Foto: Shutterstock. Além dos impactos emocionais e psicológicos, em virtude da catástrofe que acomete o estado do Rio Grande do Sul, grandes são as preocupações com a saúde da população e dos animais expostos à água contaminada. Uma das principais situações de alerta são as doenças infecciosas, haja vista a grande diversidade de doenças que, através da água, das condições de aglomeração e vulnerabilidade em que as pessoas e os animais se encontram, apresentam maior facilidade de propagação.
Neste cenário, a água presente nos esgotos se mistura à água e à lama formada, se espalhando por todos os lugares e levando junto uma grande variedade de agentes infecciosos.
A médica veterinária Luciana Salini Abrahão Pires, professora do Centro Universitário UniBrasil, enfatiza que, além das doenças próprias de cada espécie, muitas podem ser transmitidas entre as espécies animais e os seres humanos. São as chamadas doenças zoonóticas ou zoonoses.
“Microrganismos como bactérias, protozoários e vírus podem encontrar condições propícias para a sua manutenção no ambiente e também são mais facilmente disseminados”, pontua a professora.
Dessa forma, doenças como leptospirose, doenças diarreicas agudas, cólera, difteria, Hepatite A, toxoplasmose, infecções respiratórias e de pele e verminoses são algumas das preocupações. Além disso, a raiva, o tétano e acidentes com animais peçonhentos como cobras, aranhas, escorpiões, entre outros, se somam às principais doenças em situações de enchente.
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Doenças transmitidas por mosquitos, como por exemplo a Dengue e a Febre Amarela, também aumentam o risco durante o período de chuvas, por favorecerem o desenvolvimento dos mosquitos transmissores”, complementa a professora.
Transmissão de doenças entre espécies
Foto: Shutterstock.
Luciana acrescenta que os animais também são vítimas e expostos a diversos agentes infecciosos como a leptospirose, a toxoplasmose, a esporotricose, giardíase, verminoses, tétano, doenças de pele, além de doenças infecciosas virais.
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Algumas doenças possuem ciclos de transmissão entre animais da fauna silvestre, ou entre animais da área rural. Nestas condições de enchentes, temos o deslocamento dos animais, propiciando uma transmissão de diversas doenças entre as espécies”, explica
. Os animais também estão mais sujeitos a doenças transmitidas por mosquitos, uma vez que as condições ambientais se tornam favoráveis ao desenvolvimento e procriação de mosquitos transmissores.
“Sem falar que, tanto animais como os seres humanos estão sujeitos a uma diversidade de traumas e ferimentos, expostos a descargas elétricas levando a choques, e também sujeitos à hipotermia”, complementa Luciana.
Mesmo os que foram resgatados precisam de cuidados quanto à presença de pulgas, piolhos e carrapatos. Esses podem causar grandes infestações ambientais, além de serem causadoras de diversas doenças internas aos animais.
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Devido às condições de abrigo com grandes quantidades de animais, devem ser tomados cuidados com parasitos externos e com ácaros causadores de sarnas, uma vez que são transmitidas pelo contato direto com os animais ou das camas que podem alojar estes microrganismos. A escabiose é uma sarna que acomete animais e também os seres humanos”, ressalta
. Medidas de prevenção
A boa notícia é que, tanto para humanos quanto para os animais, existem medidas preventivas, como a administração de vacinas, explica a professora do Curso de Medicina Veterinária.
“É o caso da Raiva para cães e gatos e da leptospirose para cães. Os gatos podem ser acometidos pelo vírus da Leucemia Viral Felina, a FelV, uma doença que leva o animal à queda da imunidade ficando vulnerável a outras doenças, e que também pode ser prevenida com vacina específica“. Por tudo isso, manter os animais em ambientes seguros e higienizados é fundamental.
“Os animais que recebem alimentação adequada e que possuem um acompanhamento veterinário frequente têm maiores chances de combaterem os agentes infecciosos em um primeiro momento”, orienta Luciana.
No entanto, a leptospirose é uma das doenças de grande preocupação, por ser transmitida pelo contato com a urina do rato. No momento da enchente, a bactéria
Leptospira se mistura com a água e a lama, e tanto os seres humanos quanto os demais animais podem contrai-la se a água contaminada entrar em contato com algum ferimento na pele.
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Desta forma, deve-se evitar ao máximo o contato direto com a água das enchentes. O consumo de alimentos e água também deve ser feito com todo o cuidado, evitando possíveis doenças transmitidas pela ingestão de água e alimentos contaminados”, salienta o médico veterinário e professor do UniBrasil, André Reis.
Neste aspecto, ele destaca que a saúde e o bem-estar dos animais, dos seres humanos e do meio ambiente estão intimamente relacionadas. O desequilíbrio de uma das partes acarreta o desequilíbrio das outras.
Cuidados para proteger os animais Pensando nisso, André Reis lista os principais cuidados para proteger e salvar os pequenos animais em casos de chuvas fortes e possíveis enchentes.
“Proteger e salvar pequenos animais como cães, gatos e coelhos durante chuvas fortes e possíveis enchentes requer planejamento, mas com intervenção rápida. Algumas ações precisam ser tomadas de forma antecipada e preventiva”, reforça o professor
. Para tal, ele divide 3 principais itens:
- ter os animais com vacinação em dia;
- dispor de um plano de evacuação, com coleiras e caixas de transporte;
- ter dispositivos de identificação dos animais, como placas em coleiras ou microchipagem, além de kits de alimentos e medicamentos sempre de fácil acesso.
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No momento da evacuação é importante lembrar que a vida dos animais depende de você. Logo, deixá-los presos ou amarrados é condená-los à morte”, considera a professora Luciana.
Pós-resgate Uma vez resgatados e salvos, vem a etapa do pós-resgate, em que os animais estão longe dos seus familiares, em estado de estresse elevado e com a saúde debilitada. Portanto, as medidas iniciais visam a manutenção da segurança e da estabilização de condições vitais.
“Os animais precisam ser avaliados quanto à presença de ferimentos visíveis que necessitem de intervenções imediatas, identificação de estados de desidratação ou de estados de maior vulnerabilidade como o caso de animais filhotes ou idosos”, pontua a professora Luciana
. Na sequência, precisam ser examinados para a investigação de possíveis doenças infecciosas que possam colocar o animal em risco e também, a fim de evitar a proliferação de doenças a outros animais e aos seres humanos.
“Ao mesmo tempo em que as equipes de trabalho atuam nesta etapa de triagem e estabilização, é necessário que haja a busca paralela pela identificação de possíveis lares provisórios para os animais. Vale ressaltar que todas as pessoas envolvidas nos resgates utilizem de dispositivos de proteção para evitar acidentes, como mordidas e arranhões no momento das capturas”, acrescenta
. Importância do médico veterinário Nestas condições, o médico veterinário tem um papel fundamental, pois é o profissional que detém o conhecimento para atuar diretamente no processo de triagem e cuidado aos animais, assegurando as condições de bem-estar e saúde dos mesmos, justifica o professor André.
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Nestes casos, o profissional estará apto a identificar situações de riscos e doenças, realizar os procedimentos para estabilização e tratamento e indicar as principais medidas de prevenção e controle para evitar contaminações dos animais e também prevenir a contaminação do meio ambiente e dos seres humanos”, complementa.
Educação ambiental Por fim, ambos os professores reforçam que situações de catástrofes podem ter os efeitos minimizados se forem adotadas medidas preventivas. No entanto, para isso, é importante destacar que a educação ambiental deve ser constante, informando e alertando a população sobre os riscos e medidas de prevenção de doenças animais e também de possíveis doenças zoonóticas.
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É fundamental atentar-se, também, à exposição dos alimentos à água da enchente. Como citado anteriormente, há uma grande contaminação da água que pode contaminar os alimentos, preparados ou não, e, por isso, é extremamente importante monitorar se os alimentos foram expostos à água antes de prepará-los e ofertá-los. Nos casos de contaminação, devem ser descartados e não devem ser consumidos nem por animais, pois estes também podem adoecer”, orienta o médico veterinário e professor do UniBrasil.
André esclarece que, mesmo após a água baixar, o ambiente permanece sujo e contaminado. Por isso, é extremamente importante realizar a limpeza e desinfecção das áreas para que possam servir como locais seguros para preparo e armazenamento de alimentos.
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Diante disso, é importante que tenhamos uma visão ampla das medidas de controle, vigilância e políticas públicas para a manutenção da saúde e bem-estar de todas estas partes adotando a abordagem da Saúde Única. Para que esta abordagem seja eficaz, é essencial que existam profissionais de diversas áreas trabalhando juntos na promoção do cuidado com animais, com as pessoas e com o meio ambiente”, finaliza e reforça a professora Luciana Pires.
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Pedro Henrique de Lima Moraes
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