22/05/2024 às 19h34min - Atualizada em 23/05/2024 às 00h02min

Premiado em diversos festivais, documentário acompanha a luta de uma mulher trans para expressar sua fé

Dirigido por Suellen Vasconcelos e Tati Franklin, longa chega aos cinemas em 30 de maio

Isidoro B. Guggiana
Patrícia Rabello
Mel Rosário em 'Toda Noite Estarei Lá' - crédito: Descoloniza Filmes
Filmado ao longo de quatro anos, entre 2018 e 2022, TODA NOITE ESTAREI LÁ, de Suellen Vasconcelos e Tati Franklin, acompanha a jornada de Mel Rosário, de 58 anos, que após sofrer uma agressão transfóbica, todas as noites, se põe diante da igreja neopentecostal que a impede de frequentar. O documentário é uma produção da Graúna Digital, em associação com Filmes Fritos, distribuído pela Descoloniza Filmes, e chega aos cinemas em 30 de maio.

As diretoras contam que conheceram Mel por meio de uma pequena participação no filme de um amigo, Thiago Moulin, que aqui assina a produção executiva. “Depois desse encontro ele ficou muito impactado com a história dela e produziu um curta-metragem contando seu caso com a igreja. Nesse processo ele se deu conta que a história da Mel renderia um longa-metragem, mas entendeu que não dirigiria o filme, e precisava encontrar alguém para assumir a direção desse novo projeto. Nessa época a gente estava com o Transvivo (um curta sobre transmasculinidades) no circuito de festivais. Ele então fez o convite para dirigir o documentário”, contam as cineastas.

O longa foi premiado em diversos festivais, como 30º Festival de Cinema de Vitória com os prêmios de Melhor Interpretação, para Mel Rosário, e o Troféu Vitória de Melhor Filme, pelo Júri Popular, Olhar de Cinema 2023 (Melhor direção e Melhor atuação) e 17o For Rainbow (Melhor atriz, Melhor Trilha Sonora, Melhor direção de arte), além de ter sido exibido no Mix Brasil, Festival do Rio e Wicked Queer: The Boston LGBT Film Festival! (EUA).  A data de lançamento nos cinemas brasileiros coincide com o Feriado de Corpus Christi, dia em que ocorre a Marcha Para Jesus, evento marcado pela manifestação da fé cristã, e seguirá em cartaz em junho, o mês do Orgulho LGBTQIA+. 

Antes desse filme, Mel já tinha participado de dois curtas e um telefilme, mas ela ficou animada em protagonizar um longa-metragem. “Ela dizia que era importante contar essa história naquele momento e que o movimento que o filme traria para sua vida também era uma forma dela se proteger porque acreditava que a igreja iria recuar com as ameaças se soubesse que fariam um filme sobre este conflito. Ela dizia que ‘eles vão pensar duas vezes antes de fazer alguma coisa comigo agora que vocês estão filmando’.  Estar em evidência era uma forma de proteção também”, explicam. 

Filmar na porta igreja, onde Mel fazia seus protestos, era sempre muito tenso e insalubre. Além disso, as diretoras também viveram com a protagonista idas e vindas dos processos judiciais e o perdurar das injustiças. "Ficamos imersas nesse processo do filme por muito tempo, tanto pelo processo do filme em si quanto pelos dois anos de Pandemia. O tempo era um fator que era um aliado do filme e é importante lembrar que a gente só conseguiu filmar por tanto tempo porque reduzimos a equipe e assumimos outras responsabilidades."

Apesar da história de Mel ser única, para as cineastas, representa os dilemas que a nossa sociedade vive. Acompanhando sua trajetória a gente vê um rastro do ultraconservadorismo e da violência conta uma determinada população. 

"A Mel é uma travesti defensora dos direitos humanos. Ela enfrenta todos os dias uma sociedade que oprime e desumaniza pessoas LGBTQIAP+. Muita gente se apoia nos discursos fundamentalistas de algumas igrejas para justificar a LGBTFOBIA. A gente costuma dizer que a Mel é uma outsider tanto no contexto da igreja e da religião com a qual ela se identifica, porque essa igreja não acolhe pessoas como ela,  quanto no contexto progressista que tem extrema dificuldade de dialogar com as religiões neo pentecostais, por exemplo."

A luta da Mel propõe um encontro entre esses dois mundos e as documentaristas creem que quando as pessoas conhecem essa história elas reavaliam seus papeis nesses contextos. "Então, enquanto diretoras lésbicas, a gente acredita que que só existe transformação através de intervenção. Acreditamos que esse filme propõe um diálogo com quem pensa que existem vidas que valem menos que outras e que se não contarmos essas histórias, se não existirmos nas telas, se não construirmos um imaginário diferente, uma memória dessas vidas, a gente não muda essa realidade. Quantas heroínas travestis existem no cinema brasileiro? Quantas travestis a gente conhece? Quantas frequentam a nossa casa? A Mel também está nesse lugar de representar uma população sub-representada no nosso imaginário e nas nossas telas."

TODA NOITE ESTAREI LÁ será lançado no Brasil pela Descoloniza Filmes.

Sinopse
Após sofrer uma agressão física por transfobia na igreja evangélica que frequentava, Mel Rosário, 58, reivindica seus direitos fazendo protestos em frente à igreja que a impede de frequentar os cultos. Enquanto luta por justiça, Mel encontra brechas para se reinventar e sobreviver no Brasil bolsonarista. 

Ficha Técnica 
Com MEL ROSÁRIO 
Direção e Roteiro: SUELLEN VASCONCELOS & TATI FRANKLIN 
Produção Executiva: THIAGO MOULIN 
Direção de Produção: SUELLEN VASCONCELOS, TATI FRANKLIN & THIAGO MOULIN 
Câmera: TATI FRANKLIN 
Som Direto: SUELLEN VASCONCELOS 
Montagem: SHAY PELED & TATI FRANKLIN 
Edição de Som: MARCUS NEVES 
Mixagem: ARIEL HENRIQUE 
Colorgrading: CLANDESTINO 
Trilha sonora original: JOANA BENTES 
Produtora Associada: FILMES FRITOS 
Produtora: GRAÚNA DIGITAL 
Distribuidora: DESCOLONIZA FILMES 

Sobre as diretoras 
Suellen Vasconcelos
, 41, é Mestre em Educação e Bacharel em Rádio e TV. Professora de audiovisual, e curadora de mostras e festivais no Espírito Santo, Brasil. Atua como diretora, montadora e som direto na Filmes Fritos, produtora independente de Vitória-ES. Toda Noite Estarei Lá, seu primeiro longa-metragem recebeu 7 premiações incluindo melhor direção no 12º Olhar de Cinema. 

Tati Franklin, 31, é formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Espírito Santo e atua como diretora e montadora. Realizou curtas-metragens premiados e exibidos em festivais nacionais e internacionais e em 2023, recebeu prêmio de melhor direção no 12º Olhar de Cinema pelo seu primeiro longa-metragem, Toda Noite Estarei Lá (72’, doc, 2023). 

Sobre a Graúna Digital 
Fundada por Thiago Moulin e Lucas Vetekesky, a Graúna Digital (antiga Pai Grande Filmes) é uma produtora especializada em documentários com temáticas sociais. Em 2024, além dos lançamentos comerciais dos longas “Toda Noite Estarei Lá” e “Meu Pai e Eu”, também está produzindo a série doc “Atingidos” (5 x 26’), sobre o crime ambiental contra o Rio Doce (ES/MG), que em 2025 completará 10 anos. 

Sobre a Descoloniza Filmes 
A Descoloniza Filmes é uma distribuidora e produtora paulistana fundada por Ibirá Machado em 2017 e lançou comercialmente seu primeiro filme em 2018, a produção  argentina “Minha Amiga do Parque”, de Ana Katz, que teve seu roteiro premiado no Festival de Sundance. Na sequência, ainda em 2018, distribuiu o filme “Híbridos - Os Espíritos do Brasil”, de Priscilla Telmon e Vincent Moon, o chileno “Rei”, de Niles Atallah, que levou menção honrosa do Festival de Rotterdam, e “Como Fotografei os Yanomami”, de Otavio Cury. 

Em 2019, a Descoloniza codistribuiu junto à Vitrine Filmes a obra “Los Silencios”, de Beatriz Seigner, que fez sua estreia na Quinzena dos Realizadores, de Cannes, seguindo com a distribuição de “Amazônia - O Despertar da Florestania”, de Christiane Torloni e Miguel Przewodowski, e encerrou o ano com “Carta Para Além dos Muros”, de André Canto, que foi licenciado à Netflix e ocupou o Top 10 da plataforma por mais de duas semanas. 

Em 2020, devido ao cenário pandêmico, a distribuidora lançou comercialmente diretamente nas plataformas digitais apenas o filme “Saudade Mundão”, de Julia Hannud e Catharina Scarpelini, obra contemplada com o Edital de Distribuição da Spcine, de 2019. O cenário retomou parcialmente em 2021, quando a distribuidora lançou a obra “Castelo de Terra”, de Oriane Descout, “Cavalo”, de Rafhael Barbosa e Werner Salles, “Parque Oeste”, de Fabiana Assis,e “Aleluia, o canto infinito do Tincoã”, de Tenille Barbosa. 

Em 2022, a Descoloniza retomou os lançamentos e levou aos cinemas as obras “Sem Rosto”, de Sonia Guggisberg, “Gyuri”, de Mariana Lacerda, e “Aquilo que Eu Nunca Perdi”, de Marina Thomé. Prepara ainda o lançamento de “Êxtase”, de Moara Passoni. 

Em 2023, a distribuidora lançou nos cinemas o filme “Muribeca”, de Alcione Ferreira e Camilo Soares, “Para’í”, de Vinicius Toro, “Espera”, de Cao Guimarães, “Seus Ossos e Seus Olhos”, de Caetano Gotardo, “Luz nos Trópicos”, de Paula Gaitán, “Máquina do Desejo”, de Lucas Weglinski e Joaquim Castro, “Para Onde Voam as Feiticeiras”, de Eliane Caffé, Carla Caffé e Beto Amaral, e “Incompatível com a Vida”, de Eliza Capai. 

Já em 2024, já estão confirmados os lançamentos de “Amanhã”, de Marcos Pimentel, “Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos”, de Daniela Broitman, “Toda Noite Estarei Lá”, de Tati Franklin e Suellen Vasconcelos, “A Música Natureza de Léa Freire”, de Lucas Weglinski, “Maputo Nakuzandza”, de Ariadne Zampaulo, “Peréio eu te odeio”, de Allan Sieber e Tasso Dourado, e “Empate”, de Sérgio Carvalho. 

Como produtora, a Descoloniza absorveu a experiência pregressa de Ibirá Machado como produtor executivo de longas e curtas e assumiu a coprodução do filme “Nós Somos o Amanhã”, de Lufe Steffen, contemplado nos editais do Proac Expresso 2021 e de finalização da Spcine 2021.

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ISIDORO BECKER GUGGIANA
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