25/08/2015 às 13h46min - Atualizada em 25/08/2015 às 13h46min

Luan Cardoso

Para fechar com chave de ouro nesta que é a terceira entrevista o talentoso cineasta falará sobre cinema nacional

Thiago Santos

 Thiago Santos: Cineasta, Diretor da Quixó Produções e também Colunista na empresa Cine Alerta?

 Luan Cardoso: Isso! (Risos). Inventei de falar de cinema, já que eu assisto muito, e eu escrevia muito pra mim mesmo, ai um amigo meu, o Tiago Lamonica que é editor do Cine Alerta leu uma coisa que eu mandei pra ele e ele me convidou pra começar a escrever quinzenalmente e ai foi, estamos há mais de um ano fazendo já. Tive de dar uma pausa agora por conta dos projetos aqui na Quixó, mas escrever sobre cinema é sempre muito bom, e o Tiago é muito generoso comigo e sempre posso falar do que quero e como quero, ele sempre me dá muita liberdade, é bem massa.

 

 Qual linha de raciocínio sua graça costuma apresentar aos leitores por meio das palavras que representam seu pensar?

 Eu gosto muito de na minha coluna quinzenal – além das críticas que eu escrevo as vezes – fazer uma reflexão sobre os cineastas e suas obras e como uma série de elementos que acontecem com eles influenciam em suas obras, como a vida do cineasta e sua filmografia se conectam e como isso reflete a forma que o cinema se manifesta na vida de quem se permite viver para criar imagens em movimento, então é sempre assim um processo de pesquisa, de muito tempo buscando falar com pessoas e etc.

 

 Gosto da sua forma de pensar e por isso quero lhe convidar para que nesta entrevista venhamos falar em especial sobre a situação nacional em matéria de filmes. Aceita?

 Vish!! (Risos)

 

 Porque ainda o espectador opta pelo cinema internacional diante o cinema nacional?

 Essa é uma resposta longa e muito fincada na história política Brasileira e Norte-americana mesmo, que vai desde a Ditadura que sabotou o cinema de autor em nossas terras até os dias de hoje onde o cinema americano já é tão enraizado em nós que não nos permitimos assistir algo que esteja fora desse padrão. É algo complicado e que vai demorar mais uns 30 anos no mínimo pra deixar de existir, mas estamos sempre na luta, pois o que os realizadores brasileiros precisam é começar a fazer histórias que fazem sentido pra nós, que falem de coisas que nos tocam como filhos dessa terra. Não adianta o diretor fazer um filme de terror como sexta-feira 13 ou um filme de gangster como o Poderoso Chefão, pois não existem gangsters ítalo-americanos aqui no Brasil, existe o coronelismo nordestino, os problemas sociais, as desigualdades, as felicidades nossas que vão totalmente na contra mão do que pensam os Norte-americanos e não adianta fazer um filme assim porque tem público aqui que isso só reforça a idéia de que não sabemos fazer cinema, pois esse tipo de história não sabemos mesmo, mas acontece que na mentalidade brasileira está tão enraizado o esquema hollywoodiano que eu aposto que se pedir pra uma pessoa desenhar uma casinha ela vai fazer aquela que se parece muito com as Casas Vitorianas de madeira e com cerquinhas, típicas dos americanos. É terrível! O cinema americano tem coisas maravilhosas também e que devem ser assistidas, mas temos de ver todo tipo de cinema, não dá pra ser bitolado assim.

 

 Tempos atrás alguém citou que o grande trunfo do cinema internacional é o alto investimento. Então fui pesquisar e me deparei com obras produzidas lá com um orçamento menor do que obras produzidas aqui e o resultado em qualidade nem se compara. Quais seriam suas palavras diante este relato?

 Sempre vai se fazer cinema de baixo orçamento, isso no mundo inteiro, lá tem, aqui tem, na Argentina tem e etc. Aqui na verdade se faz muito melhor, desculpa ir contra a tua pesquisa. E não estou brincando. A maioria dos filmes mais premiados internacionalmente são brasileiros, e são filmes feitos com o mínimo, e digo o mínimo mesmo de recursos, coisa de R$150 mil reais, uma merreca, e são filmes muito bons. O grande lance é que não se tem a chance de se mostrar esses filmes. Imagina só que mais de 70% dos filmes produzidos aqui nem chegam a ser lançados! Isso é um absurdo, cara, tudo por causa desses filmes lá de fora que tomam as salas e acaba que não sobra nada pra nós que queremos mostrar nossos filmes e só! Imagina que dos 200 filmes que produzimos anualmente e vão pra tela – só estou falando desses em? – cerca de 70%  desses são obras primas, mesmo, enquanto isso em Hollywood são lançados mais de 600 filmes por ano, e desses 60, uns 7 são bons, e isso não sou eu quem falo não, é só olhar para  Oscar que todo ano tem 5 filmes com qualidade discutível concorrendo a melhor filme.

 Te falo, ninguém tem raça como no Brasil pra se fazer cinema, pois aqui comemos o “pão do diabo” e ainda assim nosso cinema tem alma, diz alguma coisa, dialoga com algo. OLHEM MAIS E PESQUISEM MAIS SOBRE O CINEMA BRASILEIRO. VERDADEIRAS OBRAS PRIMAS SÃO FEITAS AQUI. MESMO!

 

 Para o profissional Luan Cardoso quais os grandes trunfos do cinema nacional?

 Acho que eu já falei, mas reforço, acho que é a garra e o repertório de histórias, sei que tem muita gente original aqui no Brasil e que produzem coisas muito boas. Também tem muito coisa ruim é claro, pena que são essas que eles divulgam pra todo mundo. (Risos)

 

 E o que pode ser feito para que o mesmo seja apreciado pela grande maioria do público?

 Uma das maiores saídas seria o Governo através da Ancine – que é o órgão que organiza o cinema no Brasil – ser mais duro com as salas exibidoras. É um absurdo você ter 30 salas e colocar nas 30 o mesmo filme! Poxa, o cara pode até querer ver um filme diferente, mas como só está passando essa merda, eles pagam o ingresso e veem, então acaba que esses caras que tem grana obrigam as pessoas a verem seus filmes vazios e cheios de explosões. É um absurdo alguém ditar o que você deve gostar ou querer ver. Aposto que se as pessoas tivessem um repertório de verem filmes legais da Argentina por exemplo e tem ótimos filmes deles, eles gostariam de ver outros tantos, então eu já diria de cara que o maior inimigo do cinema brasileiro é o distribuidor privado, que por medo de ganhar menos dinheiro só coloca os grande filmes blockbuster em todas as suas salas. Além é claro, que se eu conseguir 3 salas pra passar o “Críticos Momentos”, por exemplo, que é um filmeco de 7 mil reais com um valor pra divulgação de mais 10 mil reais, nunca vai conseguir competir com os  “Vingadores” da Marvel que está em 300 salas e gastou no mínimo 30 milhões pra divulgar ele. O que as pessoas vão ver? Tende existir alguém pra regular isso, afinal eles é quem são os estrangeiros aqui e eles são inteligentes pra caralho, pois já condicionaram todos a só quererem ver esses filmes e nem quero aqui distribuir ódio contra esses filmes, pois filme é filme e todos merecem serem vistos, mas acontece que esses filmes ameaçam o cinema de arte, daqui a pouco cinema não tem mais diálogo novamente, nem ator, só efeito especial, e isso é uma grande afronta ao cinema feito por gente de verdade, não acha?

 

 Hollywood mostrou para o mundo todos os elementos necessários para se produzir uma obra tendo ela, começo, meio e fim. Sendo uma receita simples no âmbito necessário somente a criatividade não seria de grande proveito aprender com os mesmos?

 Tá errado esse teu pensamento, desculpa. Hollywood aprendeu a ganhar dinheiro e nada mais. Eles pegaram algo que é mais velho que andar pra traz e maximizou pra granar dinheiro. Funciona como uma fabrica, faz barato e vende caro, vende em alta, somente. Sempre se aproveitaram do que era da moda ou da tendência. Somente.

 

 Dias atrás eu assistia ao genial seriado True Detective. Na sua opinião como se é possível produzir uma obra semelhante a esta em matéria de originalidade e fascínio? Poderá um dia em território nacional obras assim no quesito genialidade surgirem?

 Já existe, meu caro. Mesmo e existe no mundo todo. True Detective é realmente muito bom, mas você só conhece esse e não conhece “O Lobo atrás da Porta” que é um puta suspense perfeito Brasileiro porquê? Porque o True Detective é distribuído pela maior rede de TV do Universo, que é a HBO, quem distribuiu o “Lobo atrás da Porta”? Uma micro distribuidora que se conseguiu botar o filme durante menos de 2 semanas em 30 cinemas no brasil todo, saiu muito vitorioso. Acho maravilhosa a série norte-americana, mas percebe como ela mesma destrói a possibilidade de você que é um cara muito instruído descobri um filme genial como esse feito aqui do nosso lado?

 

 Se fosse dado a sua pessoa o poder administrativo quanto ao cinema nacional quais seriam suas decisões?

 Bem o estilo do que falei ai em cima. Certamente não sou a pessoa certa pra fazer isso, mas se desse esse poder pra uma galera que conheço e seriam as pessoas corretas pra isso, fariam a mesma coisa que eu falei aqui e que tantos outros cineastas falam todo dia.

 

 Querido, para fecharmos com chave de ouro. Primeiro lhe agradeço por toda atenção e gentileza. Sendo assim, se importa em expressar palavras que sejam moldadas na inspiração para o amigo leitor que também deseja produzir filmes?

 Cara, como disse no começo da entrevista, siga fazendo, realizando, não ligue para os obstáculos e seja um bom observador, tanto de problemas com o cinema quanto com o as coisas que estão no nosso dia a dia. Treinar o olho é o mais importante. Valeu, Thiago! Obrigado pelas Perguntas.

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