16/01/2024 às 17h07min - Atualizada em 17/01/2024 às 08h03min

Reinaldo: o craque da resistência política no futebol brasileiro

Um olhar profundo sobre o ídolo que lutou contra a ditadura e o racismo no Brasil

Gianluca Florezano
Atlético-MG / Divulgação

Um mágico com a bola nos pés e um libertário com as palavras. Sem dúvidas, podemos descrever dessa maneira a trajetória profissional e pessoal de José Reinaldo de Lima, conhecido popularmente como Reinaldo, que completou 67 anos neste mês de janeiro.

Dentro de campo, nas décadas de 1970 e 1980, com sua destreza, força, ginga e gols, ele encantou os amantes do futebol, especialmente a torcida do Atlético-MG, time pelo qual levantou muitas taças ao longo de sua carreira.

Fora de campo, no entanto, com suas palavras e seus gestos simbólicos, que o “Rei do Mineirão” (como carinhosamente foi apelidado pela torcida atleticana) conseguiu conquistar os corações e as mentes dos brasileiros.

Enquanto Reinaldo brilhava dentro dos gramados, fora deles, naquela época, vigorava o regime autoritário da ditadura militar brasileira. Aproveitando-se da enorme capilaridade social que o futebol tem, os militares buscavam tornar o esporte uma verdadeira máquina de propaganda ideológica de seu regime político-social.

Em palavras mais claras, conforme a crença dos detentores do poder daquele período, o futebol constituía-se nada mais nada menos do que o ópio do povo, ou seja, um mecanismo para distrair as massas dos reais problemas do país e impedir que elas se rebelassem.

Se, por um lado, do ponto de vista da ditadura militar, o esporte bretão (como o futebol também é conhecido) era o ópio do povo; por outro lado, da perspectiva dos setores do campo progressista, ele se tornaria um instrumento capaz de despertar as massas para lutar pela democracia.

Desse modo, durante a vigência do autoritarismo militar, no esporte como um todo, mas principalmente no futebol, emergia uma classe de atletas-politizados, ou seja, jogadores que estavam dispostos a não apenas batalhar pela bola dentro de campo, mas sim a lutar lado a lado com o povo por práticas de liberdade que levariam a sociedade brasileira para um caminho mais democrático e justo.

Dentre esses atletas, quem se destacava era justamente Reinaldo. O craque e ídolo do Atlético-MG foi um dos primeiros a se colocar publicamente contra a ditadura brasileira. Sua afronta aos militares quase lhe custou sua participação na Copa do Mundo da Argentina de 1978 (os argentinos, naquela época, também viviam sob um regime autoritário). Porém, isso não o intimidou. Longe disso, fez ele ir além.

Ao contrário do que acontece hoje em dia, em que uma parcela significativa das celebrações de gols são voltadas para o marketing pessoal, o Rei do Mineirão fazia um chamado social. Por meio do gesto simbólico dos punhos cerrados do Black Power, ele denunciava a repressão política e instigava a população a participar ativamente na luta contra o racismo no Brasil. 

Reinaldo, por conta de problemas físicos e lesões, pendurou as chuteiras precocemente aos 31 anos em 1988. Entretanto, seu legado está presente até os dias de hoje nos estádios espalhados pelo país.

Seus gols espetaculares, com certeza, marcaram uma geração de torcedores, especialmente do Galo (como o Atlético-MG foi apelidado). Mas, sem dúvida alguma, o que ficou guardado na memória dos brasileiros foi o significado da sua comemoração de gol.

Se os pés do craque mineiro não conseguem mais chutar uma bola, ao menos não com tanta precisão como antigamente, seus punhos erguidos ainda fazem florescer a luta antirracista no Brasil.


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