20/08/2023 às 16h39min - Atualizada em 21/08/2023 às 04h05min

Durante a FIL, Velia Vidal e Márcia Kambeba falaram sobre a importância da ‘oralitura’ no resgate da identidade latino-americana

Conferência internacional foi destaque na quinta-feira (17/8) durante a Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto. Agenda do dia contou ainda com Salão de Ideias com a escritora Aline Bei, bate-papo entre o escritor Ignácio de Loyola Brandão e o prefeito Duarte Nogueira e show musical de Verônica Ferriani

Verbo Nostro
Povos originários e afrodescendentes na literatura latino-americana (Foto: Sté Frateschi)
“Oralitura”. O contato com essa expressão ainda pouco conhecida foi um dos presentes que o público que lotou o Theatro Pedro II na noite desta quinta-feira (17), levou para casa. O termo, que funde as palavras oralidade e literatura, foi trazido pela escritora colombiana Velia Vidal, convidada da conferência internacional “Povos originários e afrodescendentes na literatura latinoamericana”, junto com a poeta, compositora e educadora indígena Márcia Kambeba, e a jornalista colombiana, Ana Maria Correa Rodriguez, que fez a mediação do debate. Com foco no convite a um olhar mais afetuoso, generoso, consciente e orgulhoso para a história de formação do Brasil e da América Latina, a conversa teve ainda a participação especial da socióloga Djamila Ribeiro.

A reflexão sobre as identidades e as linhas que aproximam os países latino-americanos foi tratada por Velia Vidal e Márcia Kambeba a partir de suas histórias pessoais, desde experiências particulares até à construção de suas carreiras literárias, passando pelo ativismo cultural e social que empenham em seus países, e pela forma como a literatura funciona no processo de reconexão entre elas e suas comunidades. “No mundo ocidental, falamos da literatura escrita branca, enquanto a literatura oral dos povos afros é tida como inexistente porque não é escrita. Hoje, buscamos a ‘oralitura’, que é não perder a oralidade e nos apropriar da literatura. Com essa referência, eu não poderia separar minha construção de identidade da literatura”, iniciou Velia Vidal. “A literatura indígena é carregada de identidade individual e coletiva. E é muito importante que essa escrita seja inserida em outros espaços para além dos nossos territórios”, acompanhou Márcia Kambeba.

Para as escritoras, a América Latina vem sendo, historicamente, narrada a partir da ótica europeia e a literatura que vem da voz dos povos originários é o caminho para que os latino-americanos sejam mais livres. Nesse contexto, as palestrantes ressaltaram a importância do compromisso que deve ter quem escreve sobre um povo do qual não é pertencente. “A primeira responsabilidade de quem escreve sobre o outro é questionar-se. É revisar o racismo que o habita. Porque mesmo de forma não consciente, é grande o risco de, por exemplo, se perpetuar a narrativa sexualizada e pauperizada sobre povos afros e indígenas”, destacou a colombiana Velia Vidal. “A literatura é fundamental para o trabalho de humanização que vai desconstruir estereótipos. Um processo lento, de todo dia, dentro das nossas casas”, completou a escritora Marcia Kambeba.

Gestora cultural e social na Colômbia, Velia Vidal é fundadora e diretora da Corporación Educativa y Cultural Motete, com trabalho voltado a crianças e adolescentes. “Nossa ação enfatiza o direito à cultura, à leitura e à imaginação porque nada muda a realidade sem antes ter sido imaginado. Porém, se é possível imaginar, é possível construir”, salientou. Márcia Kambeba atua junto aos povos indígenas do Norte do Brasil com atividades centradas na educação cultural e ambiental. “Nós, indígenas, escrevemos porque queremos nos comunicar e trazer amorosidade na ponta da nossa flecha. Conversar com a população não indígena para nos entender numa linguagem de mundo”.

Sonhos pedem coragem

O encontro entre o escritor, jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão e Antônio Duarte Nogueira Júnior, prefeito de Ribeirão Preto, na Biblioteca Sinhá Junqueira, empolgou quem esteve presente. A partir do tema “Do local ao global”, Loyola e Nogueira trocaram perguntas entre si, presenteando a plateia com uma conversa descontraída, bem humorada e recheada de informações literárias, políticas e sociais.

Presente na FIL em todas as edições do evento, Loyola falou sobre a infância e adolescência em Araraquara e a parceria com amigos da época - como o diretor teatral Zé Celso Martinez Corrêa -; a decisão em ser escritor, a transferência para São Paulo e sobre como lida com críticas e fracassos. “A literatura é a coisa mais importante da minha vida e quando um livro não acontece, penso que não sei mais escrever. Meu ofício é uma montanha russa e não é fácil lidar com decepção, desilusão e o peso de um livro que não é bem recebido”, expôs o escritor.

Duarte Nogueira, por sua vez, contou que sua entrada na política foi mais pela emoção que pela razão. “Quando meu pai faleceu, dois meses antes de uma eleição, fui meio que compelido a substituí-lo. As coisas apenas foram acontecendo e me levando para a Assembleia Legislativa de São Paulo, para a Câmara Federal, para as Secretarias Estaduais de Habitação e Agricultura e me trazendo de volta para a Prefeitura de Ribeirão”, lembrou o prefeito, que é engenheiro agrônomo de formação.

Falando em obras, o escritor Ignácio de Loyola Brandão avaliou que sua melhor personagem feminina é a do livro “O beijo não vem da boca”; que “Zero” e “Não verás país nenhum” são seus livros mais empenhados com causas humanísticas; que não consegue viver sem projetos; e que sua produção mais querida é “Dentes ao Sol”. “A partir de uma história real, esse livro enfatiza que os sonhos precisam de coragem e determinação para se tornarem realidade. Não entendi porque não fez sucesso na época que escrevi, mas agora vai para o cinema, no novo projeto a que estou dedicado”, finalizou.

Também na Biblioteca Sinhá Junqueira, a jovem escritora Aline Bei recebeu o público para o Salão de Ideias onde falou sobre “O peso do pássaro morto” e “Pequena coreografia do adeus”, seus dois livros. Unindo doçura e densidade - como pontuou a mediadora Juliana Judice -, Aline abordou diferentes questões que envolvem seu fazer literário e como humanamente se coloca nesse lugar. A relação da educação com os textos clássicos, a vulnerabilidade do escritor, a presença do teatro na estrutura dos seus textos e a importância de escrever sobre mulheres e ter mulheres lendo outras mulheres foram alguns dos assuntos abordados pela fala de Aline Bei, espontaneamente e por meio das perguntas dos participantes.

Encontros diversos

No total, o sexto dia da 22ªFIL - Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto ofereceu 45 diferentes atividades aos visitantes de todas as idades e interesses. A roda de conversa “Autismo e educação infantil”, por exemplo, promoveu troca de ideias entre o público e os profissionais da Fundação Panda sobre como relacionar práticas de educação infantil com alunos autistas, como identificar crianças com o transtorno e como lidar com essa situação em sala de aula. “Muito importante esse compartilhar de conhecimentos para contribuir com outras pessoas e ajudar mais crianças e instituições”, comentou Paula Caroline Albano, coordenadora da entidade.

Na Usina do Saber, Luís Kinugawa, fundador e diretor do Instituto África Viva, comandou a oficina de Biomúsica, atividade que teve o objetivo de conectar os participantes com a terra e com seu eu interior. “Vemos a nova geração viciada no celular, com vergonha do corpo e desconectados da terra. A biomúsica trabalha os ritmos humanos mais primais, como a respiração, o andar e os sentimentos; e busca conectar som e movimento de forma lúdica”, explicou Kinugawa. Em seguida, ele orientou a “Vivência de música da África Oeste”, junto com a cantora e bailarina Fanta Konatê, que demonstrou técnicas e significados de danças africanas da Guiné.

“Divulgar a cultura africana para o povo brasileiro é um sonho para mim. Mostrar que nossas tradições vão além de religiosidade. Também temos dança e entretenimento. Ter esse cantinho da África na FIL é um presente que me deixa muito feliz”, disse a bailarina. Com canções de Gilberto Gil, Chico Buarque e Criolo, a cantora ribeirãopretana Verônica Ferriani encerrou o dia com um show no espaço Ambient de Leitura. O repertório apresentou as canções de “Aquário”, seu novo álbum.

Sobre a FIL

A 22ª edição da FIL - Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto, foi realizada de 12 a 20 de agosto e trouxe como tema central a proposição “Entre os extremos, as dualidades: a literatura como elo”. Os homenageados desta edição da FIL foram: Gilberto Gil (autor), Gilberto Dimenstein (autor educação), Luiza Romão (autora local), Stella Maris Rezende (autora infantojuvenil), Danilo Santos de Miranda (patrono) e Madelaine Pires (professora). 

Realização 

Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas, Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, Usina Alta Mogiana, GS Inima Ambient e Fundação do Livro e Leitura apresentam a 22ª FIL - Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto.

Patrocínio Diamante
Usina Alta Mogiana e GS Inima Ambient.

Patrocínio Ouro
GasBrasiliano, Savegnago e Itacuã.

Patrocínio Prata
Passalacqua, Ourofino Agrociência, Tracan e RibeirãoShopping.

Patrocínio Bronze
Supermercados Gricki e Santa Helena.

Patrocínio
Acirp, Caldema Equipamentos Industriais, Interunion, Riberfoods, Santiago e Cintra Geotecnologias, Suprir e Vantage GeoAgri.

Instituição Cultural
Sesc

Apoio

Fundação Dom Pedro II – Theatro Pedro II, Biblioteca Sinhá Junqueira, Centro Cultural Palace, Instituto do Livro, CUFA, A Fábrica, Teatro Municipal de Ribeirão Preto, Dauriti Distribuidora, Apis Flora, Stéfani Purificadores, Molyplast Brasil, Passalacqua Tech, Cenourão, Santa Emília, Coderp, Transerp, Guarda Civil Municipal, Polícia Militar, Secretaria da Cultura e Turismo, Secretaria da Educação e Secretaria de Meio Ambiente e Secretaria de Infraestrutura da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto.

Apoio Cultural

Colégio Marista, DE Região de Ribeirão Preto, ETEC – José Martimiano da Silva, Fundação Educandário Cel. Quito Junqueira, SESI, Centro Universitário Barão de Mauá, Centro Universitário Moura Lacerda, Unaerp, Adevirp – Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto, Associação de Surdos de Ribeirão Preto, CAEERP, Fundação FADA, Fundação Panda, Ribdown – Associação  Síndrome de Down de Ribeirão Preto, SOMAR, ONG Arco Íris, Alma – Academia Livre de Música e Artes, Convention & Visitors Bureau – Ribeirão Preto e região, Monreale Hotels, NW3 Comunicação, Grupo Utam, Painew, Verbo Nostro Comunicação Planejada e IPCCIC – Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais. 

Sobre a Fundação

A Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, responsável pela realização da Feira Internacional do Livro da cidade.  Com uma trajetória sólida, projeção nacional e mais recentemente internacional, a entidade ganhou experiência e, atualmente, além da feira, realiza muitos outros projetos ligados ao universo do livro e da leitura, com calendário de atividades durante todo o ano. A Fundação do Livro e Leitura se mantém com o apoio de mantenedores e patrocinadores, com recursos diretos e advindos das leis de incentivo, em especial do Pronac e do ProAc.

Mais informações:
www.fundacaodolivroeleiturarp.com
Instagram: @fundacaolivrorp
Facebook: @fundacaodolivroeleiturarp
YouTube: /FeiraDoLivroRibeirao
Twitter: @FundacaoLivroRP

Atendimento à Imprensa
Verbo Nostro Comunicação Planejada

(16) 3632-6202 / 3610-8659
Jornalistas responsáveis:
Andrea Berzotti (16) 99138 6185 ([email protected])
Luciana Grili (16) 99152 2707 ([email protected])
Valter Jossi Wagner (16) 99152 2700 ([email protected])
Colaboração:Gabriel Todaro e Regina Oliveira

Este conteúdo foi distribuído pela plataforma SALA DA NOTÍCIA e elaborado/criado pelo Assessor(a):
U | U
U


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp