02/04/2024 às 13h06min - Atualizada em 02/04/2024 às 20h01min

O livro infantil e os desafios na promoção da leitura no Brasil 

*Valentina Daldegan 

Valquiria Cristina da Silva Marchiori
Rodrigo Leal

O dia 2 de abril é considerado o Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil, data em homenagem ao nascimento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, autor de clássicos como "O Patinho Feio" e "A Pequena Sereia".  No Brasil, a data é celebrada em meio a desafios significativos. Enquanto o mundo se une para celebrar a magia dos livros, é importante refletir sobre questões específicas que impactam diretamente a realidade brasileira no universo editorial e literário.  

Em 2023, o mercado editorial brasileiro apresentou um crescimento de 4,8% em comparação com 2022, alcançando um faturamento de R$ 6,7 bilhões. Dentro desse contexto, o segmento de livros infantis e infanto-juvenis se destacou como um dos mais aquecidos, respondendo por 32,43% do faturamento total, o que representa um aumento de 5,2% em relação ao ano anterior. Por outro lado, um dos principais desafios enfrentados nesse mercado é a concentração nas mãos de poucas editoras, que controlam a maior parte do mercado. Essa concentração dificulta a entrada de novos autores e ilustradores, limitando a diversidade de vozes e perspectivas na literatura infantil e juvenil. A falta de oportunidades para novos talentos pode resultar na perpetuação de padrões estilísticos e temáticos, prejudicando a inovação e a representatividade na produção literária nacional.  

Outro ponto crucial é a desigualdade no acesso à leitura no Brasil. O preço dos livros infantis e infanto-juvenis ainda é alto para grande parte da população brasileira, limitando o acesso das crianças e dos jovens a obras de qualidade que estimulem o hábito da leitura e o desenvolvimento intelectual. Crianças e jovens de classes sociais menos favorecidas enfrentam dificuldades para ter acesso a livros e para receber incentivo à leitura em seus ambientes familiares e escolares. A falta de bibliotecas e espaços culturais nas comunidades mais carentes, também contribui para a exclusão literária, privando esses jovens das oportunidades de explorar o mundo da literatura.  

Apesar desses desafios, vale ressaltar que diversas iniciativas e projetos estão em curso no Brasil, para enfrentar essas questões e promover a leitura de forma mais inclusiva e acessível. Programas de incentivo à leitura em escolas públicas, projetos de bibliotecas comunitárias, feiras literárias em bairros periféricos e políticas de distribuição de livros em áreas de vulnerabilidade social são exemplos de ações que buscam reduzir as desigualdades no acesso aos livros e estimular o gosto pela leitura desde cedo. Iniciativas do governo Federal, como o Prêmio Pontos de Leitura, que distribuiu R$ 9 milhões entre 300 bibliotecas comunitárias do país ou o Projeto Universo das Letras, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (fnlij.org.br) – ONG filiada a International Board on Books for Young People – que apoia Secretarias da Educação de diversos municípios ainda não são suficientes, mas representam um passo em direção à formação de leitores, que é um desafio em nosso país.  

Neste Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil, é fundamental não apenas celebrar a importância da leitura para as novas gerações, mas também refletir sobre tais desafios, que ainda precisam ser superados para garantir que todos os jovens brasileiros tenham oportunidades iguais: de se encantar com as histórias e os mundos que os livros podem oferecer. A construção de uma sociedade mais justa e democrática passa, sem dúvida, pelo acesso universal ao conhecimento e à cultura, e a literatura desempenha um papel fundamental nesse processo.  
 
*Valentina Daldegan é Doutora em Música e Educação e Coordenadora de Pós-graduação na Área de Artes e Educação na Uninter. 


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