23/06/2022 às 15h38min - Atualizada em 23/06/2022 às 15h34min

Cecília Meireles: história e poesia

Lucas Widmar Pelisari

Lucas Widmar Pelisari

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Quando se faz aulas de português, sempre se fala da poesia de Cecília Meireles (1909-1964). Nascida no Rio de janeiro em 1901, uma das maiores poetisas do Brasil, se interessou ainda cedo por literatura e se transformou, além de poeta, em professora literária. Cecília tinha poemas de cunho social e também famosos livros infantis como Isto ou Aquilo (Global Editora, 2012).
 
Muitas de suas poesias são utilizadas não apenas para o aprendizado do idioma, mas também para entender a sua aplicação no dia a dia dos nativos. Trouxemos alguns exemplos para você mergulhar mais um pouco na literatura desta incrível poetisa.

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
 
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
 
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
 
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
 
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
 
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
 
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
 
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
 
Passamos por inúmeros dilemas durante a nossa vida, principalmente na infância. Contudo, nessa época da vida, nossas escolhas têm menor peso,porque não temos tantas responsabilidades. Ainda assim, a autora aproveita o uso de palavras e situações antagônicas para mostrar como os menores enxergam a vida, sem conseguir distinguir ou abrir mais possibilidades além daquelas que foram apresentadas a eles.
 
Pode-se dizer que também há uma crítica velada ao senso crítico que precisamos desenvolver ao longo da vida, para que sejamos mais proativos no momento de fazer as escolhas que são melhores para nós – e não para os outros.

Interlúdio

As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
 
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.
 
Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
 
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
 
Fico ao teu lado.
 
Cecília também usa muito dos momentos de reflexão para trazer poemas. Em Interlúdio – que significa “intervalo” – ela mostra a importância de darmos uma pausa para pensar sobre os acontecimentos de nossas vidas. Por mais dolorosos que sejam, precisamos de um tempo para digerir e cicatrizar mágoas.
 
É uma espécie de luto que vivenciamos perante o encerramento de um ciclo para iniciarmos uma nova fase.
 

Lua adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua…
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
 
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
 
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua…)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua…
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu…
 
Mesmo quando chegamos à idade adulta, continuamos carregando várias inseguranças dentro de nós. Para trazer essa reflexão para o sentido figurado, a autora faz uma ponte com as fases da lua : há momentos em que nos sentimos um pouco mais introspectivos e fechados. Já em outros, estamos brilhando e cheios de si.
 
Reconhecer esse ser humano de fases que todos nós somos, é um jeito de aliviar a ansiedade que aparece para questionar as nossas oscilações.

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
 
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
 
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
 
Neste poema, Cecília Meireles questiona sobre seu crescimento e o reconhecimento de uma vida mais feliz quando era mais nova. A autora também traz à tona a sensação de que o tempo passou e como essa consciência afeta sua própria expressão facial e seus sentimentos sobre a vida em si.

A bailarina

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
 
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá
 
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
 
Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
 
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
 
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
 
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.
 
Nesta última obra, vemos muitas similaridades com o poema “Ou isto ou aquilo” de Cecília Meireles. No entanto, sob uma ótica diferente: para uma criança que ama dança balé, não há porque buscar outros tipos de dança. Não porque ela negar o gosto ou o talento que ela tem, já que é uma atividade que faz tão bem para ela. Que a consome por inteiro.
 
Todos nós precisamos encontrar algum hobbie ou, se possível, uma profissão que nos traz paz de espírito. Que nos traz para o presente.
 
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