29/01/2024 às 12h57min - Atualizada em 30/01/2024 às 00h05min

"Sebastião" traz como tema central a tragédia socioambiental que afetou São Sebastião há 1 ano, a ser completado no próximo dia 19

Lançado pela Aletria Editora, livro infantojuvenil foi escrito a quatro mãos por Claudio Fragata e Janaína de Figueiredo e ganhou ilustrações de Rodrigo Mafra

Monica Ramalho
Reprodução

Como escrever sobre um desastre socioambiental para crianças e adolescentes? De que forma lidar com a política do esquecimento arraigada na sociedade? Por que o mundo ainda mata tantas crianças? Perguntas como essas moveram o processo criativo de "Sebastião" (Aletria Editora), escrito por Claudio Fragata e Janaína de Figueiredo e ilustrado por Rodrigo Mafra. Com 32 páginas, o livro levanta temas fraturantes para a literatura infantojuvenil e custa R$ 80 no site da editora (www.aletria.com.br).

Além de servir de apoio às crianças atingidas por essa ou outra tragédia similar, a obra ainda discute os problemas em torno das origens dos deslizamentos de terra, responsáveis por tantas mortes e destruição de bairros, rios, cidades inteiras... "Sebastião" é uma tentativa de dar voz aos relatos testemunhais das vítimas de um soterramento dessa grandeza.

Nas livrarias desde as semanas finais de 2023, o livro é protagonizado por Sebastião, que recebeu esse nome em homenagem à cidade onde ocorreu a tragédia. A família do narrador se salvou, mas perdeu tudo na tempestade que devastou São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, em 19 de fevereiro de 2023. O menino, os pais, irmãos e avô conseguiram escapar, atentos que estavam aos sinais emitidos pelo cachorro Biró. Essa, aliás, é uma das mensagens do livro: Vamos escutar a natureza, vamos prestar atenção no planeta.

"Quando houve a tragédia, Janaína, que é caiçara, sugeriu que escrevêssemos a respeito. Topei na hora. Estava obcecado pelo acontecimento desde a primeira notícia que li. Esse desastre (mais um!) revela a cara de um Brasil desamparado, separado por uma estrada que divide pobres e elite. Ela estava no coração da tragédia e pedi que prestasse muita atenção no que diziam as crianças", lembra Claudio.

Janaína seguiu o conselho do seu antigo professor, que guiou os seus primeiros passos na escrita. "Conversei muito com as crianças nos abrigos. Muitas estavam emudecidas! Não era um alheamento, mas a impossibilidade de simbolizar a cena. Em outros relatos, tive que me manter firme diante daquela lembrança de dor. As vidas dessas crianças estavam despedaçadas, mas uma força as movia para o recomeço", recorda.

Os questionamentos do pequeno Sebastião fazem com que o leitor entenda melhor a dinâmica de ocupação da cidade, assim como os problemas estruturais do país, atiçados, em larga medida, pela ganância das classes economicamente mais favorecidas. O que se lê é a realidade das comunidades caiçaras que, ao longo da história, perderam as suas terras e hoje vivem um processo de apagamento de suas memórias.

"Como criar metáforas para esse tipo de dor? Famílias inteiras soterradas, como transformar isso em palavras e imagens literárias para crianças e jovens? O fim da escrita foi também o renascimento de nós dois. Nunca mais seremos os mesmos depois dessa experiência", afirma Janaína. Para ela, "Sebastião" foi feito para combater a indiferença política e a política do esquecimento. 

"Sebastião" demonstra como certos grupos da sociedade brasileira estão mais vulneráveis aos efeitos de determinadas catástrofes do que outros. E como escreve Patricia Palumbo na quarta capa: "O relato de Janaína e Claudio fala de duas tragédias, uma pontual, outra histórica". Também caiçara, a jornalista se sensibilizou com os ecos do livro.

"É tudo tão vívido e presente nessa história. A beleza e a imensidade de informações nos lindos desenhos de Rodrigo e no texto sensível e delicado fazem o coração apertar", confessa Palumbo. Foi Claudio quem trouxe o ilustrador. "Sugeri o Rodrigo Mafra porque o trabalho dele é transgressor e totalmente original. Hoje vejo que não poderia ser outro a ilustrar o 'Sebastião', quase metáfora da vida brasileira", pontua o coautor.

 

Claudio Fragata, natural de Marília, interior de São Paulo, é formado em jornalismo, trabalhou como editor na revista Recreio, da Editora Abril, e como criador e editor dos Manuais da Turma da Mônica, na Editora Globo. Hoje dedica-se apenas à literatura e tem mais de quarenta livros publicados. Em 2014, foi vencedor do Prêmio Jabuti com a obra "Alfabeto Escalafobético". Recebeu o selo Cátedra de Leitura da Unesco/PUC Rio com o livro "João, Joãozinho, Joãozito" - o livro conta a infância de João Guimarães Rosa e esteve entre os finalistas do Prêmio Jabuti 2018.

Janaína de Figueiredo, caiçara de São Sebastião, é antropóloga, educadora e escritora. Já escreveu diversos livros, como “O Fuxico de Janaína”, “Nós de Axé”, “Formigável”, “Seu Tainha”, “Boi de Conchas e outros contos caiçaras”, “Sapatinho de Makota”, “A rosa e o poeta do morro”, “Meu avô é um Tata" e "Kererê”. Em 2017, O “Fuxico de Janaína” foi selecionado para a Feira de Bolonha, na Itália. Em 2019, o livro “Boi de Conchas” foi finalista do Prêmio AEILIJ, categoria Reconto. Em 2022, “Formigável” ficou entre os cinco finalistas do Prêmio Jabuti.

Rodrigo Mafra, paulista de Lins, é formado em artes plásticas pela Universidade de Brasília, onde fundou o próprio estúdio de animação e ilustração. Já foi selecionado para concursos de ilustração fora do Brasil, em 2020 foi premiado pela Communication Arts na Califórnia, nos Estados Unidos, e já expôs na Itália.

 

"Sebastião"
Aletria Editora
Escrito por Claudio Fragata e Janaína de Figueiredo
Ilustrado por Rodrigo Mafra
Projeto gráfico de Natália Calamari
32 páginas
R$ 80


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