17/02/2012 às 18h36min - Atualizada em 03/05/2012 às 18h36min

Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia!

Em 1989 passou um furacão antológico pela “Marquês de Sapucaí”, o “Sambódromo” carioca.

Nando Pires

“Quem gosta de miséria, é intelectual!” Sob a guarnição dessa sapiente frase antropológica, sociológica, política e humanística do grande pensador brasileiro, o carnavalesco “Joãozinho Trinta”, a “Beija-Flor de Nilópolis” conquistou o vice-campeonato do maior carnaval do mundo, inclusive sobrepujando a minha escola predileta, a “Mangueira”.

Contudo, naquele ano realmente imperou o mérito da genialidade de um dos mais marcantes sambas-enredo da história, que intitulado como “Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia” não tratava apenas do lixo físico, mas também dos lixos moral, mental e espiritual que cria uma multidão de marginalizados, os mendigos, os loucos, os assaltantes e as prostitutas.

“Sou na vida um mendigo, da folia eu sou rei. Sai do lixo a pobreza. Euforia que consome. Se ficar o rato pega. Se cair urubu come.” Por esse pequeno trecho da letra, pode-se perceber a profundidade dessa composição, que contesta a leviandade exacerbada das festividades e da folia, ao mesmo tempo que também é completamente complacente e permissiva sob o mesmo ponto. Interessante, né?

Outra peculiaridade marcante daquele desfile foi a proibição da exibição da imagem do “Cristo Redentor” que figurava num dos carros alegóricos, situação que foi criativamente contornada através da cobertura da estátua com um grande plástico preto e com a colocação de uma enorme faixa escrita com latentes letras garrafais, “Mesmo Proibido. Olhai Por Nós!”.

Ainda na esteira do samba, sobretudo do carioca, não há como deixar de falar de um gaúcho! Falo do político já falecido “Leonel Brizola”, que foi prefeito de “Porto Alegre”, governador do “Rio Grande do Sul” e posteriormente duas vezes governador do estado do “Rio de Janeiro”, quando já em seu 1º mandado construiu e inaugurou o famoso “Sambódromo” (em 1984), que ostenta projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, fora da época do carnaval funciona como uma grande escola e através do qual, também foi cortado um grande e dispendioso clientelismo nocivo que havia anualmente na contratação de toda a estrutura móvel e temporária para a realização dos desfiles das escolas de samba. Interessante também, né?

Vêem como no Brasil o carnaval é realmente levado a sério? Mas ainda assim, o ano por aqui só começa depois dessa festa e deixar todos os demais assuntos afora dessa “seriedade”, não me parece muito “sério”… O fato é que certas tradições se repetem quase que espontaneamente e são muito difíceis de ser mudadas.

E como o ritmo desse final de semana não será outro se não o do carnaval, passo apenas a desejar que esses dias festivos sejam alegres, revigorantes e que mesmo no calor do momento, os foliões percebam que o amanhã virá e que vindo, sem arrependimentos será muito melhor!

Feliz ano novo!

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