26/03/2024 às 17h54min - Atualizada em 27/03/2024 às 00h03min

Perda de processo faz polêmica do vôlei voltar à tona

Andreia Souza Pereira
Internet

No último dia 13, o comentarista Walter Casagrande Jr. e sua antiga empregadora, Rede Globo, venceram a disputa judicial contra o ex-jogador de vôlei, e agora deputado federal pelo Partido Liberal, Maurício Souza, em processo envolvendo fala polêmica do antigo central do Minas acerca de uma cena na HQ do filho do Superman.

 

Em 12 de outubro de 2021, após os jogos olímpicos de Tóquio, o então atleta da seleção postou em seu instagram um print de uma das páginas de um história em quadrinhos com o filho de Clark Kent e Lois Lane, Jonathan Kent. Na linha temporal onde o enredo ocorre, Jonathan atua como o Superman atual, herdando o posto do pai, e assume sua bissexualidade em um capítulo no qual beija seu amigo, Jay.

 

Ao ver a postagem, Maurício compartilhou a imagem com a legenda: “É só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”. Logo em seguida, os comentários de muitos dos seus companheiros foram contrários à sua posição, com nomes de peso como o de Fabi Alvim, Gabi e Carol Gattaz, além de alguns companheiros seus de seleção e de clube.

 

Após os também atletas, torcedores da seleção e do time do Minas se posicionaram contra. A torcida Independente Minas ameaçou boicotar o jogador nos jogos da equipe, ignorando sua presença. Os ocorridos fizeram Maurício sair do clube, após pressão dos patrocinadores, e ser afastado da seleção, com falas do técnico Renan Dal Zotto explicitando sua decisão. Ainda assim, o ex-central fez outra postagem declarando estar do “lado certo”.

 

Para o advogado e defensor da comunidade LGBT, Nilton Serson, nunca uma fala dessa poderia ter sido feita por um atleta que tinha acabado de voltar de Tóquio. Nunca. O próprio argumento não faz sentido algum. Uma criança se espelha em diversas coisas quando vê um desenho, filme, série ou quadrinho, isso é verdade. Agora, achar que a sexualidade dela, que ela talvez nem saiba o que é, pode ser manipulada por um personagem completamente fictício não tem a mínima lógica. Se esse for o ponto de mudança de comportamento, principalmente para algo tão importante, uma criança que passa a sua vida assistindo futebol traria uma Copa para o País. Por muito tempo, a imagem dos jogadores de vôlei foi muito bem vista, pela forma desenvolta e inteligente com a qual se portavam diante dos microfones. Depois desse episódio, seria normal achar alguém que não confia mais no que vê de outros atletas”.

 

Com toda a repercussão gerada pelo episódio, o então comentarista de esportes da Globo decidiu falar sobre, no programa Globo Esporte, transmitido na hora do almoço. Em fala dura, Casagrande declarou: “Eu não me surpreendo em nada, esse cara é homofóbico assumido e clássico. Se você entra em uma sala, tem seis nazistas sentados, você entra e senta, são sete nazistas. Se você defende um homofóbico, você é homofóbico”.

 

Após a fala, motivado pela acusação de homofobia e da parte política, citando os nazistas, Maurício recorreu à justiça por se ver injustiçado pelo comentarista. Em processo, ele pediu direito de resposta e indenização de R$5 milhões, mas a justiça o negou ambos neste mês.

 

“Os nazista foram muitas coisas ruins, inclusive homofóbicos, por mais que o termo não existisse na época. Eles eram contra todo e qualquer LGBT. A fala de Casagrande choca e esse é o objetivo, chocar. Quando você se vê, ao meu ver, de forma lógica, comparado ao pior que houve na humanidade, só existem duas opções, ou você percebe e se redime do seu erro, ou você entra de cabeça nele, se orgulha, e mostra que a fala tinha sentido. Essa segunda parece ter sido a escolha de Maurício, o que é uma pena. Ele, sim, era motivo de inspiração das pessoas, crianças inclusive. Mostrar esse lado vil e terrível joga toda a sua carreira por terra”, complementa Nilton Serson.

 

Veja mais em: Adiamento do julgamento do Atlético Mineiro aponta como a homofobia ainda é tratada no futebol brasileiro – Nilton Serson

Reação contra o racismo no futebol brasileiro e internacional – Nilton Serson


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