02/05/2024 às 10h01min - Atualizada em 02/05/2024 às 20h08min

Fintechs e o consignado democratizam o crédito no Brasil

Murilo do Carmo Janelli
Foto: Guilherme Ali de Paula

Guilherme Ali de Paula*

 

O crédito consignado desempenha um papel crucial no contexto econômico do Brasil, já que popularizou o acesso a empréstimos, em geral, de valores reduzidos. O consignado é, atualmente, a principal linha de crédito às famílias, atrás apenas do crédito imobiliário. 

 

Segundo dados da Febraban, em fevereiro de 2024, o país tinha R$ 640 bilhões em crédito consignado, sendo R$ 349 bilhões para servidores públicos, R$ 250 bilhões para beneficiários do INSS e R$ 41 bilhões para trabalhadores do setor privado. 

 

Dados da Dataprev mostram que, somente em dezembro do ano passado, 6,79 milhões de pessoas contrataram empréstimos consignados em todo o país. Essa modalidade de crédito beneficia principalmente servidores públicos de todas as esferas e aposentados e pensionistas do INSS que, através do consignado, têm acesso à taxas de juros mais baixas do que outras opções de crédito no mercado, como empréstimos pessoais não consignados e, principalmente, os cartões de crédito.

 

E isso se deve ao fato de que o pagamento é descontado diretamente do salário ou benefício do tomador, reduzindo o risco de inadimplência para os credores. Além disso, o consignado funciona como potencializador de toda a atividade econômica, especialmente em momentos de desaceleração, quando o consumo ajuda a impulsionar a recuperação do país. 

 

No mercado de crédito consignado brasileiro, destacam-se as fintechs de crédito, empresas que utilizam a tecnologia para inovar e agilizar processos, na comparação com as instituições financeiras tradicionais, como os bancos. As fintechs vêm ganhando destaque nos últimos anos devido à sua capacidade de atender nichos de mercado específicos, alcançando tomadores em todos os municípios do país, oferecendo taxas de juros mais competitivas e proporcionando uma experiência de usuário mais simplificada, menos burocrática, através de diferentes canais de atendimento. 

 

Para se ter uma ideia, de acordo com dados da Global Findex, em 2022, cerca de 1,7 bilhão de pessoas não possuíam uma conta bancária em todo o mundo. Além disso, no Brasil, de acordo com dados da Suno Research, 44% dos 5.570 municípios não possuem sequer uma agência bancária.  E foi para mudar esse cenário que as fintechs surgiram. 

 

As fintechs utilizam tecnologia de ponta, incluindo algoritmos avançados, análise de big data e inteligência artificial para avaliar o crédito dos clientes de forma rápida e eficiente. Isso permite que elas tomem decisões de crédito com base em critérios mais amplos e variados do que os tradicionalmente utilizados pelos bancos. E, ao aproveitar ao máximo a tecnologia, as fintechs simplificam o processo de solicitação de crédito, reduzindo o tempo necessário para aprovação e liberação dos fundos. 

 

Outra vantagem das fintechs é a utilização dos mais variados canais de atendimento, desde o tradicional call center às ferramentas mais modernas como Whatsapp e SMS, que permitem a originação de contratos de empréstimo consignado 100% digital. Uma vantagem significativa para o consumidor que chega ao fim do mês apertado pelas contas e que não precisa se locomover a uma agência bancária ou ficar restrito ao expediente bancário do país.

 

Outro dado importante revelado pela pesquisa recente da McKinsey aponta que as fintechs podem crescer anualmente 15% até 2028 em todo o mundo. O levantamento, realizado com mais de 100 executivos, fundadores, investidores e lideranças seniores do ecossistema, também ressaltou que de 2019 a 2023, as fintechs de capital aberto de todo o mundo quase dobraram sua capitalização de mercado ao alcançar US$ 550 bilhões. No mesmo período, o número de empresas saltou de 39 para 272, com uma avaliação combinada de US$ 936 bilhões. 

 

Entre os segmentos específicos de mercado atendidos pelas fintechs estão pequenas empresas, estudantes em busca de financiamento, crédito para pessoas com histórico de crédito limitado, entre outros. Isso permite que elas entendam melhor as necessidades de seus clientes e ofereçam produtos mais adequados. 

 

Exemplo atual é PixCard, uma fintech voltada para o atendimento de servidores públicos em todo país, com taxas de juros mais baixas do que as instituições financeiras tradicionais. Na mesma corrente da Nubank, Pic Pay, Neon, entre outras fintechs de sucesso, a PixCard vem investindo fortemente na abertura de novos convênios de cartão de crédito e/ou benefício consignado para o funcionalismo público nas esferas estadual, municipal e federal. 

 

Há um potencial significativo para o segmento de cartões de crédito e/ou benefício consignado crescerem nos próximos anos, o que ajudará a ampliar o volume de crédito mais barato e de longo prazo e, certamente, ajudará a turbinar o desempenho da economia brasileira. 

 

E podemos ir um pouco além: ao remover barreiras burocráticas das instituições tradicionais, ainda baseadas no modelo analógico de concessão de empréstimos, as fintechs promovem a inclusão e a democratização dos serviços financeiros para uma base de clientes muito mais abrangente nos lugares mais distantes do país, onde inexistem sequer postos de atendimento bancário. 

 

Com a democratização e o acesso rápido ao crédito mais barato de longo prazo proporcionado pelo consignado e pelas fintechs, milhões de potenciais consumidores e microempreendedores passarão a ter melhores opções de crédito para fomentar um novo ciclo de crescimento no país. 

 

*Guilherme Ali de Paula é Fundador Cotista do Grupo BSO - Brazil Special Opportunities


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