26/06/2024 às 09h54min - Atualizada em 26/06/2024 às 18h05min

A Raiva das Mulheres: Quando reprimida pode levar ao estresse crônico, depressão e ansiedade.

Historicamente, as mulheres foram socializadas para incorporar traços como cuidado, passividade e agradabilidade.

SAMANTHA DI KHALI
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A raiva é uma emoção universal, uma reação visceral a injustiças ou erros percebidos. No entanto, quando se trata de mulheres, a sociedade tem uma relação complicada com essa poderosa emoção. Apesar dos avanços significativos rumo à igualdade de gênero, muitas mulheres continuam sendo instruídas, implícita ou explicitamente, a suprimir sua raiva, especialmente em situações de abuso. Essa supressão não é apenas um fenômeno cultural, mas também uma questão psicológica com profundas implicações. A Dra.Karina Chernacov, psicóloga especializada no tratamento de pessoas vítimas de trauma, é também mediadora familiar da suprema corte na Flórida nos Estados Unidos, explica com mais detalhes como a raiva reprimida destrói a saúde mental.

Historicamente, as mulheres foram socializadas para incorporar traços como cuidado, passividade e agradabilidade. Esses estereótipos estão profundamente enraizados, moldando as expectativas de como as mulheres devem se comportar. A raiva, particularmente em sua forma bruta e não filtrada, é vista como incompatível com esses ideais. Mulheres que expressam raiva são frequentemente rotuladas como irracionais, histéricas ou até mesmo desrespeitosas, enquanto homens que exibem emoções semelhantes podem ser vistos como fortes ou assertivos.

As ramificações desses padrões duplos são especialmente perniciosas em contextos de abuso. Quando as mulheres são abusadas—seja emocional, física ou sexualmente—sua raiva é uma resposta natural e justificada, e digamos, muito saudável ao ocorrido. No entanto, o roteiro social muitas vezes as obriga a permanecerem em silêncio. Esse silêncio imposto pode ser atribuído a vários fatores, incluindo o medo de não serem acreditadas, a culpabilização da vítima ou a crença de que expressar raiva levará a mais violência.

Psicologicamente, a repressão da raiva pode levar a problemas significativos de saúde mental. A raiva que não é reconhecida ou expressa de maneira saudável pode se voltar para dentro, manifestando-se como depressão, ansiedade ou até mesmo sintomas físicos, como dores de cabeça ou problemas gastrointestinais. Além disso, a supressão crônica da raiva pode corroer o senso de autoestima levando a vítima a se prender a um ciclo de vitimização.

É crucial entender que a raiva, em si, não é uma emoção negativa. É um sinal de que algo está errado e um catalisador para a mudança.

Quando as mulheres têm permissão para expressar sua raiva, elas podem reivindicar suas narrativas e começar o processo de cura. Essa expressão deve ser recebida com validação e apoio, em vez de julgamento ou rejeição.

O ideal é que devemos desafiar os estereótipos que ditam o comportamento aceitável para as mulheres, declara a psicóloga Dra.Karina Chernacov . Os sistemas educacionais devem incorporar treinamento em inteligência emocional, ensinando tanto meninos quanto meninas que todas as emoções, incluindo a raiva, são válidas e podem ser expressas de forma construtiva.

 

Profissionais de saúde mental, incluindo psicólogos e conselheiros, desempenham um papel crítico no apoio às mulheres que foram condicionadas a suprimir sua raiva. Esses profissionais podem oferecer ferramentas e estratégias para gerenciar a raiva de maneira saudável. Por exemplo, técnicas cognitivo-comportamentais podem ajudar as pessoas a reestruturarem seus pensamentos e encontrar saídas construtivas para suas emoções.

Além disso, redes de apoio e grupos de defesa são essenciais. As mulheres precisam saber que não estão sozinhas e que existem recursos disponíveis para ajudá-las a navegar por sua raiva e pelas circunstâncias que a provocam. Essas redes podem fornecer não apenas suporte emocional, mas também assistência prática em situações de abuso, como aconselhamento jurídico e abrigo.

Muito embora a raiva das mulheres seja uma força potente que tem sido reprimida por muito tempo, precisamos reconhecer e validar essa emoção. Uma vez que se entende que a raiva é justificada, retiramos qualquer sentimento de culpa com relação ao abuso da própria vítima, ajudando-a a entender que a sua expressão de raiva, ira e fúria vêm ajudar a combater o abuso, ou não o perpetuar.

Quando as mulheres expressam sua raiva, reconhecem que algo está errado e que precisa ser abordado. Esse reconhecimento é o primeiro passo para a mudança. Historicamente, muitos movimentos sociais foram alimentados pela raiva coletiva. Desde o movimento sufragista até as campanhas modernas contra o assédio e a violência sexual, a raiva tem galvanizado as mulheres a lutar por seus direitos e criar mudanças sociais significativas.

Expressar a raiva de maneiras saudáveis pode aliviar esses sintomas como dor de cabeça, hipertensão e problemas gastrointestinais provocados pela reprimenda da raiva. Pode reduzir o estresse e proporcionar uma sensação de alívio e empoderamento, contribuindo para o bem-estar geral.

Expressar a raiva permite que as mulheres afirmem seus limites e se defendam. Quando as mulheres sentem que podem expressar seus verdadeiros sentimentos sem medo de julgamento, elas são mais propensas a assumir o controle de suas vidas e tomar decisões que estejam alinhadas com seus valores e necessidades. Esse empoderamento é crucial para construir um senso de identidade forte e resiliente.

Embora a raiva descontrolada possa prejudicar os relacionamentos, a expressão saudável da raiva pode, na verdade, fortalecê-los. A comunicação aberta sobre os sentimentos, incluindo a raiva, promove a honestidade e a confiança. Quando as mulheres expressam sua raiva de maneira construtiva, isso proporciona uma oportunidade para o diálogo e a resolução de problemas. Isso pode levar a um entendimento mais profundo e a conexões mais fortes com os outros. Por exemplo, expressar raiva de maneira calma e não ameaçadora pode ajudar os parceiros a entenderem as necessidades um do outro e a trabalhar juntos para encontrar soluções.

Para aproveitar o poder positivo da raiva, é importante expressá-la de maneiras saudáveis. Antes de expressar a raiva, reserve um momento para refletir sobre as causas subjacentes. Entender o que desencadeou a raiva pode ajudar a comunicação de forma mais eficaz. Usar declarações com "eu" para expressar sentimentos sem culpar os outros, como por exemplo, "Eu me sinto irritada quando..." em vez de "Você me deixa irritada."

- Atividade Física: Engajar-se no exercício físico pode ser uma ótima maneira de liberar a raiva acumulada e reduzir o estresse, assim como atividades como escrever, pintar ou tocar música podem fornecer uma saída construtiva para a raiva. E buscar apoio numa conversa com um amigo de confiança, um membro da família ou um terapeuta pode fornecer perspectiva e apoio na gestão da raiva.

 

Saiba mais sobre a psicóloga Karina Chernacov pelo instagram:

@Karina.chernacov

 

 


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Samantha di Khali Comunica
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