08/05/2023 às 15h13min - Atualizada em 08/05/2023 às 20h00min

Mãe moderna, mas com menos telas

A autora é Cris Barakat, mãe, empresária do ramo de eventos infantis e autora dos livros "Ideia de Jirico" e "Conversa pra boi dormir"

SALA DA NOTÍCIA Naves Coelho
Arquivo pessoal

O desafio de ser mãe nunca foi um mar de rosas. Pelo contrário, exige desprendimento, jogo de cintura e muita resiliência para enfrentar a dura rotina de conciliar trabalho e maternidade. É verdade que o mundo moderno oferece algumas tentações. As telas, por exemplo, são um recurso bastante funcional para quem quer simplesmente distrair a criança, pelo menos enquanto tenta solucionar outro problema.

Mas será que isso é bom?

A pandemia de covid-19 de repente colocou todo mundo dentro de casa. Pais, filhos, problemas, trabalho e estudos. Cada um com suas limitações, seus afazeres, suas dificuldades, seus limites para a paciência. Crianças e jovens ficaram mais arredios, entediados e até mais doentes. Um estudo realizado ainda em 2020, ano em que a pandemia eclodiu, feito pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, mostrou que, àquela altura, o uso das telas por crianças com idades entre 0 e 3 anos saltou de 15% para 59% nos primeiros meses de isolamento.

Também sobram estudos que mostram que a depressão infantil cresceu durante o isolamento. Então o que fazer? Antes de tudo, entender que as telas não resolvem todos os problemas. As crianças precisam experimentar, curtir e até se angustiar com o mundo real, e isso passa por doses cavalares de calma, respiração e criatividade. Vale lembrar que muitos pais de hoje são filhos de trabalhadores que também precisavam se ausentar de casa. Alguns – ou talvez até muitos desses – guardam em si uma certa convicção de que sua geração era mais ativa e parecia saber se divertir melhor quando criança.

Será que o que não falta, então, é um estímulo para que os filhos desenvolvam sua criatividade e novas habilidades? O choro, a raiva que muitas vezes parece pirraça, será inevitável ao desligar a TV ou tirar o celular das mãos dos pequenos. Mas convenhamos que essa é uma reação natural para quem foi acostumado a receber a recompensa antes do estímulo. A partir do momento em que a mãe altera a regra do jogo, é comum que haja também uma quebra de confiança, para não dizer de respeito, por parte da criança. Ela precisa ser, então, readaptada à nova cartilha, por mais caro que isso possa custar.

É claro que os recursos digitais de hoje são importantes, e que também, como pais, temos a função de inseri-los no universo que lhes será tão útil no futuro. Mas é preciso levar essa vocação a cabo com moderação, respeitando não apenas a necessidade de aprendizado tecnológico, mas também outras formações essenciais, como o desenvolvimento cognitivo, as interações e os comportamentos que ajudarão a moldar seu caráter no futuro.

Eis aí a grande provação da maternidade nos tempos atuais. Ser tudo o que o filho deseja, mas ao mesmo tempo ser tudo que ele precisa. Nem sempre esses dois valores se encontram positivamente, mas cabe à mãe, diante de tantas outras lutas já enfrentadas e vencidas, superar mais uma batalha. A tecnologia é capaz de oferecer momentos de diversão, entretenimento, distração, como também é capaz de proporcionar irritação, dificuldade de concentração e desregulação emocional. Mas nunca, jamais conseguirá vencer o amor materno.

A autora é Cris Barakat, mãe, empresária do ramo de eventos infantis e autora dos livros "Ideia de Jirico" e "Conversa pra boi dormir" [email protected]


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