07/03/2024 às 11h52min - Atualizada em 08/03/2024 às 00h04min

Marco Legal da Primeira infância completa 8 anos

Com mais de 40 artigos, a Lei ainda apresenta desafios de implementação em dimensões como educação infantil e criação de uma política nacional integrada

Samara Alcantara
Freepik

Sexta-feira (8 de março) marca o aniversário de oito anos do Marco Legal da Primeira Infância. Sancionado em 2016, a lei estabelece diretrizes para políticas públicas e garantias específicas para crianças de 0 a 6 anos. Sua constituição propõe a construção de políticas prioritárias para os pequenos, além de garantias que influenciam positivamente no desenvolvimento das crianças. 

“O Marco Legal da Primeira Infância é uma norma abrangente que coloca as crianças em primeiro lugar. Ao estabelecer diretrizes para a formulação e implementação de políticas públicas voltadas para essa etapa, ele se conecta com as evidências científicas que destacam a importância dos primeiros seis anos de vida para a criança e toda a sociedade. Essa legislação representa um avanço significativo na proteção e no desenvolvimento das crianças no nosso País”, comenta Marina Fragata, Diretora de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

Com mais de 40 artigos, o Marco Legal olha para o direito da criança tanto do ponto de vista de suas necessidades essenciais, como saúde, segurança e educação, quanto pela ótica dos direitos da criança em diferentes dimensões: o direito de ser ouvida no processo de elaboração de políticas públicas, o de ter espaços públicos adaptados para ela, o de ter tanto o pai quanto a mãe participando de sua vida, entre outros. No entanto, ainda há pontos para avançar. 
 

Desafios na educação

Um dos principais é garantir que a expansão de vagas nas creches e pré-escolas seja feita de maneira a assegurar a qualidade da oferta, com profissionais capacitados, currículo e materiais adequados à proposta pedagógica. 

Segundo o Plano Nacional de Educação, 50% das crianças deveriam estar matriculadas nas creches até 2024. No entanto, de acordo com dados do Censo Escolar 2023, divulgados há duas semanas, apenas 41% das crianças de 0 a 3 anos estavam nas creches. Além disso, menos da metade das escolas de educação infantil (41,8%) tem materiais para atividades artísticas, apenas 57,7% oferecem banheiros adequados para as crianças e 26,7% têm quadra de esportes.

“Tivemos avanços em termos de acesso em comparação com os anos anteriores, mas esse crescimento não alcança a todas as crianças de forma equitativa. Quando olhamos para a qualidade, chama a atenção a falta de infraestrutura que garanta às crianças oportunidades de brincar ao ar livre”, explica Marina. “Creches e pré-escolas de má qualidade podem impactar negativamente o desenvolvimento das crianças e ainda não temos dados – seja no Censo ou do SAEB (ainda não divulgados) - que avancem o olhar para dimensões importantes de qualidade, como as práticas pedagógicas”, completa. 

Vale ressaltar que, na última semana, a consulta pública de atualização dos parâmetros de qualidade da educação infantil liderado pelo MEC foi encerrada. O processo de regulamentação tem como próximas etapas o envio do documento pelo MEC para o Conselho Nacional de Educação, instância de deliberação. 
 

Política nacional integrada e Conselhão

Outro desafio está na criação de uma Política Nacional Integrada que, segundo o Marco Legal, será formulada e implementada mediante abordagem e coordenação intersetorial que articule as diversas políticas setoriais a partir de uma visão abrangente de todos os direitos da criança na primeira infância.

“Há importantes esforços em andamento nesse sentido, como a instituição de um grupo de trabalho no Conselho Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico - o “Conselhão” - para apoiar o governo nessa finalidade. Além disso, em âmbito estadual e municipal é crescente o número de planos de primeira infância”, explica Marina.

Criado em agosto de 2023, o Grupo de Trabalho (GT) Primeira Infância é um grupo temático instalado no âmbito do Conselhão Seu objetivo é elevar a prioridade para a pauta na agenda do Governo Federal, de forma transversal entre os diferentes ministérios, e contribuir para a construção de uma Política Nacional Integrada para a Primeira Infância. 

“Uma política voltada às primeiras infâncias deve ser transversal e atuar como catalizador da equidade, ou seja, trabalhar para romper as marcantes desigualdades territoriais, étnico-raciais, socioeconômicas e outras presentes no nosso país.  Não há como endereçar problemas complexos que alcançam as crianças como violência, a pobreza sem uma abordagem integrada.”

Por fim, é necessária uma medição periódica do investimento público nas políticas de desenvolvimento infantil. “O Marco Legal prevê que as políticas públicas tenham, necessariamente, componentes de monitoramento e coleta sistemática de dados. Isso precisa acontecer para que a sociedade saiba se o serviço ofertado às crianças e suas famílias está efetivamente tendo o impacto esperado e ajudar os governos a fortalecer as políticas a cada ciclo avaliativo de modo a garantir a continuidade e a melhoria das ofertas para a população”, finaliza Marina. 

Diversos dados evidenciam que a primeira infância não recebe a devida atenção. Como: 
 

Insegurança Alimentar

  • Segundo o working paper “Impactos da Desigualdade na Primeira Infância”, divulgado pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), 11% das crianças de 0 a 6 anos (2,3 milhões) ainda viviam em domicílios sem renda suficiente para suprir as necessidades de calorias diárias em 2021.

Educação infantil

  • Segundo os números do Censo Escolar 2023, em 2022, 36% dos alunos dessa faixa etária estavam na creche; em 2023, o patamar saltou para cerca de 41%. Na Pré-escola, houve aumento de 5 milhões para 5,3 milhões de alunos de um ano para outro. Ainda segundo o Censo, há 100 mil de crianças fora da pré-escola.  
  • Em 2019, 42,44% das crianças de 0 a 3 anos se enquadravam nos critérios do Índice de Necessidade por Creches (2019)

Violência

  • Apenas no primeiro semestre de 2022, foram registradas 122.823 violações contra crianças e adolescentes – cerca de 84% delas cometida por familiares (mãe, pai, madrasta/padrasto ou avós). Além disso, 26% das crianças vítimas de maus-tratos são menores de 5 anos. Os dados são do Working Paper “Prevenção de Violência contra a criança”, divulgado pelo NCPI. 

Sobre a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Desde 2007, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal trabalha pela causa da Primeira Infância com o objetivo de impactar positivamente o desenvolvimento de crianças em seus primeiros anos de vida. As principais frentes de atuação da Fundação são a promoção da Educação Infantil de qualidade, o fortalecimento dos serviços de parentalidade, a avaliação do desenvolvimento da criança e das políticas públicas de primeira infância e a sensibilização da sociedade sobre o impacto das experiências vividas no começo da vida.
 

Informações para a imprensa sobre a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal:

Contatos: Luana Rodriguez (11) 973089091


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