22/04/2024 às 22h14min - Atualizada em 23/04/2024 às 16h00min
Crescimento dos casos de dengue no Brasil possui relação com crise climática, aponta estudo da Fiocruz
Anomalias térmicas colaboraram com o agravamento da epidemia
Nicoly dos Santos
Wikimedia Commons O primeiro caso registrado de dengue no Brasil foi em 1982, mas foi só em abril de 2024 que o país bateu o recorde de mortes causadas pela doença. Segundo dados do Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde atualizados no dia 08, o país registrou 1.116 mortes nos primeiros 3 meses deste ano, uma taxa inédita.
Todo ano em época de chuvas é comum que a doença retorne devido ao crescimento de água parada, fator importante para a reprodução do mosquito Aedes Aegypti, mas neste ano algo diferente aconteceu, o aumento de casos chegou já em janeiro - é normal que comece no final de março e começo de abril – e um novo fator passou a ser considerado, a crise climática.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) órgão que é referência em saúde e ciência em nível internacional lançou uma nova pesquisa na revista Scientific Reports evidenciando como a crise climática se tornou um fator importante no aumento da epidemia de dengue no Brasil.
Segundo a pesquisa, as regiões do país que apresentaram as maiores taxas de incidência de dengue nos últimos anos foram aquelas com alto grau de urbanização e baixo nível de transmissão da doença nos anos anteriores a pesquisa, são elas as regiões Sul e Centro. Além disso, as condições climáticas, como a ocorrência de anomalias térmicas como o calor excessivo, agravaram as taxas de incidência de dengue, mesmo em áreas com taxas de incidência historicamente baixas.
Outro fato importante apontado pela pesquisa é que áreas de maior altitude, hoje, representam uma região com tendência a possuir focos de transmissão da dengue e de outras arboviroses, antes, este fator era considerado limitante na transmissão da doença.
Como resultado deste estudo, a Fiocruz informou que a frequência de anomalias térmicas, caracterizadas por períodos atípicos de calor extremo durante o verão, estão se tornando eventos mais frequentes e imprevisíveis e é o indicador climático mais explicativo do aumento das taxas de incidência de dengue. Além de mostrar que as áreas do Brasil com taxas mais altas de transmissão no último período (2014-2020) eram mais urbanizadas, com taxas de incidência altas o suficiente para transmissão sustentada ao longo do ano e áreas sujeitas a altas temperaturas por um período prolongado. Isto aponta para os efeitos a médio e longo prazo do aquecimento global e os seus possíveis efeitos nos climas regionais.
O Brasil lidou com nove ondas de calor em 2023 o que é preocupante, mas, em 2024 já registrou três ondas somente no primeiro trimestre do ano, o que é ainda mais preocupante tendo em vista que esses eventos estão cada vez mais frequentes e intensos. Por isso, com oito meses pela frente até o final do ano, é muito provável que o ano de 2024 seja o pior da série histórica de dengue e crise climática no país.
