20/08/2023 às 17h18min - Atualizada em 21/08/2023 às 04h05min

Conversas com Caco Barcellos, Selva Almada e Zezé Motta movimentaram a noite de sexta-feira na FIL

Além do jornalista, da escritora argentina e da cantora e atriz, a Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto ofereceu outras 46 atividades ao público, com diversidade de atrações para crianças e idosos

Verbo Nostro
Caco Barcellos (Foto: Raiza Ferreira)
O jornalista Caco Barcellos, a escritora argentina Selva Almada e a atriz e cantora Zezé Motta, fecharam a noite de sexta-feira (18/8) na 22ª FIL - Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto, durante encontros que trataram de informação, feminicídio e luta contra o racismo.

Um dos mais renomados jornalistas investigativos brasileiros, Caco Barcellos falou sobre os desafios da oferta de informações completas e confiáveis em tempos de redes sociais, focadas na rapidez para derrubar a concorrência em detrimento do aprofundamento da notícia. “Com o advento das redes sociais, hoje são muitos os ‘comunicadores’, que nem são jornalistas. Por outro lado, nem todo mundo que recebe essas informações conhece as diferenças dos gêneros jornalísticos da entrevista e da reportagem, e os juízos sobre todos os assuntos ficam superficiais”, disse o repórter, ressaltando a importância do trabalho de reportagem como complemento da entrevista.

Barcellos também abordou a disputa de espaço entre o jornalismo sério e as notícias falsas, que ele chamou de “fábricas de mentiras que confundem a sociedade em interpretações irreais”. Para ele, “todas as camadas da informação são essenciais. Temos, no jornalismo brasileiro, trabalhos incríveis. Mas também temos coisas muito fugazes”, comentou. Com mais de 50 anos de carreira, experiência com coberturas internacionais e autoria de livros destacados como “Rota 66”, o jornalista comanda há 17 anos o Profissão Repórter, programa que une investigação jornalística à inserção de jovens no contexto profissional prático. “Sou muito fã da juventude, de suas qualidades, rapidez de raciocínio e assimilação de novas tecnologias. Aprendo mais com eles que eles comigo”, festejou.

A questão da abordagem de fatos pela imprensa também foi tema do bate-papo com a escritora argentina Selva Almada. Junto com a Coletiva Palabreria, a autora conversou com o público sobre sua produção literária, a interface da literatura com outras linguagens artísticas e, num recorte especial, falou sobre seu livro “Raparigas Mortas”, em que, partindo de seu inconformismo com o silêncio da imprensa argentina em relação ao assassinato nunca solucionado de três mulheres nos anos 80, ela investiga os casos por conta própria e reúne na obra o rosto feroz do machismo e o desamparo das mulheres pobres. “A imprensa ainda tem uma forma muito desrespeitosa em tratar as mulheres vítimas de violência. É um tema muito doloroso e é difícil quebrar a cultura machista tão arraigada em nossa história latino-americana”, pontuou Selva.

Missão

No encerramento da noite, a atriz e cantora Zezé Motta esteve no Theatro Pedro II participando da conferência “Um canto de luta e resistência”, mediado pela jornalista Fernanda Marx. Diversos pontos que costuram o tema proposto, foram abordados na afetuosa troca que a atriz estabeleceu com o público. Sobre a icônica personagem Xica da Silva, que inseriu Zezé no restrito time de protagonistas pretas da dramaturgia brasileira, ela lembrou o impacto que o trabalho causou, tanto do ponto de vista do reconhecimento de seu talento como também de posturas racistas. “À época, escreveram que eu era uma atriz feia mas exuberante. Essa fala me fez questionar muita coisa em relação a quem eu era enquanto uma mulher negra e fui fazer um curso sobre cultura africana com Lélia Gonzalez, mulher pioneira nesses temas no Brasil. Isso mudou minha vida”, lembrou.

A artista também falou sobre o início da carreira como cantora, ainda adolescente, influenciada e incentivada pelo pai músico; sobre o inconformismo em ser tratada como alguém pertencente a um grupo inferior em função de sua cor de pele; o ingresso no renomado curso de teatro Tablado, no Rio de Janeiro, e a estreia como atriz, aos 17 anos, na peça “Roda Viva”, de Chico Buarque, dirigida por Zé Celso Martinez Corrêa. Falou ainda sobre a repetição de personagens servis e sem amplitude nas tramas; o filme infantil que acabou de gravar; o projeto de trabalhar com direção; o enfrentamento da violência contra a mulher e até sobre morar no apartamento que foi a última residência da escritora Clarice Lispector. “É a maior escritora do mundo”, resumiu.

Uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU), Zezé Motta enfatizou que “o racismo não é assunto só dos negros, mas de todas as pessoas que entendem a violência do racismo e são preocupadas com essa questão. É maravilhoso estar nesse teatro cheio, falando sobre esse assunto”. Com ampla e emocionada participação da plateia, Zezé Motta cantou o poema “Canção da Espera” (Egberto Gismonti/Geraldo Carneiro), declamado por um fã, e, no encerramento, mostrou porque é reverenciada como uma das maiores artistas do País. “Quero agradecer esse momento com música”, disse antes de cantar “Minha Missão”, composição de João Nogueira e Paulo César Pinheiro. “Canto para anunciar o dia, canto para anunciar a noite, canto para denunciar o açoite, canto também contra a tirania....o meu canto é uma missão, em forma de oração, eu cumpro o meu dever...”.

Gerações literárias

As escritoras Micheliny Verunschk e Bruna Beber também estiveram na FIL nesta sexta-feira. Na Sessão Premiados, o bate-papo com Micheliny foi em torno do livro “O som do rugido da onça”, com o qual ganhou um Prêmio Jabuti. O romance conta a história de duas crianças indígenas brasileiras raptadas por pesquisadores alemães no século 19, e que morreram pouco tempo depois de chegarem à Europa. Micheliny explicou que se “encontrou” com essas crianças, chamadas de Iñe-e e Juri, numa exposição fotográfica. “Quando vi as imagens e os dizeres de que foram levadas por cientistas alemães, não consegui ficar na exposição. Voltei para casa perturbada e percebi que a história que eu queria, eu mesma teria que contar”, revelou a autora, para quem a principal ambição de escrita é contar o Brasil. “Mas isso não será na perspectiva dos vencedores, mas, sim, dos vencidos. Daqueles que foram oprimidos e são herdeiros diretos dessas matrizes coloniais”, concluiu Verunschk.

No Salão de Ideias realizado na Biblioteca Sinhá Junqueira, a poeta e tradutora Bruna Beber - revelação da nova geração de escritores brasileiros -, falou sobre sua trajetória com os livros “Rua da Padaria” e “Veludo Rouco”. Bruna destacou o papel da escola, dos professores e de seus pais no início do trabalho com poesia. “A poesia chegou até mim pela escola. Minha mãe também me incentivou muito a escrever e me apaixonei pelas possibilidades que este gênero abre na vida de uma criança que está descobrindo a literatura”, explanou. Além do Salão de Ideias, Bruna Beber também participou do projeto Combinando Palavras, com estudantes da Rede Estadual de Ensino. 

Sobre a FIL

A 22ª edição da FIL - Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto foi realizada de 12 a 20 de agosto e trouxe como tema central a proposição “Entre os extremos, as dualidades: a literatura como elo”. Os homenageados desta edição da FIL foram: Gilberto Gil (autor), Gilberto Dimenstein (autor educação), Luiza Romão (autora local), Stella Maris Rezende (autora infantojuvenil), Danilo Santos de Miranda (patrono) e Madelaine Pires (professora).

Realização 

Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas, Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, Usina Alta Mogiana, GS Inima Ambient e Fundação do Livro e Leitura apresentam a 22ª FIL - Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto.

Patrocínio Diamante
Usina Alta Mogiana e GS Inima Ambient.

Patrocínio Ouro
GasBrasiliano, Savegnago e Itacuã.

Patrocínio Prata
Passalacqua, Ourofino Agrociência, Tracan e RibeirãoShopping.

Patrocínio Bronze
Supermercados Gricki e Santa Helena.

Patrocínio
Acirp, Caldema Equipamentos Industriais, Interunion, Riberfoods, Santiago e Cintra Geotecnologias, Suprir e Vantage GeoAgri.

Instituição Cultural
Sesc

Apoio

Fundação Dom Pedro II – Theatro Pedro II, Biblioteca Sinhá Junqueira, Centro Cultural Palace, Instituto do Livro, CUFA, A Fábrica, Teatro Municipal de Ribeirão Preto, Dauriti Distribuidora, Apis Flora, Stéfani Purificadores, Molyplast Brasil, Passalacqua Tech, Cenourão, Santa Emília, Coderp, Transerp, Guarda Civil Municipal, Polícia Militar, Secretaria da Cultura e Turismo, Secretaria da Educação e Secretaria de Meio Ambiente e Secretaria de Infraestrutura da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto.

Apoio Cultural

Colégio Marista, DE Região de Ribeirão Preto, ETEC – José Martimiano da Silva, Fundação Educandário Cel. Quito Junqueira, SESI, Centro Universitário Barão de Mauá, Centro Universitário Moura Lacerda, Unaerp, Adevirp – Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto, Associação de Surdos de Ribeirão Preto, CAEERP, Fundação FADA, Fundação Panda, Ribdown – Associação  Síndrome de Down de Ribeirão Preto, SOMAR, ONG Arco Íris, Alma – Academia Livre de Música e Artes, Convention & Visitors Bureau – Ribeirão Preto e região, Monreale Hotels, NW3 Comunicação, Grupo Utam, Painew, Verbo Nostro Comunicação Planejada e IPCCIC – Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais.

Sobre a Fundação

A Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, responsável pela realização da Feira Internacional do Livro da cidade.  Com uma trajetória sólida, projeção nacional e mais recentemente internacional, a entidade ganhou experiência e, atualmente, além da feira, realiza muitos outros projetos ligados ao universo do livro e da leitura, com calendário de atividades durante todo o ano. A Fundação do Livro e Leitura se mantém com o apoio de mantenedores e patrocinadores, com recursos diretos e advindos das leis de incentivo, em especial do Pronac e do ProAc.

Mais informações:
www.fundacaodolivroeleiturarp.com
Instagram: @fundacaolivrorp
Facebook: @fundacaodolivroeleiturarp
YouTube: /FeiraDoLivroRibeirao
Twitter: @FundacaoLivroRP

Atendimento à Imprensa
Verbo Nostro Comunicação Planejada

(16) 3632-6202 / 3610-8659
Jornalistas responsáveis:
Andrea Berzotti (16) 99138 6185 ([email protected])
Luciana Grili (16) 99152 2707 ([email protected])
Valter Jossi Wagner (16) 99152 2700 ([email protected])
Colaboração: Gabriel Todaro e Regina Oliveira

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