19/10/2023 às 14h15min - Atualizada em 20/10/2023 às 00h08min

Otelo, o Outro faz releitura da obra de Shakespeare em temporada no Teatro Cacilda Becker

Eliane Verbena
https://verbenacomunicacao.blogspot.com/2023/10/otelo-o-outro-faz-releitura-da-obra-de.html
Carlos, Kenan e Jefferson / Foto de Julieta Bacchin
O espetáculo Otelo, o Outro reestreia no dia 2 de novembro, quinta-feira, no Teatro Cacilda Becker, às 21 horas, com ingressos gratuitos. A temporada segue até o dia 17 de novembro, sempre às quintas e sextas-feiras, às 21 horas (não haverá sessão no dia 9/11), incluindo quatro sessões vespertinas nos dias 9, 10, 16 e 17, às 15 horas. Encenada por Miguel Rocha e com dramaturgia de Israel Neto, Joaci Pereira Furtado e Kenan Bernardes, a montagem é uma releitura do clássico Otelo, o Mouro de Veneza, de William Shakespeare (1564-1616). Em cena, os atores Carlos de Niggro, Jefferson Matias e Kenan Bernardes.

Partindo do protagonista da tragédia shakespeareana, a peça é uma potente reflexão poética sobre a identidade do sujeito negro em diáspora. Otelo, o Outro é, pois, uma viagem interna, um mergulho em si mesmo em que o personagem vai se estranhando. Delírio, sonho ou pesadelo, essa viagem ou esse mergulho faz a personagem de Shakespeare encarar outros dois “Otelos” que o habitam e que o guiam num caminho tão intrincado quanto doloroso, que passa necessariamente por Desdêmona, mas percorre outras sendas, explorando ambiguidades e aporias da memória e da identidade afrodiaspóricas, marcadas pelo deslocamento social e cultural.

Ao Otelo shakespeariano não resta outra saída a não ser o suicídio, depois que ele toma ciência do ardil que o levou ao assassinato de Desdêmona, insuflado pela cizânia que Iago plantara com “evidências” que, aos olhos do protagonista, tornaram-se inegáveis. Esse núcleo do enredo da célebre tragédia é o ponto de partida para a sua releitura em Otelo, o Outro, entendendo que a razão de todo o conflito do protagonista nasce de sua condição de estrangeiro – isto é, de alguém socialmente sempre estranho.

Hábil na arte da guerra, o Otelo de Shakespeare é facilmente enredado em intrigas típicas da sociedade de corte europeia que o levam ao feminicídio e ao suicídio, ciente de que nela não há lugar para ele. Na releitura brasileira, tal deslocamento não é a mera inadequação do indivíduo moralmente fraco e emocionalmente suscetível, inepto na percepção das armadilhas da inveja e da ambição, mas o confronto desigual entre duas culturas inconciliáveis, ainda que interdependentes. A encenação pensa a personagem em nossa sociedade pela perspectiva da subjetividade negra, pela consciência dos sintomas e pelas experiências sociais que determinam sua existência: o olhar do outro.

Otelo, o Outro representa um homem inventado como “negro” pelo olhar ocidental, um sujeito que se submete a esse olhar, tentando se integrar por inteiro – “de corpo e alma”, como se diz. O casamento com Desdêmona – uma mulher branca da elite – é a metáfora dessa entrega incondicional a um sistema de valores e a comportamentos que o estigmatizam como “o mouro”, ao mesmo tempo que se serve dele. A releitura fala de uma consciência dividida que, aos poucos, mas não sem muita dor, vai percebendo a origem do conflito que a fustiga. Reflete também sobre os mecanismos que recalcam a ancestralidade inscrita no corpo, repugnada pela sociedade à qual o “mouro” aspira, caminhando para o desfecho trágico da morte – mas não da morte do corpo.

Nessa releitura, Otelo encontra seus outros “eus”, cujas falas foram extraídas de histórias reais de homens pretos brasileiros contemporâneos ou dos discursos do racismo difuso, às vezes mais, às vezes menos sutil, mas de qualquer forma típica de nossa sociedade. Assim, sem filtros e sem superego, um alter ego de Otelo diz verdades incômodas, quase sempre terríveis, dramatizando a perversidade da adesão inconsciente do homem negro ao jogo que o inventa como “negro”. Menos contundente, o outro alter ego é ponderado: ele chama à razão e sugere uma resiliência tática, uma estratégia de sobrevivência diante de algo mais forte, perpassada pela solidão. 

Espetáculo: Otelo, o Outro
Temporada: 2 a 17 de novembro de 2023 -  Quintas e sextas, às 21h.
Não haverá sessão no dia 9/11(quinta, às 21h).
Sessões vespertinas: 9, 10, 16 e 17, às 15h.
Ingressos Gratuitos. Duração: 80 min. Classificação: 16 anos.
Local: Teatro Cacilda Becker
Rua Tito, 295 - Lapa. São Paulo/SP. Tel.: 3864-4513. 198 lugares.
Reserva de ingressos para grupos: solicitar pelo e-mail [email protected]

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