08/12/2023 às 01h57min - Atualizada em 08/12/2023 às 01h57min

Na pele da batalhadora Renée de “Elas por Elas”, Maria Clara Spinelli se consagra como primeira protagonista trans de novela brasileira

Posição de vanguarda

Maria Clara Spinelli está fazendo história na tevê brasileira. Na pele da sofrida Renée de “Elas por Elas”, a atriz é a primeira trans a ocupar o posto de protagonista em um folhetim nacional. Fruto de uma atualização promovida pelos autores Thereza Falcão e Alessandro Marson no remake do clássico de Cassiano Gabus Mendes, a mudança, no entanto, chama atenção da intérprete da personagem justamente por tratar com naturalidade a questão de identificação de gênero de Renée. “O mais importante não é isso. Renée tem as mesmas características de Carmem, que era feita por Maria Helena Dias, e que estamos trazendo agora de volta, nessa nova versão”, defende Spinelli.
A história gira em torno do reencontro de sete amigas de um curso de inglês que acontece 25 anos depois da última vez em que todas estiveram juntas. Nas sequências de flashback, Renée ainda se apresentava como uma pessoa do sexo masculino, na pele da artista não binária Shi Menegat. A transição, então, aconteceu depois que a maior parte do grupo perdeu contato. “Estamos um passo à frente de produtos internacionais, porque colocamos Renée entre mulheres maravilhosas e diversas”, vibra Maria Clara.
Em “Elas por Elas”, Maria Clara Spinelli divide o posto de protagonista com Deborah Secco, Thalita Carauta, Késia, Isabel Teixeira, Karina Teles e Mariana Santos, que interpretam, respectivamente, Lara, Adriana, Taís, Helena, Carol e Natália. “Estou honrada de estar nesse grupo”, entrega, reconhecendo o quão importante é esse momento em sua carreira. “É uma responsabilidade muito grande. O que mais celebro é que Renée é uma mãe de família, é irmã, chefe de família, batalhadora brasileira e não vem do gueto”, comemora.
Na visão da atriz, é importante explorar personagens trans que não sejam marginalizados, que não tenham sofrido abandono familiar e que tenham recebido apoio na transição. “Isso transforma essa personagem em uma nova narrativa sobre pessoas transgênero que é inédita no Brasil e muito rara no mundo também. Renée não é uma vítima, é mais uma de ‘Elas por Elas’”, enfatiza.
Alguns pontos na trama reforçam essa posição tão valorizada por Maria Clara Spinelli. “Renée é a mais batalhadora de todas elas. Tem menos recursos financeiros, ajudava o marido”, justifica. Além disso, uma alteração promovida no remake aparentemente para mostrar o quanto as mulheres conquistaram mais espaço em relação a 1982, ano em que a versão original de “Elas por Elas” foi exibida. “Carmem não trabalhava para fora, foi uma dona de casa. Isso também é representativo porque o trabalho doméstico nunca foi visto como um trabalho remunerado. Os autores trouxeram essa mulher para o mercado de trabalho”, enaltece.

“Elas por Elas” – Globo – Segunda a sábado, na faixa das 18h.

Ampla diversidade
Nos últimos anos, há um movimento não só na Globo, mas na teledramaturgia brasileira, para garantir a diversidade nas produções. Maria Clara Spinelli faz questão de frisar que “Elas por Elas” não é só sobre a inclusão das pessoas transgênero no protagonismo de uma narrativa ou de uma novela. “Não é sobre nichos, sobre um grupo específico ou uma minoria. Renée está inserida na sociedade junto com outras mulheres que são brancas, negras, de origens diferentes”, avalia.
A atriz também mostra certa preocupação com o fato de ser identificada quase sempre como “atriz trans”. “Sei que alguns jornalistas não falam por mal. Isso é muito sobre mim. Quando você junta dois adjetivos, cria um terceiro”, desabafa. Para ela, o ideal seria que a vissem como atriz. “Enaltecer esse lugar, eu sei que é político. Mas eu acho que é mais político quando a gente coloca a transgeneridade como uma característica e não como um definidor. Eu não sou só isso, sou tantas coisas”, argumenta.

Instantâneas 
# Maria Clara Spinelli teve muito destaque em “A Força do Querer”, novela escrita por Gloria Perez e exibida originalmente pela Globo em 2017, quando deu vida à secretária golpista Mira. Na trama, a personagem era uma mulher cisgênero.
# A primeira novela de Maria Clara também foi escrita por Gloria Perez. Ela participou de “Salve Jorge”, exibida pela Globo entre 2012 e 2013. Na época, ela atuou como Anita, uma vítima de uma quadrilha de tráfico humano.
# Em 2016, a atriz foi uma das protagonistas da série “Supermax”, na Globo. Na história, ela era Janette, que teve um pai violento e alcoólatra.
# A estreia de Maria Clara no cinema foi em 2009, quando estrelou “Quanto Dura o Amor?”, dirigido por Roberto Moreira e com roteiro original de Anna Muylaert.

MARIA CLARA SPINELLI, a Renée de “Elas Por Elas”, da Globo  | Márcio Maio - TV Press

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