 

 

 Diante o que já viveu no mundo artístico, você diria que não existe limites no campo da criatividade?

 Certeza. Não existe limitação, a não ser que você se engesse ou se deixe limitar por amarras ditadas por um sistema.

 

 

 Para finalizar nos fale dos seus projetos atuais e futuro!

 Para esse ano o que já tenho acertado é escrever três peças adultas e uma peça para crianças; darei aulas de dramaturgia na SP Escola de Teatro e na pós-graduação da Fainc – Faculdades Integradas Coração de Jesus, além de dirigir o novo espetáculo da Artehúmus. 

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