Imagem gerada por IA“Joguei a noite toda, quando dei por mim já eram 6h da manhã e eu precisava me arrumar para ir trabalhar, e sem ter dormido absolutamente nada.”, revela um apostador de plataformas online, que pediu para não ser identificado.
Aos 38 anos, Antônio Augusto (nome fictício do apostador), se considera um jogador não um apostador. Assalariado, ele vive em uma kitnet em Altamira, no interior do Pará, que divide com um amigo. No imóvel não há luxo, apenas móveis e objetos para uma vida simples, sem nenhum conforto, mas o celular de última geração é a ferramenta de “trabalho” dele, explica: “Se o celular não for bom, com um pacote de internet que me permita jogar sem o sinal ser interrompido, eu não consigo ganhar.”.
A febre dos jogos e apostas online é a mais nova mania entre os brasileiros. Uma pesquisa divulgada pelo Datafolha em janeiro deste ano mostrou que 15% dos brasileiros admitem apostar ou já ter apostado online. Psicanalista, com oito anos de experiência em Escuta Qualificada, Amanda Souza explica que o vício em apostas pode trazer danos materiais e para a saúde física e mental dessas pessoas.
Diferentemente do vício em álcool e drogas, que os sintomas são visíveis fisicamente, o vício em jogos de azar apresenta problemas menos óbvios. "Um jogo em que a pessoa mergulha como fuga, em que a adrenalina no início faz bem e a primeira aposta também, mas o fim é devastador.", destaca Amanda.
O cenário é preocupante, de acordo com os dados divulgados pela pesquisa Datafolha, 30% dos apostadores que mantém uma rotina de jogos têm entre 16 e 24 anos, revelando outro ponto crítico: apesar da proibição do acesso ao público com menos de 18 anos, os jogos de azar online são acessados de forma indiscriminada no Brasil.
Os danos que esse tipo de vício pode causar a um adulto são inúmeros, no entanto, quanto mais cedo a pessoa tem acesso a esses mecanismos que provocam dependência, mais profundos podem ser esses traumas, que variam entre prejuízo do sono, déficit de atenção, perda ou redução da capacidade de se relacionar com outras pessoas e até dores físicas.
"Pacientes com esse quadro, só se dão conta do prejuízo, quando chegam ao extremo da perda de qualidade de vida. Só passam a reconhecer que precisam de ajuda no momento em que se veem sozinhos, onde o prejuízo financeiro é tão devastador que suas famílias depois de cansarem de tentar ajudar, os abandonam.", esclarece a especialista.
Para Amanda Souza, as autoridades e as famílias precisam repensar o controle sobre essas plataformas e buscar mecanismos de conscientização, principalmente sobre os jovens. Quando ao jogador citado no início da reportagem, após mais uma noite sem dormir, Antônio Augusto, revela que conseguiu ganhar R$500 na última aposta, e só está esperando a liberação da plataforma para sacar o dinheiro e pagar umas contas. Perguntado se pensa em apostar novamente: “Vou dar um tempo, estudar mais a plataforma e ver se vale à pena investir mais.”
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KARINA DA SILVA SOUZA PINTO
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