08/12/2023 às 11h02min - Atualizada em 09/12/2023 às 08h03min

Coleção Itaú de Numismática ganha espaço exclusivo para visitação no Itaú Cultural

Entre moedas, medalhas, provas, ensaios, condecorações e objetos ligados ao universo monetário, exibe mais de 2,9 mil peças. O espaço expositivo é permeado por vídeos, obras de arte, livros raros, atividades interativas, acessibilidade e abriga uma sala especial onde repousa o mais valioso objeto: a Peça da Coroação (de Dom Pedro I)

Larissa Corrêa
Estúdio Risco
No andar de cima do já conhecido Espaço Olavo Setubal, o Itaú Cultural inaugura o Espaço Herculano Pires – Arte no dinheiro, mostra que abriga permanentemente a Coleção Itaú de Numismática. A partir de 7 de dezembro, ela apresenta para apreciação do público um amplo recorte dos mais de sete mil itens que compõem este acervo, entre os quais estão raras peças.

São cerca de 1,9 mil moedas, 500 medalhas, 36 cédulas e 464 selos, além de condecorações, livros raros sobre o tema, obras de arte contemporânea e outros objetos de colecionador. No conjunto, a exposição conta a trajetória da construção dos diversos brasis e identidades culturais brasileiras, desde os primórdios até a atualidade.

A concepção e realização do espaço é do Itaú Cultural, com os núcleos de Artes Visuais e Acervos e de Informação e Difusão Digital. A curadoria é de Vagner Porto, mestre e doutor em Arqueologia, pela Universidade de São Paulo. A assinatura do projeto expográfico é de Humberto Pio e Marcelo Dacosta, do Estúdio Risco, e os textos referentes às 26 obras de arte contemporânea, que se encontram no espaço, são de Leno Veras, comunicólogo, pesquisador e professor com foco na abordagem educativa nos campos curatorial e editorial.

Este acervo foi iniciado pelo Banco Itaú em 1984 com a aquisição da coleção de moedas de Herculano de Almeida Pires (1905-1983), então membro do Conselho de Administração da organização. Eram 796 moedas de ouro, prata, cobre, níquel, cupro-níquel, alumínio e bronze. Hoje ela reúne mais de 7 mil itens.

“A memória é uma chave imprescindível para entender quem somos, onde estamos e, assim, abrir as portas para refletirmos sobre o passado e os futuros possíveis. A trajetória das moedas, das medalhas, das cédulas e dos selos nacionais revela muito das nossas identidades”, diz Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú.

“A exposição é um convite para o público conhecer histórias que, por muito tempo, não foram contadas. Por meio do acervo numismático e da arte, acrescentamos uma percepção crítica e criativa às narrativas que formam o nosso país”, acrescenta Jader Rosa, superintendente do Itaú Cultural.

EM EXPOSIÇÃO
Situado no sexto piso do Itaú Cultural – em uma espécie de extensão do Espaço Olavo Setubal no quarto e quinto andares –, o igualmente nobre Espaço Herculano Pires – Arte no dinheiro é todo branco. Um total de 29 vitrines agrupam as peças em 10 temas, como a noção de valor entre os povos originários, negritude e sua invisibilidade histórica, a representação das mulheres, memória histórica revisitada e o começo da colonização. No conjunto, eles revelam uma noção completa de como a identidade brasileira e toda a sua história foi sendo construída.

Uma das peças dos primeiros tempos da implantação do dinheiro no Brasil, em exibição, se chama Português, moeda emitida pela primeira vez antes da viagem de Vasco da Gama, que levou alguns exemplares para a Índia em 1498. De ouro, ela foi cunhada do fim do século XV até meados do século XVI. A peça exposta é de 1499.

Têm, ainda, os raríssimos florins, importantes testemunhos da presença holandesa no país. Também dobrões de D. João V, uma das maiores e mais pesadas moedas de ouro já produzidas pelo homem, que evidenciam toda a riqueza e a opulência que o Brasil viveu. Chamam a atenção, as macutas produzidas em cobre, aqui, para circular em Angola e as fracionadas balastracas confeccionadas durante a Guerra do Paraguai. Vale citar, ainda, a famosa condecoração imperial Ordem da Rosa criada pelo imperador D. Pedro I para perpetuar a memória de seu matrimônio, em segundas núpcias, com Dona Amélia.

Com paredes azuis, uma sala especial rasga o branco do restante da mostra. Embalada por um ambiente sonoro de música instrumental de compositores brasileiros do início do século XX, ela abriga, entre outras, a moeda mais importante do acervo: a Peça da Coroação. Ela foi feita quando o imperador do Brasil D. Pedro I, ao ascender ao trono em 1822, autorizou a cunhagem de moedas no país, com a sua face. Ele proibiu a entrada desta versão em circulação por apresentar, a seu ver, erros inaceitáveis. Hoje, existem no mundo apenas 16 exemplares dela.

INTERATIVIDADE
Além das peças históricas que se estendem por todo o espaço expositivo, outros elementos introduzem o público neste universo, para participação interativa, animações lúdicas e vídeos com depoimentos. Um total de 26 obras de arte contemporânea estabelece outras narrativas e leituras sobre o diálogo, a crítica e a intervenção no dinheiro.

Uma mesa touch, por exemplo, propõe vários jogos de perguntas e respostas, quebra-cabeças e jogo da diferença, podendo ser utilizada por até quatro pessoas simultaneamente. Dois dos 12 livros raros existentes no espaço, estão digitalizados para serem folheados via tela touch: O Meio Circulante no Brasil - Parte I: As Moedas da Colonia do Brasil - 1645 até 1822. (Zurich, Oficina do Instituto Polygraphico, 1897), de Julius Meili; e Catálogo das Medalhas Brazileiras e das Estrangeiras Referentes ao Brazil, da Viscondessa de Cavalcanti, um texto de 1910.

Ainda, um equipamento de raios X desliza por um painel em uma interação que passa por uma cortina de moedas, o mapa do Brasil, a história das casas da moeda e sua cunhagem. Por fim, há uma câmera que captura a imagem do usuário, o qual pode escolher a sua impressão em formato cédula, selo ou moeda.

Nove vídeos de animação contam histórias para o visitante. Uma delas descreve detalhadamente o anverso e reverso da Medalha de Aclamação de Dom João VI. Outra, mostra peças com ilustrações inspiradas em figuras mitológicas, destaca as imagens das divindades e alegorias que remetem ao neoclássico e fazem com que as figuras interajam com as peças. 

Só para mencionar mais um par delas, uma animação revela as trocas entre os povos originários no mundo, especificamente no Brasil antes e depois da chegada dos portugueses – alimentos, especiarias, objetos com e sem valor monetário que indicavam força e prestígio. A história do jangadeiro cearense Dragão do Mar, retratado em quatro medalhas expostas, faz uma relação dele com a abolição da escravatura que aconteceu no Ceará, antes da assinatura da carta da Princesa Isabel, em 1888. 

ACESSIBILIDADE E FORMAÇÃO
Há mais de uma década, as atividades do Itaú Cultural procuram ampliar o acesso para todos os públicos. Nesta exposição permanente, tem nove videoguias em tablets e 10 audiodescrições – uma por eixo. Pelo menos oito objetos táteis, de diversos materiais e formatos, dialogam com a narrativa das obras. Por exemplo, uma moeda de XII florins, de 1645, ou, mais perto da atualidade, uma prova de 100 cruzados, de 1988. Também estão replicadas em formato tátil a condecoração do Imperador da Ordem da Rosa, do século XIX, e um selo de 10 réis, de 1876, com o rosto de Dom Pedro II.

Todo o piso que percorre o espaço expositivo é podotátil. Por fim, um mapa tátil indica este percurso e a  localização dos recursos acessíveis ao longo da exposição. O Núcleo de Formação do IC prepara programação exclusiva que acompanhará a exposição.

HERCULANO PIRES
O acervo de numismática do Banco Itaú começou em 1984 com a aquisição, por Olavo Setubal, da coleção de moedas de Herculano de Almeida Pires, membro do Conselho de Administração do Itaú.

“Lembro quando era criança, dele chegar em casa, aos domingos, geralmente de uma feira ou algum espaço de troca, e tirar do bolso uma moeda para nos mostrar. A gente não entendia muito, mas eu sentia que era uma coisa superimportante para ele”, conta a pedagoga Ana Helena Altenfelder, neta de Herculano Pires, em um dos vídeos apresentados na exposição.

Quando ele morreu, a família decidiu não dividir a coleção e negociar a venda para o Banco Itaú de modo a mantê-la. “Isso foi muito importante não só pelo vínculo afetivo e de amizade que meu avô tinha com a família, mas, também, pela certeza de que o tratamento dado à coleção seria de excelência”, comenta Ana. “Acho que ele ia ficar muito feliz de ver hoje a sua coleção, ajudando o banco a cumprir a sua função social.”

Segundo o arquiteto e numismata Alfredo Gallas, essa coleção era muito boa, mas Olavo Setubal queria reunir um conjunto significativo, para ser considerada uma coleção dos meios de pagamento do Brasil.

Um dia, Gallas foi visitado por um suíço que o convidou a participar de um leilão de moedas obsidionais holandesas (feitas manualmente por eles, cortando chapa de ouro e carimbando), que estava sendo preparado em Genebra. Ele foi em nome de Olavo, comprou, adicionou à coleção e agora o lote está em exibição no espaço expositivo. “São seis moedas de padrão completo, cunhadas no período da ocupação dos holandeses no Brasil. Foram as primeiras moedas cunhadas no Brasil, muito raras. Os brasileiros que as recebiam as derretiam e acabaram sumindo”, diz ele.

Segundo conta, as que estão na mostra foram retiradas de um barco, que naufragou na costa da Bahia, resgatado por volta dos anos de 1960, por um americano. “Esse lote é realmente raro”, observa ele no vídeo também em exibição naquele espaço.

Com histórias assim, a coleção que no início, nos anos de 1980, somava 796 moedas de ouro, prata, cobre, níquel, cupro-níquel, alumínio e bronze, hoje reúne mais de sete mil itens.

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