14/08/2023 às 17h57min - Atualizada em 14/08/2023 às 20h02min

O que define um bom professor?

Daniel Guimaraes Tedesco (*)

Valquiria Cristina da Silva Marchiori
Rodrigo Leal

Eu me considero um grande curioso aleatório! Muitas das vezes, eu não sei qual assunto vai me chamar atenção. Dentre esses, a Física desponta como um tema que me cativa profundamente, a ponto de guiar minha escolha por uma carreira profissional. Durante meus anos como estudante no bacharelado em Física, nutria uma visão um tanto arrogante, onde menosprezava o papel docente, associando-o equivocadamente ao insucesso na pesquisa científica. Essa opinião foi transformada quando experimentei o tablado e me apaixonei.

Contudo, apesar do meu entusiasmo pela docência, é inevitável reconhecer que nem todos os aspectos inerentes à vida do educador me encantam igualmente. Tanto na esfera pública quanto privada, apreciar a aula de outro colega é sempre uma empreitada desafiadora. Minhas experiências como membro de bancas de seleção têm sido permeadas por uma questão latente e silenciosa: O que define um bom professor?

Hoje em dia, quando temos uma pergunta, recorremos a uma inteligência artificial, que me respondeu como sendo algo complexo e subjetivo. Mas ela não me deixou desamparado somente com essa resposta, incluindo as seguintes características do bom docente: domínio do conteúdo, boa comunicação, se importa com os alunos, é criativo e curioso no sentido da inovação e é compromissado com a docência. Contudo, ainda que tais características tenham sido apontadas, a natureza subjetiva deste conceito dificulta sobremaneira sua avaliação, visto que cada indivíduo pode ter uma perspectiva distinta acerca do que representa essa excelência docente.

Olhando para a minha área de exatas, eu sempre achei que o bom professor tinha a obrigação de realizar todos os cálculos e deduções matemáticas para construir as ideias da Física. Outros amigos que participaram de bancas achavam que um bom professor é aquele cuja aula tivesse conseguisse prender a atenção dos alunos ou que fomentasse uma atividade criativa. Sendo assim, durante o trabalho colaborativo na banca, onde participam pessoas com perspectivas diversas, torna-se imperativo chegar a um consenso para viabilizar a tomada de decisão. Nesse contexto, ocorre uma adaptação do conceito de um bom professor, buscando uma maior flexibilidade.

Em uma destas experiências como membro de uma banca, ao final de cada aula, eu fazia a seguinte pergunta para os integrantes da banca que estavam comigo: “vamos discutir um pouco de Filosofia?” E nesta dinâmica, a cada aula ministrada, percebi que a resposta da questão pode ser moldada de acordo com os objetivos institucionais em cada momento específico. Esse exercício me levou a este texto, permitindo pensar que este conceito tenha características mais fluidas, adaptativas como um líquido em um vaso geometricamente diferente.

Confesso que existem poucos docentes que se encaixam no perfil delineado pela IA, incluso eu próprio. Eu preciso melhorar muito para ser esse bom professor! Mas as dúvidas ainda estão aqui: será que essa busca de uma definição única e clara é realmente importante? É um jeito bem metódico, típico de professor de Exatas! Vamos pensar do ponto de vista atual: será que um professor com um conteúdo razoavelmente bom, mas que consiga levar os alunos a pensarem mais criticamente não seria um professor melhor? Ou, então, talvez, um professor de disciplinas Exatas que consiga estabelecer um vínculo sólido entre teoria e prática, proporcionando uma aprendizagem significativa, possa alcançar resultados mais frutíferos do que aquele que se limita a enfatizar apenas a resolução de fórmulas e problemas específicos.

Nesse ínterim, a reflexão constante sobre o papel do educador, suas habilidades multifacetadas e a capacidade de se adaptar às demandas educacionais mutáveis torna-se inescapável e inalcansável. Ao assim fazermos, estamos diante de um desafio instigante, que se traduz na busca incessante por moldar o perfil do educador ideal, harmonizando-o com as necessidades do presente e as expectativas para o futuro, numa esfera onde a arte do ensino encontra-se em constante diálogo com a ciência da educação.

(*) Daniel Guimarães Tedesco é Doutor em Física pela UERJ e professor de Matemática e Física dos cursos de Exatas da Escola Superior de Educação no Centro Universitário Internacional Uninter


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