03/10/2023 às 16h51min - Atualizada em 03/10/2023 às 20h05min

Diogenes Moura lança livro de crônicas

O Pinguelo Rígido – UM SURTO BAIANO

Silvia Balady
Foto Daniel Kfoury
Escrito entre 2015 e 2023, o pinguelo rígido UM SURTO BAIANO , constrói uma polaroide urbana com textos precisos, a partir de cenas que o autor presenciou nas ruas de Salvador, cidade que conhece desde o dia 2 de julho de 1971, quando, vindo do Recife, chegou com sua família para viver no bairro da Liberdade.
 
Com uma narrativa repleta de personagens reais, ao lado da ficção poética e limítrofe sempre presente na obra do autor, o pinguelo rígido UM SURTO BAIANO também diz sobre a violência embutida nas ruas da cidade; as cenas absortas dentro dos hotéis; o aluguel dos pa­lácios tombados pelo patrimônio histórico para “eventos” feito pelos carnegões da casa grande; a cadeira elétrica infra-humana que carrega os animais para o abate na feira de São Joaquim; os últimos dias de Kelly Cyclone, a Dama do Pó; a exploração do homem do ferro que tra­balha dentro de um dos arcos da Ladeira da Conceição da Praia:
“Corre, homem bafio! Desce as escadas que levam ao mar e conta para suas parceiras que vivem lá por baixo, às bordas do contorno da avenida, que amanhã outra mulher vai levar a filha à escola para ver se a menina não se torna uma mulher bafio, uma mulher espectro, uma mulher exumada, uma mulher carniça antes da porra do carna­val chegar e pronto: arregaça bala, faca, garrafa quebrada no corpo da menina para roubar qualquer nada e a menina cai sem vida na porta do palácio, logo cedo”.
No livro, entre violência e paixão, o escritor deixa claro o seu incomo­do com os turistas e/ou agregados que, vindos em grande parte do Sudeste do país, chegam à cidade para, em menos de uma semana, se tornarem filhas ou filhos de santo, entre outros detalhes de intimidade perversa e sintomática:
“Vosmicê quer tirar uma foto comigo, é? Então pague. Não estou aqui fantasiada de “baiana típica” para fazer parte da paisagem do Pelourinho, não, viu? Quer a minha agonia colorida para postar no Instagram? Então pague. Quer usar o meu corpo preto para sair por aí dizendo que somos um povo alegre: painho, mainha, meu rei? Meu rei, um caralho! A minha sofreguidão não cabe dentro da tela do seu celular”.
Para esses e aqueles, DIÓGENES MOURA criou o termo Cheiradores de Axé e uma série de verbetes a partir de expressões que pertencem à linguagem popular:
“O BOCA-DE-ZERO-NOVE: aquele que vai almoçar ou jantar uma “moqueca desconstruída” em alguma comunidade que virou moda à beira-mar (trema o vale, povo da Gamboa!), pede para não colocar coentro porque pode vomitar desleixos e sai dizendo que pobre­-dendê deve, sim, sonhar acordado, sem tomar banho de folhas”.
Com sua dicção peculiar, sua geografia humana muito particular e uma escrita concisa e abundante em acontecimentos,
o pinguelo rígido UM SURTO BAIANO faz um retrato veloz, realista e tragicômico de uma cidade devastada pela alegria, sempre de braços abertos para ser explorada física e mentalmente, sobretudo nas fatídicas tem­poradas de verão.

Na apresentação do livro, o editor Igor de Albuquerque, escreve:

“Sob o sol negro brilhando visgo, soa nas ruas uma voz que cavalga no lombo das bestas pingueludas da destruição. Voz escrita – alcaloide – a única que até agora foi capaz de, enfim, pôr em prática o processo de zumbificação definitivo do turista, do cheirador de axé.
Vocês irão entender muito bem quando, nas ruas claras do Santo Antô­nio Além do Carmo, cruzarem com aquele sorriso-wanna-be-influen­cer: sinta logo a morrinha do morto-vivo antes dele sair rastejando cidade abaixo. Diz a voz.

E quando perguntarem o que havia de bom, de belo, de justo, lem­bremos sempre que, antes da queda, da boca-de-se-fudê, da imo­lação, antes de morrerem, de morrermos, essa gente esteve viva. Desmedidamente viva”.

SERVIÇO:
Lançamento do livro : o pinguelo rígido UM SURTO BAIANO
Autor: Diógenes Moura
Selo: Exu de Dentro || edição do autor
***Crônicas, 128 págs., R$ 40,00
Data e hora: 5 de outubro  - quinta-feira, 18h30
Local: A Dama e os Vagabundos Bar
Rua Camerino, 94- Casa anexa - Barra Funda


 

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