08/04/2024 às 15h19min - Atualizada em 09/04/2024 às 04h02min

Um sistema de ensino cruel para imigrantes? 

*Ana Paula de Andrade Janz Elias 

Valquiria Cristina da Silva Marchiori
Rodrigo Leal

Há alguns dias, ouvi uma pessoa falar sobre a “crueldade” do ensino na Alemanha, na qual os pais têm de decidir bem cedo, próximo aos 10 anos de idade de seus filhos, o rumo educacional no sistema de ensino alemão. 

Isso se dá, porque existem três tipos de escolas, que recebem três diferentes grupos de alunos, a partir dos 10 anos de idade. Essas escolas são classificadas por habilidades acadêmicas, há aquelas que preparam para a faculdade e as que preparam para o mercado de trabalho. A Hauptschule é destinada para os alunos com menores desempenho acadêmico, a Realschule é destinada para àqueles que tem um desempenho mediano e, o Gymnasium é uma escola frequentada por alunos com melhores índices escolares, e que, possivelmente, irão fazer uma faculdade no futuro. 

Vale ressaltar, que a regulamentação do sistema de educação na Alemanha fica a cargo de cada um dos 16 estados alemães. Por isso, hoje, existem algumas diferenças entre os estados, como, por exemplo, a idade de escolha por uma das três escolas citadas acima, visto que em alguns estados deve ser realizada pela família próxima aos 12 anos de idade do aluno. Existem sistemas que integram duas escolas em uma única escola, os quais recebem alunos da Hauptschule e da Realschule num mesmo ambiente. E ainda tem os Gesamtschule que abrem espaço para os alunos de diferentes níveis de desempenho, mas separa-os por habilidades.  

Dependendo do estado, a escolha por uma dessas escolas é feita pelo professor. Em outros estados, o professor faz uma recomendação, mas a palavra final é dos pais dos educandos. Há também a possibilidade de alunos matriculados em escolas destinadas aos de desempenho mediano e de menores desempenho avançarem, mas para isso é preciso estudar pelo menos 3 anos a mais do que os alunos do Gymnasium, para assim,  poder prestar o exame que os habilita a fazer uma faculdade.  

São feitas pesquisas que indicam que a situação econômica de uma família, e não apenas as habilidades educacionais do aluno, o que também tem um papel decisório na escolha por uma das três escolas mencionadas até aqui. 

Existem vários críticos e apoiadores a este sistema de ensino. São diferentes pontos que para tratarmos e aqui faltaria espaço. Contudo, o relato de uma família que imigrou para a Alemanha ao citar que o sistema de ensino, no qual seus filhos estão inseridos é cruel, nos leva a refletir sobre as diferenças culturais que vivemos, enquanto Brasil e Alemanha. Será que os pais alemães têm essa mesma percepção quanto ao ensino em seu país? É possível fazer uma pesquisa mais detalhada sobre isso, mas o fato é que brasileiros e alemães têm olhares diferentes para o que vivem em seu dia-a-dia, incluindo a maneira como lidam com o ensino. 

O sistema de ensino alemão pode não ser o ideal, mas para avaliar ele de maneira mais detalhada, teríamos de olhar para diferentes índices, incluindo aqueles que não têm relação com a formação acadêmica dos estudantes. Teríamos de olhar para dados relacionados a maneira como os estudantes que passaram por esse sistema avançam, nos diferentes contextos em que estão inseridos e como eles “enfrentam” a vida. 

O fato é que crescer em uma cultura e buscar se adaptar a outra diferente traz muitas implicações aos imigrantes, visto que eles são os “visitantes” e precisam se adaptar ao que encontram em suas novas moradas. Por isso, antes de levar ou de enviar os filhos para estudarem em outros países, é válido analisar o sistema de ensino desses locais e avaliar se, dentro daquilo que a família considera importante, esse processo fará com que a mudança valha a pena. 

*Ana Paula de Andrade Janz Elias é Professora da Área de Exatas do Centro Universitário Internacional Uninter 

 


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