25/04/2023 às 17h31min - Atualizada em 26/04/2023 às 20h07min

Parcerias de Marilia Trindade Barboza com bambas são reunidas em EP

Áurea Martins, Pedro Miranda, Nina Wirtti, Pedro Paulo Malta e Marcos Sacramento cantam no EP

SALA DA NOTÍCIA Monica Ramalho
Monica Ramalho
Famosa por ter escrito as biografias definitivas de Pixinguinha (1897-1973), Paulo da Portela (1901-1949), Luperce Miranda (1904-1977), Cartola (1908-1980) e Silas de Oliveira (1916-1972), entre outras obras de referência, e pela inventiva gestão do Museu da Imagem e do Som entre os anos 1999 e 2002 , a pesquisadora Marilia Trindade Barboza vai revelar ao público um outro talento: o de compositora.

Em parceria com bambas como Argemiro Patrocínio ("Não vou sofrer"), Nelson Cavaquinho ("Caminhando"), Carlos Cachaça ("Restos Mortais"), Arthur L. Oliveira ("Não se usa mais") e Nelson Sargento ("A gente esquece"), Marilia compôs as cinco inéditas reunidas no EP "Outra Face", que chegará nas plataformas digitais no dia 28 de abril puxado, nesta ordem, pelas vozes de Pedro Miranda, Marcos Sacramento, Pedro Paulo Malta, Nina Wirtti e da veterana Áurea Martins. Os arranjos são do maestro e violonista Luís Filipe de Lima.

Faça o pre-save do EP: https://found.ee/aXW1it

"A música sempre esteve presente na vida de Marilia. Primeiro, estudou piano. Muitos anos depois, convivendo com Cartola, tenho em mim que ele exerceu muita influência na compositora que ela é. Marilia compôs lindamente com os mais diversos parceiros e agora está lançando o seu primeiro disco. O primeiro de muitos", comemora Herminio Bello de Carvalho.

O violonista, compositor, historiador e escritor Luiz Otávio Braga acompanha de perto os feitos de Marilia e escreveu sobre:

"Conheci Marília Trindade Barboza sempre debruçada sobre a música popular urbana do Brasil, notadamente o samba urbano: ela gosta mesmo que se lhe digam ser historiadora da música popular brasileira. Muito mais do que ouvir os baluartes do samba e do choro, assumiu o compromisso de  nos revelar as histórias desses autores, a história de suas práticas culturais, a música como eixo fundamental. Foi assim que nos foi tornado possível conhecer, por exemplo, para além do repertório musical, a significação para a cultura brasileira de um Pixinguinha, Cartola, Paulo da Portela. E foram 13 os livros escritos por Marilia até aqui.

Ao antropólogo – ela, uma deles – sabemos ser crucial a operação de estranhamento e tal implica imergir no ambiente onde se processará a pesquisa, viver o modo de vida, assenhorar-se das condições do dia a dia do grupo a estudar; fazer, para depois poder olhar “de fora” e analisar. E lembro de Darcy Ribeiro. Contou-me ele e aos meus antigos companheiros da Camerata Carioca que, num dia, no Xingu, depois do almoço, vira na taba o cacique deitado na rede e a ser acarinhado por três indiazinhas que lhe catavam os piolhos. E então gritou, da sua: “Você é que é feliz; aí, com essas índias bonitas a lhe catar os piolhos!”.

Passou-se. Dali a pouco as três indiazinhas lançaram-se na rede de Darcy e encheram-lhe os cabelos com os piolhos retirados da cabeça do cacique, pondo-se, em seguida, a catá-los.

A relação de Marília com a comunidade do samba carioca foi tão intensa e sincera que ela assimilou, sem talvez se dar conta, sem premeditação, aquelas práticas musicais, tornando-se também guardiã de um léxico, de uma “gramática" que viriam por torná-la parceira de Nelson Sargento, Carlos Cachaça, Argemiro Patrocínio, Nelson Cavaquinho. Mais um pouquinho e o venerável Cartola teria sido também seu parceiro. Para compensar – em resposta ao "Acontece", do célebre compositor de "Não Quero Mais" e "As Rosas não Falam" – escreveu para Nelson Sargento a poesia do belo "A gente Esquece". Neste EP tem-se a oportunidade de apreciar e se deliciar com a Marília letrista e melodista. Ouça-se, por exemplo, "Restos Mortais", com letra de Carlos Cachaça para a melodia de Marília e "Não vou sofrer", com a parceria de Argemiro quando compõe letra e música para a segunda parte do samba.

Não duvido que Marília tenha ouvido rasgados elogios daqueles compositores; saudações de boas-vindas a um “clube” tão seleto e tão, por assim dizer, machista - Leci Brandão, Dona Ivone Lara, exceções à regra. De sorte que, certamente, o contexto, além da intensa atividade intelectual de Marília, adiaram essa estreia com a qual somos, hoje, agraciados. É uma pequena, mas substantiva amostra extraída de um conjunto de mais de 50 composições.

Vale registrar a ficha técnica do EP tendo à frente a produção musical do violonista e arranjador (de todas as faixas) Luis Felipe de Lima: Kiko Horta (acordeão), Luis Barcelos (bandolim), Thiago da Serrinha (cavaquinho e percussão), Fabiano Segalote (trombone), Eduardo Neves (sax e flauta) e Júlio Florindo (baixo elétrico). Pedro Miranda, Pedro Paulo Malta, Marcos Sacramento, Áurea Martins, Nina Wirti cantam as cinco faixas.

Perceber as práticas! Esta é uma das grandes lições do marxismo, senão a maior delas. Marília Trindade Barboza tanto cantou, viveu e vive entre os sambistas, que faz sambas!".
 
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp