17/04/2024 às 16h34min - Atualizada em 18/04/2024 às 00h00min

Estudo aponta tendência de maior rejeição dos investidores a propostas de empresas listadas nas assembleias de 2024

Constatação é do estudo Lighthouse Brazil 2023-2024, realizado pela consultoria global de serviços estratégicos de governança corporativa Morrow Sodali, com base na comparação dos resultados das votações das AGOs anuais realizadas desde 2020

Morrow Sodali
Agnes Blanco Querido, diretora-geral da Morrow Sodali no Brasil

Em 2023, os acionistas de companhias abertas no Brasil foram mais exigentes quanto aos temas de remuneração de executivos, diversidade nos conselhos de administração e independência de conselheiros, sinalizando um alerta às empresas da B3 nas votações de suas propostas a serem apresentadas na temporada das assembleias gerais ordinárias (AGOs), que acontecem entre março e abril. Essa é uma das constatações do estudo Lighthouse Brazil, elaborado pela consultoria global de serviços estratégicos de governança Morrow Sodali, com base em informações das assembleias de empresas integrantes do IBrX-50 da B3 realizadas em 2023 na comparação com os resultados apurados nas votações anuais desde 2020. O estudo completo está disponível aqui:  Lighthouse, Brazil Edition, March 2024 (morrowsodali.com) 

Segundo a Morrow Sodali, o grau maior de exigência revela que chegou ao fim certa tolerância dos investidores quanto ao cenário adverso incomum, que, entre 2020 e 2022, combinou os efeitos da pandemia, quebra na cadeia global de suprimentos, guerras, inflação e altas taxas de juros no mundo. “Em 2023, num ambiente mais estabilizado, os investidores voltaram a direcionar atenção para questões igualmente relevantes, como remuneração, diversidade e independência de conselhos. E isso deve se manter em 2024”, diz Agnes Blanco Querido, diretora-geral da Morrow Sodali no Brasil.

De acordo com o levantamento do Lighthouse Brazil, a taxa média de aprovação das propostas de remuneração caiu 4,2 pontos percentuais entre 2022 e 2023, de 95,3% para 91,1% — o nível mais baixo desde 2021 e próximo do piso da série histórica (percentual de 90,2% registrado em 2020). Tema de primeira ordem nas políticas das maiores consultorias de voto (proxy advisors) – Institutional Shareholder Services (ISS) e Glass Lewis –, a remuneração é sensível especialmente para os investidores estrangeiros, habituados a uma transparência maior do que a oferecida em geral pelas companhias brasileiras.

Para Blanco Querido, o maior percentual da insatisfação dos acionistas em relação às políticas de remuneração das companhias reflete, em certa medida, o aumento das recomendações de voto contrário às propostas por parte da ISS, que subiram de 33% em 2022 para 37% em 2023. “Embora o percentual de aprovação às propostas de remuneração ainda seja elevado na maioria das empresas brasileiras, os indicadores demonstram que os investidores não estão dispostos a tolerar políticas de remuneração com poucas informações ou sem transparência”, pondera a executiva. “As companhias que quiserem apoio de seus investidores às propostas que vão apresentar nas AGOs de 2024 precisarão ter feito a lição de casa”, complementa.

Os números do Lighthouse Brazil mostram que as empresas brasileiras melhoraram em outro tema central na agenda dos investidores: a diversidade de gênero. Em 2020, 29% das companhias listadas no Novo Mercado – o segmento com os mais rigorosos requerimentos de governança da B3 – não tinham nenhuma mulher no conselho de administração. Em 2023, apenas 6% não tinham conselheira. O ponto de atenção, analisa a executiva, é que a participação das mulheres em conselhos ainda está abaixo do considerado como mínimo de representatividade pelas melhores práticas internacionais, que seria 30%. “Observando de outra perspectiva, chama a atenção o fato de que, em pleno 2023, 6% das empresas do Novo Mercado ainda não têm uma mulher sequer no conselho”, diz a diretora-geral da Morrow Sodali.

Independência nos conselhos

A composição do conselho de administração também merece o olhar dos investidores sob o ponto de vista da independência, tema considerado relevante para os proxy advisors. A ISS, por exemplo, recomenda aos seus clientes que votem contrariamente às propostas de conselhos que não tenham ao menos 50% de independentes no caso de empresas listadas no Novo Mercado e no Nível 2.

Segundo o Lighthouse Brasil, nas assembleias de 2023, a média de conselheiros independentes entre as empresas do Novo Mercado caiu de 58% para 54%. Apesar das empresas da amostra listadas no Novo Mercado terem percentual de independência acima do mínimo de 20% de independentes nos boards, exigido pela Resolução 168 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Agnes ressalta que o recuo de 4 pontos percentuais entre 2022 e 2023 acende o alerta para a formação de uma tendência de retrocesso.

O estudo ainda identificou a interrupção de uma trajetória de queda do quórum médio das assembleias, marcante de 2020 a 2022.

No ano passado, a participação média dos acionistas foi de 75,1%, ante 73,6% em 2022. Ainda assim, e mesmo com a consolidação do boletim de voto a distância (BVD) e da via virtual como parte das AGOs, o quórum médio continua bem abaixo do nível registrado em 2019 (80,1%). “Em tese, seria plausível esperar que o BVD e as reuniões virtuais facilitassem a presença e atraíssem ainda mais investidores. Mas esse é um mecanismo que continua causando estranheza e dificuldade para alguns acionistas”, observa Agnes. Nesse aspecto, a pandemia foi um verdadeiro divisor de águas. Em 2019, apenas 38% das AGOs incluíam a possibilidade de acesso remoto dos investidores, percentual que saltou para 71% em 2023.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp