Jose BecerraEstudar e Voluntariar na Inglaterra e na África: aqui falamos de tempo e de vida
José com sua parceira Angela em uma viagem de bicicleta na bela East Yorkshire
Por José Becerra, Equipe Gaia
Cheguei ao CICD há um mês e meio. Quarenta e cinco dias parecem o primeiro tempo de uma longa partida de futebol; cada dia é um minuto. É um momento perfeito para olhar para trás e aproveitar. Como um disco de vinil antigo, este artigo terá um lado A e um lado B.
O lado A
Ocasionalmente, eu gostaria de pausar minha vida para que o tempo não continue me absorvendo em direção à estrada da morte. Talvez essa seja uma formulação muito complicada, mas suponho que muitas pessoas sintam o mesmo: "A vida está indo rápido, quero ir mais devagar", "O tempo está correndo mais rápido do que antes", "Você está rejuvenescido, por favor, conte-me o segredo".
Ao contrário do que Philip Fry ou a bela adormecida vivem em seus mundos de ficção, o tempo não pode ser pausado na realidade. Mas tenho boas notícias: podemos mudar nossa percepção sobre ele, para sentir que está indo mais devagar. Como fazer isso? Mudando as rotinas. Se todos os dias fizermos exatamente a mesma coisa, nossa memória não considerará as atividades relevantes e não as reterá. Por exemplo: é muito difícil para mim lembrar o que comi há cinco dias.
Mas se mudarmos radicalmente por algum tempo o que fazemos, as novas experiências transformarão nossa percepção de cada prática, mas também os lugares (espaço) e momentos (tempo) onde e quando as desenvolvemos. A ação pode ser tão pequena quanto mudar o meio e a rota que usamos para ir ao trabalho, ou tão grande e significativa quanto vir estudar em um novo país (Inglaterra) para ser voluntário em outro (na África ou no Caribe). Talvez isso possa ser significativo para você também.
Esse princípio ("viaje mais, viva mais"; ou "viaje mais, viva mais devagar") vem de uma conversa que tive em outra experiência de voluntariado perto de Cali (Colômbia) com uma garota de Bogotá. Ela nos contou: "Fui à Argentina por terra, a viagem inteira durou um ano; mas agora que me lembro, sinto que durou cerca de cinco anos". As viagens e os projetos profundos mudam o que costumamos fazer e podem expandir o tempo de maneiras maravilhosas.
O lado B
Meu mês e meio no CICD foi vivido como estudante do Gaia, com minha área de responsabilidade no escritório de Promoção para aumentar minha bolsa de estudos e me envolver em um projeto como voluntário. Minha meta é manter um diálogo com pessoas interessadas em nossos programas e objetivos.
As primeiras semanas foram maravilhosas porque tudo era novo para mim: o campus com longos caminhos em direção aos dormitórios, jardim, academia e entrada; o clima quase chegando à neve; os sons do vento movendo as árvores sem folhas; o uso de calefação e água quente que não é comum nas cidades em que morei antes; a quantidade de portas (para evitar incêndios) que devo abrir para ir ao banheiro ou à saída, como um longo corredor, como um labirinto de abre-fecha...
Agora, tenho uma adaptação aos horários do colégio. Uma hora para limpeza após o café da manhã (e duas se for segunda-feira e o dia de estudo) - brunch às onze horas aos domingos, com exceção dos fins de semana de construção.
Mas, como estou em um lugar e em um clima, em uma comunidade e em um conjunto de tradições que são muito diferentes dos que são comuns em minha terra, a vida continua sendo diferente e o tempo continua passando devagar. Não estou falando de uma lentidão chata de esforços tediosos (como filas de banco), mas da amplitude do tempo para aproveitar cada ação mais profundamente, cada conversa e cada aprendizado... A magnífica e sábia lentidão da tartaruga.
Aqui temos horários estruturados para dias, semanas e meses, mas eles não coincidem com o que costumamos fazer em casa. Agora, imagine que na grande experiência há novas janelas para continuar transformando a percepção do tempo. É como um grande labirinto com outros menores dentro. Essa figura serve para ilustrar que vir para a Inglaterra pode fazer sua vida fluir mais lentamente, mas também em toda a sequência há a viagem à África. Ela será completamente diferente da primeira etapa: outro lugar, pessoas, rotina e atividades: outro continente.
Às vezes, a passagem do tempo tem sido surpreendentemente rápida. Por exemplo, quando chegam as compras de novos alimentos e produtos de limpeza (toda quarta-feira) ou quando volto à academia para uma rotina específica, sinto que a semana realmente passou. Mas, em termos gerais, sinto uma espécie de expansão do tempo nessa experiência, como um todo, como um ciclo de solidariedade, trabalho em equipe e crescimento.
Em alguns dias, quando o dia no escritório é entediante, devido ao excesso de informações disponíveis nas mídias sociais, as horas são longas. Por outro lado, quando estamos viajando, o tempo não é suficiente para visitar cada rua, museu ou monumento. Além disso, na memória, os eventos parecem memoráveis. Estive em York, Flamborough e Liverpool devido a finais de semana abertos ou viagens de domingo. Lembro-me de muitos detalhes dessas viagens.
Com esses exemplos, você pode entender como o tempo parece bem aproveitado para mim durante esse período, fluindo com um ritmo surpreendente.
Isso explica por que estou tão animado para ir à África, mesmo que agora seja março e minha viagem seja apenas em julho. Quero continuar tocando esse disco fonográfico com novas paisagens, pessoas, viagens e livros.
Gosto dessa maneira de sentir o tempo e o espaço, e tudo o que eles têm dentro de si. Quero que o campeonato inteiro seja tão emocionante quanto o primeiro tempo dessa partida que está acontecendo!
Mais informações: Ellen Costa
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