DivulgaçãoO título deste artigo é um retrato dos dias atuais. Antes estávamos acostumados a receber ligações pedindo resgate de familiares, algo que, no senso comum, tínhamos informação que se tratava de uma estratégia do tráfico, das pessoas reclusas nos diferentes presídios do país, o que, convenhamos, já revelava o descredito desses espaços. E este momento não faz parte do passado, estamos convivendo com novas formas de golpe, ou pelo menos tentativas de golpe. Se puxar pelo assunto numa roda de conversa, irão aparecer várias histórias de tentativas de golpe.
Vamos reconhecer algumas que já vivenciamos: doação de móveis para pastoral social da igreja, mas o objetivo do golpe é reconhecer o endereço, a rotina da família e, posteriormente, roubar aquela moradia indicada pela equipe da pastoral social; mensagem no celular oferecendo emprego, com facilidade de acesso, horário flexível e alta remuneração. Ou ainda, temos os golpes com sequestro de contas de redes sociais (perfil falso) para venda criativa de objetos/móveis inexistentes.
E, para além da criatividade dos golpistas, temos inatividade dos cidadãos de bem que não identificam os golpes e sequer sabem se proteger das diferentes fraudes.
Mas como se proteger se temos golpe atrás de golpe? A sua conta bancária: seguro para proteção digital. A rede de banco implementou o serviço de Seguro de Proteção Digital para evitar transações indevidas (TED, DOC, Pix, recarga de celular, pagamentos de boletos). O serviço terá custos que serão cobrados mensalmente;
No caso de SMS: com mensagens de texto emergencial para atualização de dados. Esse golpe é caracterizado por roubar os dados pessoais. Como não cair? Basta não abrir e bloquear o número.
Dentro do ambiente corporativo, as empresas estão investindo milhares de reais em proteção de seus bancos de dados e em capacitação constante para os colaboradores identificarem fraudes. Sempre em busca de proteção e conformidade das informações das instituições, mas, ao observamos o cenário noticiado, percebemos que ainda permanecem golpes atrás de golpes, inclusive no governo.
Apesar da ampla divulgação dos diferentes tipos de golpe, somos envolvidos na pretenciosa ilusão do controle e ousamos proferir “isto nunca vai acontecer comigo’’. A ilusão do controle é estudada por neurocientistas, psicólogos e amplamente discutida na filosofia. Vejamos René Descartes, com sua celebre afirmação ‘’penso, logo existo’’. Acredito que muitas vezes você já ouviu essa afirmação, mas poucas vezes ouviu a resposta dada pelo filósofo a sua própria frase que consiste em “Existe alguma coisa que eu possa saber com certeza’’.
Quando temos ilusão do controle para identificar golpes, de conhecer até as pedras do caminho que nos leva direto para casa, recaímos na prepotência imposta pelo ego. Se por outro lado aprendêssemos a dominar o ego, com sua prepotência da ilusão do controle, poderíamos desfrutar da humildade das mãos vazias, estarmos abertos para desconfiar sempre dos nossos pensamentos e das verdades instituídas ao longo do caminho, e poderíamos reconhecer os diferentes golpes, pois teríamos coragem para compreender que, apesar de nascermos de mãos cerradas, partiremos de mãos vazias e apesar de nossas escolhas.
Esse desejo infinito da ilusão do controle provoca em alguns o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), e nos afasta de perceber que o principal controle não é o que se tenta obter sobre o mundo, mas sim de controlar o ego.
(*) Dinamara Pereira Machado é diretora da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.
