22/03/2024 às 14h20min - Atualizada em 22/03/2024 às 20h10min

Itaú Cultural recebe a estreia de peça sobre encontro de Nise da Silveira e Graciliano Ramos na prisão na ditadura Vargas

Chego Até a Janela e Não Vejo o Mundo retrata a amizade desenvolvida no cárcere entre o autor de clássicos como Vidas Secas e a psiquiatra que revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil com a inserção da arte na vida dos internos em manicômios..

Assessoria de imprensa
Foto: Giorgio D’Onofrio
De 28 de março a 14 de abril (sempre de quinta-feira a domingo), o Itaú Cultural recebe a temporada de estreia de Chego até a janela e não vejo o mundo, espetáculo com direção e dramaturgia de Gabriela Mellão e João Wady Cury. No palco, a atriz Simone Iliescu e o ator Erom Cordeiro interpretam a psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999) e o escritor Graciliano Ramos (1892-1953), dois alagoanos que, até então, não se conheciam e iniciaram uma amizade quando foram presos, em 1936, durante a Era Vargas. Esse encontro extrapolou o cárcere e seguiu até a morte do escritor.

As apresentações são gratuitas, como toda a programação do Itaú Cultural, e acontecem de quinta-feira a sábado às 20h, e aos domingos e feriados às 19h. Como as reservas dos ingressos têm início sempre a partir das 12h da quarta-feira da semana anterior às sessões, as entradas para o fim de semana de estreia já estão disponíveis. A reserva deve ser feita pela plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br.
 
Chego até a janela e não vejo o mundo leva para a ficção o encontro verídico que aconteceu entre Graciliano Ramos e Nise da Silveira, no cenário de restrição absoluta da prisão. Antes, viviam momentos distintos em suas carreiras. Ele já tinha publicado Caetés (1933) e São Bernardo (1934), tinha sido prefeito de Palmeira dos Índios, além de diretor da Instrução Pública de Alagoas – cargo equivalente ao de Secretário Estadual da Educação. Ela trabalhava no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro, após ter concluído uma especialização em psiquiatria. 

Nise e Graciliano tinham personalidades diferentes, mas comungavam do interesse pelas questões humanas, com atenção maior aos que estavam à margem do sistema. Foi este modo de ver a vida que os aproximou durante o período vivido na prisão.

“Para contar essa história vivida por Nise e Graciliano, abordar o horror da perseguição política e a beleza da amizade nascida entre grades, nos interessava a cumplicidade criada no claustro entre eles sem renunciar a uma narrativa onírica e poética de um lado, mas também aterrorizante e delirante do outro”, conta Gabriela. “Sem esse abstrato não há como retratar o que eles passaram na prisão”, conclui ela.

As pesquisas realizadas para o espetáculo apontam que nem o escritor nem a psiquiatra foram torturados na prisão. No entanto, o simples fato de estarem em um ambiente violento foi suficiente para marcar definitivamente as vidas dos dois alagoanos, gerando impactos diferentes em cada um.

“Graciliano publicou livros logo ao sair da prisão, filiou-se ao Partido Comunista, foi candidato a deputado e relatou sua experiência em Memórias do Cárcere, publicado postumamente”, recorda Cury. “Ao contrário dele, depois de liberada, Nise passou oito anos escondida no interior da Bahia por medo de ser presa novamente. Só retomou a sua carreira em 1944, quando a perseguição política do Estado Novo foi amenizada”, acrescenta.

Nesse cenário, a peça é um elogio à liberdade e procura retratar de uma maneira simbólica o horror da Era Vargas ditatorial e da perseguição política. A amizade entre essas duas figuras marcantes para a história do país ressalta, também, a importância do afeto para as pessoas em circunstâncias adversas.

Encontros
Nise e Graciliano estiveram presos entre os anos de 1936 e 1937. Alagoanos, foram apresentados por um amigo devido à procedência em comum, dando início a uma amizade que ganhou força pela cumplicidade do cárcere. Embora ficassem em alas separadas, encontravam-se nos banhos de sol e na enfermaria, quando falavam de assuntos de interesse comum.

Também isolados fisicamente, em outra circunstância, Cury e Gabriela elaboraram a dramaturgia de Chego até a janela e não vejo o mundo durante o isolamento social vivido na pandemia de Covid-19. No entanto, para mergulhar na psiquê dos dois personagens, os dramaturgos deram início a uma constante troca de correspondências, como se fossem Nise e Graciliano.

No palco, o encontro entre essas duas personalidades ganha vida através da atriz Simone Iliescu e do ator Erom Cordeiro. Juntos, os personagens vivem momentos que transitam entre o afetuoso e o aterrorizante, com a iluminação de Aline Santini, cenário de Camila Schmidt e trilha sonora original de Federico Puppi.

Sobre Graciliano
Graciliano Ramos nasceu dia 27 de outubro de 1892, na cidade alagoana de Quebrangulo. Viúvo do primeiro casamento com Maria Augusta de Barros – que morreu no parto da caçula dos quatro filhos com o escritor –, ele casou-se novamente em 1928, com Heloisa Leite de Medeiro, com quem teve mais quatro filhos.

Exerceu diferentes funções profissionais. Na literatura, foi romancista, contista e cronista, escrevendo obras-primas como Vidas Secas e Memórias do Cárcere. Também atuou como jornalista e tradutor, além de exercer cargos públicos, como Inspetor Federal de Ensino Secundário do Rio de Janeiro.

Sobre Nise
Nise da Silveira nasceu em 15 de fevereiro de 1905, em Maceió, capital do estado de Alagoas. Foi a única mulher entre os 157 alunos da turma na Faculdade de Medicina da Bahia, na qual estudou entre 1921 e 1926. Posteriormente, especializou-se em psiquiatria, iniciando a luta contra os tratamentos agressivos da época, como internação, eletrochoques e lobotomia.

Foi responsável pela introdução da arte no cuidado com os pacientes do Centro Psiquiátrico Pedro II. Os que frequentavam a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (Stor) da instituição eram convidados a se expressarem artisticamente, acessando ateliês de desenho e pintura, aulas de esportes, oficinas de teatro, marcenaria e sapataria.

Em 1952, Nise fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, um centro de estudo e de pesquisa, ainda em funcionamento, reunindo obras de atividades produzidas nos ateliês. Cinco anos depois, foi convidada pelo psiquiatra e psicoterapeuta suíço C.G. Jung, fundador da psicologia analítica, para apresentar parte deste trabalho no II Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique.
 
O interesse pela expressividade do inconsciente em pinturas e desenhos sob a forma de mandalas aproximou Jung e Nise, que passaram a se corresponder. A psiquiatra brasileira viajou algumas vezes à Suíça para visitar e estudar no Instituto C.G. Jung, em Zurique, e fundou, em 1955, o Grupo de Estudos C.G. Jung no Brasil.

Sobre diretores
Gabriela Mellão é autora, diretora e crítica teatral, colaboradora da Revista Bravo! desde 2006. Compõe o júri teatral do prêmio APCA. Foi repórter teatral da Folha de São Paulo entre 2008 e 2012 e curadora de diversos festivais e editais. É autora de peças como Mutações (2023), com a qual foi indicada ao prêmio APCA de melhor dramaturgia e Sylvia Plath – Ilhada em Mim (2014-18) premiada pela APCA como melhor direção, ambas encenadas por André Guerreiro Lopes.  É também roteirista, diretora e editora das peças/filme como We’re Not in Kansas Anymore (2022 - Seleção Oficial do Silicon Beach Film Festival, em Los Angeles) e Começo do Fim (2022), vencedor do prêmio de melhor filme experimental do Festival Chicago Blow Up, nos EUA.
 
João Wady Cury é jornalista e escritor. Em teatro, é autor de Ossada, Lorca—Ando Comigo Mesmo e Borges—Meus Olhos Brilham Enquanto Como Palavras. Atua há 20 anos em estratégia e criação digital para programas na internet na área de entretenimento e notícias. Tem três livros publicados: Ninguém Solta a Mão de Ninguém (coautoria, Claraboia), Enquanto Eles Choram, Eu Vendo Lenços (HarperCollins Brasil) e o infantil Ziiim (LeYa). Trabalhou em Marie Claire, TRIP, Carta Capital, Veja e nos jornais Estadão, Folha e O Globo.
 
Sobre o elenco
Simone Iliescu é atriz desde os sete anos. Começou no Teatro Vento Forte. Após um tempo em Portugal, com a Companhia de Teatro de Braga, ingressou no Grupo Macunaíma de Antunes Filho, onde além de atriz foi assistente de direção. Em sua passagem pelo Macunaíma integrou o elenco de Medeia, A Pedra do reino e Pret´à´Portêr. No cinema, protagonizou mais de 10 filmes, como Riocorrente, A Espera de Liz, e foi premiada por sua atuação em festivais no Brasil e no exterior. 
 
Erom Cordeiro é alagoano. Começou a fazer teatro em Maceió em 1993 e se formou em teatro na UNIRIO/RJ, em 2000. Nesses 31 anos de carreira participou de mais de 40 espetáculos tendo trabalhado com diretores como Amir Haddad (Mambembe Canta Mambembe), Aderbal Freire-Filho (Macbeth), Ulysses Cruz (O Zoológico de Vidro), Marco André Nunes (Laio & Crísipo), Alessandra Vanucci (Pocilga), Bia Lessa (As Três Irmãs) e Victor Garcia Peralta (Quem Tem Medo De Virginia Woolf?). Em audiovisual, entre vários trabalhos em tv e cinema, foi indicado e também premiado por seu trabalho em séries, curtas e longas.

Ficha Técnica:
Texto e direção:  Gabriela Mellão e João Wady Cury
Atuação: Simone Iliescu e Erom Cordeiro
Cenografia: Camila Schmidt
Iluminação: Aline Santini
Assistente de iluminação: Gabriela Ciancio
Trilha original: Federico Puppi
Operador de som: May Manão e Lucas Bressanin
Figurinista: Dani Tereza Arruda
Preparador físico e coreógrafo: Reinaldo Soares
Fotografia: Giorgio D’Onofrio
Designer gráfico: Ana Fortes
Produção: Corpo Rastreado – Letícia Alves
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques

SERVIÇO
Estreia do espetáculo Chego Até a Janela e Não Vejo o Mundo
Temporada de 28 de março a 14 de abril
De quinta-feira a sábado, às 20h, e domingos e feriados, às 19h 
Na Sala Itaú Cultural (Piso Térreo) 
Capacidade: 224 lugares
Duração: 70 minutos aproximadamente
Classificação Indicativa:  16 anos (temas sensíveis, prisão, tortura)
Entrada gratuita. As reservas de ingressos têm início sempre na quarta-feira da semana anterior às sessões, a partir das 12h, através plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br   
Com Libras.

PROTOCOLOS:
- É necessário apresentar o QR Code do ingresso na entrada da atividade até 10 minutos antes do seu início. Após este horário, o ingresso não será mais válido.
- A bilheteria presencial abre uma hora antes do evento começar, para retirada de uma senha para posteriormente ser trocada pelos ingressos de pessoas que não compareceram.

FILA DE ESPERA:
Os ingressos reservados valem até 10 minutos antes do início da sessão. Quem não conseguiu reservar o seu, pode comparecer ao Itaú Cultural no dia do evento e esperar por possíveis ingressos remanescentes. A fila começa a ser organizada uma hora antes do começo da atração e, caso haja desistência, os ingressos serão distribuídos às pessoas da fila por ordem de chegada.

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô
De terça-feira a sábado, das 11h às 20h.
Domingos e feriados 11h às 19h
Informações: pelo telefone (11) 2168.1777 e wapp (11) 9 6383 1663
E-mail: [email protected]
Acesso para pessoas com deficiência física
Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
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