11/08/2023 às 16h38min - Atualizada em 12/08/2023 às 00h02min

Conheça quatro pais que se encontraram no artesanato

Eles descobriram uma forma de sustentar a casa e de aprofundar as relações com seus filhos

Bacuri Comunicação
Bento de Sumé, na Paraíba, e Mestre J. Borges, no Pernambuco, têm suas histórias marcadas pelo artesanato - Arquivo Pessoal

No próximo domingo, dia 13 de agosto, é comemorado o Dia dos Pais. Embora a celebração aconteça em diferentes datas em outras partes do mundo, por aqui, esta é a principal data do mês de agosto. Ainda tida como uma atividade majoritariamente feita por por mulheres, o ofício artesanal tem se popularizado entre homens que, em dado momento da vida, percebem o artesanato como uma potencial fonte de renda e também como uma maneira de estar mais próximo da família. 

De acordo com Lucas Lassen, diretor criativo da Paiol, loja de arte popular e artesanato de tradição, é muito comum ver casos de maridos influenciados pelas esposas, mas também de homens que, depois de trabalhar em serviços pesados por longos anos, passam a olhar para o artesanato como uma alternativa, que logo depois se torna a principal fonte de renda da casa. “Alguns herdam essa habilidade artística da própria família. Mas outros desenvolvem a partir da necessidade ou até mesmo depois de se verem obrigados a ficar em casa por problemas de saúde ou pela perda do emprego formal. E com isso, além de se transformar em um ofício, o artesanato também se torna uma ferramenta terapêutica que melhora a relação entre pais e filhos”, completa. 

A seguir, conheça histórias de homens que fortaleceram suas paternidades por meio do fazer artesanal. 

Mestre J. Borges | Bezerros, PE

Patrimônio vivo de Pernambuco, Mestre J. Borges tem 18 filhos, quais 5 seguiram seus passos na arte - Arquivo Pessoal

 

Principal referência na xilogravura no Brasil, José Francisco Borges é dono de uma trajetória vivenciada por poucos artistas brasileiros. São mais de 60 anos ininterruptos de uma produção que, ao longo do tempo, tem contribuído para referenciar o imaginário nordestino dentro da cultura popular. “Hoje, a xilogravura se tornou um item de primeira necessidade. Quase todo mundo tem e, quem não tem, continua querendo ter”, afirma o artista internacionalmente conhecido como J. Borges. 

Considerado patrimônio vivo do estado de Pernambuco, Borges é natural de Bezerros, que se tornou um dos principais redutos artísticos do estado. Dono de uma técnica própria de talhar e colorir a madeira, ele conta que sua primeira forma de expressão artística foi, na verdade, a poesia. “Eu só comecei na xilogravura, porque decidi escrever cordéis. Embora o cordel seja uma arte linda, eu acho que a ilustração traz um encanto para a publicação, mas mandar ilustrar era muito caro naquela época (década de 1960). Por isso, eu decidi ilustrar os meus próprios folhetos usando a técnica da xilo”, revela Borges.

A rotina de produção colocou cinco de seus 18  filhos no mesmo caminho. O mais novo de todos, Bacaro Borges - hoje com 22 anos - começou a produzir as primeiras matrizes e impressões por volta dos 5, com auxílio do pai e dos irmãos mais velhos. E embora a comparação seja inevitável, ele se diz orgulhoso tanto das semelhanças, quanto das diferenças apontadas em seus trabalhos. “O que nos diferencia é a vivência. Parte da arte do meu pai apresenta histórias contadas há mais de 60 anos. E mesmo que eu tenha um traço que retrata o nordeste de forma muito parecida com a dele, percebo que tenho inspiração no hoje, nas demandas sociais, na política e outros temas mais atuais. No que depender da gente, esse trabalho vai seguir por muitas gerações na família”, completa Bacaro. 



Sr. Gervásio | Prado, MG

Antes de ser artesão, Gervásio trabalhou na roça por vários anos - Foto Theo Grahl
 

Reconhecido pelos famosos banquinhos de onça, o artesão Gervásio de Oliveira Santos, vive do artesanato há 30 anos. Nascido e criado em Prados, cidade turística próxima a Tiradentes, em Minas Gerais, antes de ser artesão, sua rotina era na área rural. “Eu fiz todo tipo de serviço disponível na roça. E foi lá mesmo que eu comecei no artesanato por incentivo do meu cunhado”, afirma. 

As primeiras peças eram pequenos aviões de madeira, mas a consolidação chegou com os banquinhos que representam animais silvestres e da fazenda, feitos com madeira de demolição encontrada na região. O mais conhecido é o de onça, com pintura amarela e pintas pretas. Recentemente, em 2022, em parceria com a Paiol, ele lançou o banco Pantera Negra, idealizado por Lucas Lassen, que traz os elementos visuais do animal. “Acho essa interação com profissionais como o Lucas muito importante, porque ajuda a estimular a nossa criatividade e também nos ajuda a entender o que o mercado está procurando”, completa Gervásio. 

Pai de quatro filhos, o que mais se interessa pelo artesanato é o mais novo, de 15 anos. Embora ele ainda não consiga prever se o filho deve seguir ou não na profissão, ele diz que ficaria feliz em vê-lo seguir na atividade. “Na verdade, a gente quer ver nossos filhos saudáveis e felizes, né, mas se ele decidir ser artesão, eu vou gostar”, finaliza. 

Bento de Sumé  | Sumé, PB 

Bento de Sumé começou no artesanato depois de um acidente que o tirou do antigo trabalho - Foto Divulgação

 

Atuando com a madeira há 23 anos, o paraibano Bento Medeiros Gouveia é conhecido como Bento de Sumé, por conta de sua cidade natal, no interior da Paraíba. Antes de conhecer o artesanato, por volta dos 18 anos de idade ele chegou a São Paulo, segundo ele, para sobreviver. Por 18 anos, foi ajudante de caminhoneiro, viajando o Brasil e ajudando na carga e descarga de todo tipo de material. Perto de casa, na Ermelino Matarazzo, foi atropelado, o que lhe obrigou a ficar quatro anos parado e com a renda comprometida. Sem poder trabalhar, começou uma saga para tentar uma aposentadoria por invalidez e só conseguiu depois de passar por 13 médicos. 

Ainda em São Paulo, como parte do processo de fisioterapia, foi fazer uma caminhada e no caminho de volta, encontrou um pallet em um terreno aberto, daqueles que estava acostumado usar no dia a dia de caminhoneiro e decidiu levá-lo para casa. Da peça, nasceram os primeiros passarinhos, uma girafa e uma Nossa Senhora Aparecida, de quem é devoto. “Um vizinho viu e insistiu para eu levar a uma feira, mas eu não consegui e acabei dando as peças para as crianças do bairro”, revela ele dizendo que isso lhe fez tão bem que serviu como uma terapia. 

Pai de dois filhos e sem conseguir usar a aposentadoria para bancar a vida em São Paulo, decidiu voltar para Sumé, onde começou a trabalhar com a Umburana, madeira abundante na região. Por lá, fez cursos de aperfeiçoamento com outros artesãos e passou a exibir os trabalhos em casa mesmo, até que um dia, vários turistas de Recife deixaram a sua oficina praticamente vazia. Com o incentivo, ele produziu mais peças e passou a vender em feiras e lojas parceiras, tornando-o um dos principais nomes do artesanato paraibano. O casal de filhos, hoje já adultos, mora em São Paulo e não seguiu a profissão do pai, mas o netinho de 5 anos de idade, se encanta pelas criações do avô que sonha ver o neto se interessar pelo artesanato quando mais velho. 

Getúlio Lima Francisco | Campo Alegre, MG


Getúlio começou no artesanato há dois anos e meio e incentiva o filho de 12 anos - Fotos Alexandre Disaro
 

Pai de dois filhos, um de 12 anos e outro já adulto, Getúlio começou no artesanato recentemente, há cerca de dois anos e meio. Por vários anos, trabalhou em Araxá, como pedreiro, chegando a ficar temporadas de até quatro meses longe de sua casa, em Campo Alegre, no Vale do Jequitinhonha. E embora tenha nascido em uma das mais importantes regiões cerâmicas do Brasil, ele não enxergava o artesanato como uma possibilidade de trabalho. “Essa sempre foi uma atividade muito feminina, para complementar a renda, mas até pouco tempo atrás não era comum ver gente sustentando a casa com a cerâmica”, revela. 

 

Em 2019, depois de machucar a coluna por conta do esforço diário como pedreiro, foi mandado embora e decidiu voltar para casa. Logo depois, veio a pandemia, o que limitou ainda mais as possibilidades de trabalho. Com tempo livre, decidiu participar de algumas oficinas de criação, uma delas, promovida por Lucas Lassen com artesãos locais junto ao Instituto Sociocultural do Jequitinhonha, e acabou gostando. Hoje, junto à esposa, eles produzem vasos, flores e filtros seguindo à risca todas as técnicas e tradições que dominam a região há mais de seis gerações. “Meu filho mais novo, já começa a fazer uma pecinha ou outra. E essa é uma das coisas mais valiosas que o artesanato tem me trazido: a possibilidade de estar dentro de casa e vendo meu filho crescer junto comigo”, completa. 

Todas as peças citadas são encontradas em: www.lojapaiol.com.br ou nas lojas físicas em São Paulo.


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