09/04/2024 às 16h54min - Atualizada em 10/04/2024 às 00h06min

Falta de consciência ambiental desafia projeto que quer tornar Vila Velha, ES, modelo na gestão de resíduos

Movimento quer transformar lixo em riqueza

Aleandro Coelho
Divulgação

O movimento social “Rumo ao Lixo Zero”, implantado em outubro de 2022 pelo Instituto Movive, uma organização da sociedade civil, tem como objetivo reciclar 90% do lixo produzido pela população de Vila Velha, na Região Metropolitana de Vitória, levando o município ao título de “Cidade Lixo Zero”. Além disso, a ideia é transformar todo o resíduo em riqueza. Mas, o avanço do projeto tem esbarrado num problema que é mundial, a falta de conscientização. “Pessoas sem consciência da sua corresponsabilidade enquanto cidadão e com opinião equivocada do seu papel na sociedade são nosso grande desafio. Precisamos sensibilizar as pessoas a repensar o consumo e a destinar corretamente os seus resíduos, e entendemos que uma das melhores formas é pelo exemplo”, explica Cristina Puppim, conselheira do Movive. 

Uma pesquisa realizada pelo Ipec no ano passado mostrou que pouco mais da metade dos brasileiros, 52%, está muito preocupada com o meio ambiente. Para a maioria dos entrevistados, os governos, empresas e indústrias são os que mais podem contribuir para resolver o problema das mudanças climáticas, 8% atribuem às ONGs ambientalistas e apenas 23% enxergam que a atitude dos cidadãos pode contribuir mais no combate às ações do clima. 

Apesar de ser um projeto que poderá ser estendido para todo o estado, Vila Velha está sendo a primeira cidade da Região Metropolitana a receber o “Rumo ao Lixo Zero”, segundo as organizadoras, pela sua importância histórica. “Começamos o programa no município mais antigo do Espírito Santo, nos bairros Prainha e Barra do Jucu, com o objetivo estabelecido pelas comunidades envolvidas de alcançar o lixo zero até 2030. O Instituto Movive é uma entidade âncora dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU - aqui no estado e enxergamos o ‘lixo’ como uma oportunidade para essa transformação que buscamos, contribuindo no alcance dessas metas, além da melhoria da geração de renda com inclusão produtiva dos catadores e catadoras de material reciclável, que desempenham um papel fundamental nesse processo”, completa Cristina.  

Dados fornecidos pela Secretaria de Serviços Urbanos de Vila Velha mostram que a cidade gerou no ano passado quase 216 mil toneladas de lixo, onde apenas 275 toneladas foram encaminhadas à reciclagem, o que representa em torno de 0,13%, deixando evidente o tamanho do desafio a ser enfrentado. Quando olhamos para o cenário nacional, esse número chega a 4% e está distante do que é estabelecido pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), que é de alcançar até 2040 a meta de recuperação de 20% dos recicláveis secos, e 13,5% dos orgânicos, que hoje não ultrapassa 2%. No ranking das cidades brasileiras mais sustentáveis elaborado pelo Instituto Cidades Sustentáveis, Vila Velha ocupa apenas a 1518ª posição.  

Cristina avalia, ainda, que os avanços do projeto têm outros desafios que precisam ser enfrentados para que Vila Velha se torne referência na reciclagem e compostagem dos resíduos urbanos. “Já avançamos na identificação e mobilização dos atores, que são: a comunidade, o governo e o setor produtivo, além de instituir a Semana Municipal do Lixo Zero, mas ainda é necessário maior envolvimento da gestão municipal. Além disso, é preciso encontrar locais para práticas de compostagem e angariar recursos financeiros para contratação de equipe técnica, já que toda nossa equipe hoje, atuando neste projeto, é formada por voluntariado”. 

De acordo com dados da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), 50% do lixo doméstico é composto por resíduos orgânicos, como cascas de alimentos e jardinagem; 35% pelos recicláveis secos, que incluem plástico, papel, vidro, metal e embalagens multicamadas; e apenas 15% por rejeitos, aqueles materiais que não podem ser reciclados, como resíduos de banheiro, fezes de animal, bitucas de cigarro e restos de comida.  

Mas no conceito “Lixo Zero” a meta é ainda mais ambiciosa, “quando pensamos em lixo apenas 10% deveria ser destinado para os aterros, porque cada vez que um aterro é encerrado, outro precisa ser aberto e isso contamina o solo ao redor, atinge o lençol freático e deixa a região improdutiva. Além disso, os recursos gastos para ‘enterrar’ o lixo poderiam ser investidos em outras áreas, como saúde e educação. Costumamos falar que, dessa forma, estamos enterrando ‘dinheiro’. A responsabilidade de dar a destinação ao resíduo é da fonte geradora, ou seja, nossa. Quando eu vou à farmácia, por exemplo, eu retiro o medicamento da caixa e devolvo a embalagem, porque a legislação garante isso e esse tipo de resíduo não tem valor agregado para o profissional que realiza a coleta, que precisa ganhar em volume, o que às vezes acaba por estimular o descarte irregular”, pondera Cristina. 

O Instituto Movive atua há 25 anos no fomento das ações demandadas pela comunidade, por meio da tomada de consciência de pessoas que se unem com o mesmo objetivo. “Nós atuamos quando somos demandados pelos coletivos de pessoas que conhecem o nosso trabalho através da mídia, por programas e projetos já realizados, ou pelo intermédio de outras pessoas que já se mobilizaram. A partir daí, realizamos reuniões com a comunidade, ações de vivência em oficinas e a distribuição de materiais de suporte com orientações de como separar os resíduos, despertando a consciência individual. Realizamos tratativas com todos os envolvidos a fim de orientá-los sobre os passos para implementação das políticas de reciclagem e compostagem, como em empresas, residências e condomínios. A ideia é fomentar e empoderar esses coletivos para que possam caminhar sozinhos”, explica. 

O tempo para aplicação do projeto depende das características de cada região, “começamos primeiro na Prainha, mas na Barra do Jucu, onde a comunidade é naturalmente mais engajada com esse tipo de ação, o movimento já está mais avançado. Além disso, temos menos áreas disponíveis para realização da compostagem na região da Prainha, porém, existem muitas residências com quintais que podem ser aproveitados. Quem vive na comunidade conhece melhor esses locais e as oportunidades da região”, finaliza. 

Se você também acredita em um mundo mais sustentável com menos lixo e quer fazer parte do movimento levando as ações para sua comunidade, basta acessar o site separeseulixo.com.br para ter acesso a materiais educativos, encontrar locais para destinação dos resíduos ou entrar em contato com os organizadores.


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