30/03/2012 às 17h59min - Atualizada em 03/05/2012 às 18h09min

Millôr Fernandes – O Brasil Perde um Gênio!

Essa cabeça abençoada é a quem damos adeus e hoje a literatura ocupa o usual espaço da músicas

Nando Pires

“Não quero ser famoso, quero ser notório!” Eis uma de suas auto definições que agora, após o falecimento, seu filho traz à tona para nós, o público que de forma presente, mas distante, convivia com sua vasta obra.

Um daqueles brasileiros que dos bastidores ajudou a moldar a história de nosso país, muito embora jamais tivesse pretensões políticas e inclinações religiosas, mas na essência de sua liberdade acabava por transcrever fatos e episódios da forma que apenas os dissociados dos interesses e libertos quanto aos ideais e preconceitos podem fazer.

Comediante? Na falta de defini-lo com apenas por uma palavra ou ofício, a imprensa veio a noticiar sua morte dessa forma, mas na verdade se trata de um “pensador”, porque no drama, na comédia, na literatura, na dramaturgia ou através da imprensa, o ele que mais fez foi acumular, digerir, criar e regurgitar uma obra ampla, rica e expressa em pensamentos muito bem “sacados”, repleto de colocações cirurgicamente precisas.

Para se ter uma ideia, seu nome que foi proveniente da grafia confusa quando da expedição de seu documento (o cartorário escreveu Milton de forma em que se lia Millôr), nome que possivelmente ninguém ou muito poucos assim foram batizados, mas que hoje consta dos dicionários ortográficos brasileiros. Essa palavra singular que se dignifica a identificar apenas uma pessoa, hoje consta dos dicionários de todo o país o reverenciando pela sua importância.

Abaixo segue uma dúzia frases de Millôr Fernandes que selecionei para ilustrar brevemente seu estilo irreverente e sofisticado de pensamento acurado:

1.   “Acreditar que não acreditamos em nada é crer na crença do descrer.”

2.   “Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.”

3.   “Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.”

4.   “De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.”

5.   “Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.”

6.   “Inúmeros artistas contemporâneos não são artistas e, olhando bem, nem são contemporâneos.”

7.   “Jamais diga uma mentira que não possa provar.”

8.   “O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde.”

9.   “Viver é desenhar sem borracha.”

10. “Não ter vaidades é a maior de todas.”

“Há duas coisas que ninguém perdoa: nossas vitórias e nossos fracassos.”

 “O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O socialismo é o contrário.”

Como é evidente, sob certos pontos de vista é possível interpretar algumas dessas frases como humorísticas, mas ao prestar mais a atenção vê-se que após os risos provocados existem reflexões muito profundas e verdadeiras.

Essa cabeça abençoada é a quem damos adeus e hoje a literatura ocupa o usual espaço da músicas nestas minhas linhas, por conta dessa grande perda que experimentamos, infelizmente… Mas sua numerosa obra permanece e está facilmente acessível ao procura-las, de forma que sugiro sua leitura e pesquisa com muita convicção em sua grande qualidade. E já que o momento é o da sugestão, passo a propor também uma trilha sonora para acompanhar sua leitura. Quem acham de ler Millôr Fernandes ao som de Secos & Molhados que ontem fez um show em comemoração dos 40 anos do 1º registro do grupo?

Espero que a pedida agrade e desejo a todos um ótimo e revigorante final de semana!

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