09/11/2023 às 16h24min - Atualizada em 09/11/2023 às 20h02min

Coçar os olhos pode provocar doença grave

Ação comum pode causar o ceratocone, alteração ocular que está entre as maiores causas de transplantes de córnea em todo o mundo

Natalia Cunha
www.hobr.com.br
Pexels
Coçar os olhos – um ato relativamente simples e muitas vezes involuntário - pode provocar uma doença ocular que aparece entre as maiores causas de transplantes de córnea em todo o mundo: o ceratocone.  A patologia  é uma alteração progressiva na córnea - a estrutura anterior dos olhos, que funciona como uma lente para focalizar a imagem – que sofre um afinamento e aumento da curvatura, adquirindo uma forma cônica. Segundo a Cornea Research Foundation of America, a cada 100 mil pessoas no mundo, entre 50 e 200, aproximadamente, desenvolvem a enfermidade. No Brasil, dados do Ministério da Saúde, mostram que 150 mil brasileiros são afetados pelo problema anualmente.  O ceratocone pode levar a uma acentuada baixa de visão, não tem cura, mas há vários tratamentos disponíveis, todos com o objetivo de controlar a progressão, promover a reabilitação visual e prevenir a perda permanente da visão", explica o oftalmologista Luiz Alberto Rosa Barbalho, especialista em córnea, cirurgia refrativa e lentes de contato do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), uma empresa do Grupo Opty.
O ceratocone costuma manifestar-se na infância ou adolescência e atinge a estabilização por volta dos 35 anos. No entanto, estudos indicam que quando a doença se desenvolve na infância, a progressão tende a ser mais rápida do que em adultos. Isso pode resultar em sérias deficiências visuais, afetando o desenvolvimento e o futuro da criança, se não for descoberto e tratado precocemente. A evolução é gradual, não apresenta inflamação aguda e é indolor.  Os sintomas variam de acordo com o estágio da doença, sendo os mais comuns o surgimento de erros de refração, como miopia e astigmatismo, barramento da visão, baixa acuidade visual, fotofobia e dificuldade de enxergar em ambientes com pouca luz.
Entre as principais causas do ceratocone, estão os fatores genéticos – ainda que pessoas que não apresentem nenhum caso da doença na família possam desenvolver o quadro - e o hábito de coçar os olhos, que deve ser evitado. Para isso, além do acompanhamento oftalmológico, é necessário associar o tratamento com especialistas de outras áreas como alergista, pediatra, otorrinolaringologista ou dermatologista, conforme for caso, para tratar possíveis alergias oculares, rinites alérgicas ou dermatites atópicas, que são alergias sistêmicas do organismo.Apesar do componente genético,na maioria dos casos, a alergia ocular é um importante fator de risco, pois a fricção crônica dos olhos pode acelerar a progressão da doença. No Brasil, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 35% da população sofre com algum tipo de alergia e sete em cada dez desenvolvem alergia ocular. Assim, alérgicos precisam redobrar os cuidados para reduzir a coceira dos olhos, além de fazer consultas regulares com o oftalmologista”, aponta o médico.
Se o paciente alcançar uma boa visão, só os óculos podem resolver o problema. Porém, se a visão não for satisfatória, a opção é realizar os testes de lentes de contato, que ajudam a corrigir a optica do ceratocone e permitem uma visão mais nítida.  Em casos moderados a graves, com piora das curvaturas, podem ser tratados cirurgicamente. Tanto o crosslinking - técnica considerada mais moderna para o tratamento e estabilização do ceratocone – quanto o Anel de Ferrara são tratamentos eficientes em permitir uma melhora na visão. O transplante é o último recurso, sendo necessário quando o paciente apresenta uma curvatura muito extrema, um afinamento grande ou alguma cicatriz na córnea. Dados da Associação Brasileira de Transplante dos Órgãos apontam que, dos mais de 23 mil transplantes realizados ao ano no país, cerca de 13 mil são de córnea e o ceratocone está entre as principais causas. Dos 328 pacientes inscritos no Banco de Olhos do Distrito Federal que esperam por um transplante de córnea, 106 são por ceratocone, o que representa 32% do total, a maior demanda atualmente.
Apesar disso, em torno de 15% das pessoas que recorrem ao transplante de córnea costumam apresentar rejeição ao órgão. Para esses casos complexos, a solução costuma ser a ceratoprótese. O modelo mais utilizado no mundo é a ceratoprótese de Boston,  dispositivo importado. Recentemente, pesquisadores do Departamento de Oftalmologia da EPM/Unifesp criaram uma prótese 100% nacional,  composta de material biocompatível, polímero de acrílico (PMMA) e titânio 3D impresso, que tem custo reduzido e se adapta à córnea danificada do próprio paciente, dispensando doadores. Para evitar chegar a este extremo, é fundamental fazer consulta e exames de rotina com seu oftalmologista que, se necessário, irá encaminhar o paciente a um especialista em córnea e ceratocone. E fica o alerta: não coce os olhos, isso pode evitar muitos problemas no futuro”, finaliza o Dr. Luiz Alberto Barbalho.
 

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