15/03/2024 às 18h45min - Atualizada em 16/03/2024 às 00h07min

Álbum de MPB desperta para a importância da preservação ambiental com canções inspiradas no Vale do Ribeira

As composições são inspiradas na natureza, rio e lendas da cidade paulista Sete Barras e pelo isolamento social causado pandemia de Covid-19, mas suas mensagens são universais. As dez faixas têm sonoridade MPB e MPB regional, como as feitas por Almir Sater e Renato Teixeira.

Matheus Luzi
Foto da capa: Dominio público. Arte da Capa: Bruno Soares
O álbum “Sons de Sete Barras” lançado recentemente pelo cantor e compositor DCarvalho é fruto do retorno do artista às composições, quando se mudou para Sete Barras, cidade do interior de São Paulo. As dez faixas divididas entre lado A e B são inspiradas pelas belezas naturais do local, assim como pela atmosfera, rio e lendas do local. À época a pandemia de Covid-19 e o isolamento social reinavam, e os momentos criativos de DCarvalho caminharam juntos.
Ouça "Sons de Sete Barras" nas plataformas de streaming 
Estas características e ambientes dos quais viveu DCarvalho são espelhos que refletem as letras e mensagens das faixas. “É um álbum que traz muitas verdades. A começar com letras que despertam o resgate histórico e a importância da preservação ambiental. Canções compostas durante a pandemia e reflexões sobre a pobreza e o baixo IDH de uma região extremamente rica em recursos e belezas naturais.” Pontuou DCarvalho.
Ele também diz que “O projeto explora, através da música, as enormes riquezas e o grande potencial do Vale do Ribeira, retratando locais turísticos e históricos e trazendo um manifesto de lançamento – a exposição de processos de extração mineral que não tiveram cuidados necessários para a sustentabilidade local. Podemos afirmar que o álbum reforça a bandeira da temática ambiental.”
A faixa “Eu Tenho Cá Pra Mim” abre o álbum enfatizando o amor como energia de transformação, de felicidade. A 2ª faixa, “Quarentena”, é retrato do período de Covid-19, seus efeitos sociais e as mudanças causadas. “Estação de Trem”, a 3ª música, é uma viagem imaginária, inspirada nas abandonadas estações de trem pelo país afora. “Ribeira”, 4ª faixa, também é um passeio, este pelo Rio Ribeira de Iguape, em direção ao litoral, com descrições das belezas e lendas do rio. O lado A se encerra com a 5ª faixa, “A Ponte”, no qual DCarvalho descreve o drama vivido por um personagem que, sem oportunidades, busca sobrevivência fora de sua terra.
O lado B começa com “Sentidos”, um bolero que brinca com os cinco sentidos e indo ao sexto, o sensorial. Também bolero, a próxima faixa, “Fragmentos”, narra as vivências de uma infância pobre, em uma pequena cidade do interior. “Ecoar”, a 8ª faixa, é um tributo a todos os poetas e cantadores, que sonham e impulsionam sonhos coletivos por meio da arte. “Garimpo” (9ª faixa) é sobre as sequelas dos processos destrutivos de extração mineral. Enfim, o álbum se encerra com “Sons de Sete Barras”, a canção que deu origem ao álbum e que conta histórias e lendas de Sete Barras.
Musicalmente, “Sons de Sete Barras” tem um apelo para a MPB regional, como a produzida por Renato Teixeira e Almir Sater, e para a MPB tradicional, como a de Ceumar e Oswaldo Montenegro. DCarvalho ainda pontua a diversidade sonora e de ritmos que podem ser encontradas no álbum. Ele menciona como exemplo o bolero e a folia de reis.
Com arranjos de Omar Campos, o álbum “Sons de Sete Barras” está disponível em todos os aplicativos de streaming e em disco de vinil.

Curiosidades do álbum, por DCarvalho
Sobre a faixa “As Sete Barras”
A canção "Sons de Sete Barras", foi inspirada em histórias e lendas, que remontam as origens da Vila de Xiririca atual município de Eldorado Paulista e o povoado hoje conhecido por Sete Barras. A origem do nome de Sete Barras, tem duas versões.; uma atribui o nome da cidade a barra do rio Etá, que é a sétima barra do rio Ribeira de Iguape, pra quem vem do litoral em direção ao interior. A outra, mais interessante, fala de uma lenda. Um espanhol que subiu o rio, garimpando, a procura de ouro em suas cabeceiras, depois de muito tempo no garimpo, juntou uma grande quantidade de ouro e já estava retornando a Iguape. Nas imediações do povoado, tomou conhecimento, através de um indígena, de que a coroa portuguesa havia montado um posto de arrecadação, um registro do ouro do garimpo, a fim de coletar o quinto da coroa. Esse posto é onde hoje se encontra a cidade de Registro.
O espanhol, pra fugir da cobrança, resolveu fundir o ouro, obtendo sete barras de ouro, enterrou as sete barras e saiu em busca de um caminho alternativo, que o levasse ao litoral, sem passar pelo registro. Depois de muito tempo procurando por esse caminho, acabou encontrando e retornou pra buscar o ouro enterrado. Mas por ter se passado tampo tempo, na sua volta, não conseguiu se lembrar do local exato onde estavam enterradas as sete barras de ouro.
Sobre a faixa “Nego d’água”
Nesses dias, Ivaporunduva recebia muitos visitantes vindos de lugares distantes. Além das atividades lúdicas, as pessoas participavam das atividades religiosas organizadas por um vigário. As pessoas confessavam, comungavam e faziam novena. Num dos dias da festa, alguns homens foram pescar. Lançaram a rede e, ao puxá-la, além dos peixes, havia um menino. Era um negro d’água. Arisco, o negro d’água foi amarrado e levado ao local da festa. Ele foi vestido e, em seguida, batizado pelo vigário. Passou a ser chamado Inácio Marinho. Deram-lhe comida com sal e, assim, aos poucos, foi amansado. Tempos depois, casou-se e teve filhos. Muitos dos seus descendentes vivem, atualmente, na região e carregam o seu sobrenome, Marinho.
Outro negro d’água, cujo nome e sobrenome ainda são muito lembrados, chamava-se Gregório Marinho. Há muitos anos, ao passear pela superfície do rio na região de Pedro Cubas, o negro d’água encantou-se com uma escravizada que vivia na localidade. Também encantada pelo negro d’água, a escravizada incentivava as vindas do seu admirador. Planejando capturá-lo, ela passou a preparar comida com sal, sem que o negro d’água desconfiasse. Aos poucos, ele foi amansando... muitos quilombolas de Pedro Cubas afirmam descender desse casal.
Mais detalhes desta história em: Rios e Sociedades • Rev. Bras. Hist. 39 (81) • May-Aug 2019 •
https://doi.org/10.1590/1806-93472019v39n81-04

Ficha técnica
Arranjos: Omar Campos
Acordeom: Cicinho Silva
Bateria e percussão: Elias Caju
Violão e viola caipira: Omar Campos
Contrabaixo: Omar Campos
Voz: DCarvalho

Sobre DCarvalho
DCarvalho nasceu em 1954 na capital paulista, mas viveu parte de sua vida em Cataguases e Belo Horizonte, ambas cidades mineiras. Atualmente, mora em Sete Barras (SP).
Estudou canto e teoria musical na Emab (MG), e violão e harmonia com Luiz Chaves (Escola de Música Clam, dirigida por Zimbo Trio). Na Fundação das Artes de São Caetano do Sul (SP), estudou teoria musical.
Atuante desde jovem, DCarvalho coleciona diversos prêmios e participações em festivais de música popular, em São Paulo capital, interior e outros estados. Como músico instrumentista e diretor musical, participou de espetáculos de teatro na periferia da capital paulista no início dos anos 1970. Para a Cooperativa Paulista de Teatro, atuou como instrumentista em peças teatrais no final dos anos 1970 e 1980. Como membro do grupo musical Cantochão, atuou no resgate do folclore brasileiro, se apresentando no estado de São Paulo e em programas célebres da televisão brasileira, como “Som Brasil”, “Empório Brasileiro” e “Viola Minha Viola”.
Com a trajetória musical retomada em 2010, participou de Saraus e eventos culturais, em especial pela periferia da capita paulista e pelo interior do estado. Radicado desde 2017 em Sete Barras, compõe e se apresenta em feiras e eventos locais, com apresentações online, no SESC Registro Boteco do Ribeira, LAB pela prefeitura de Sete Barros, Circuito Sesc de artes e Virada SP Online.
Além das artes, DCarvalho é empresário, atua há mais de três décadas na área de publicidade em mídias exteriores. Em 1994, comprou uma propriedade em Sete Barras, onde instalou uma piscicultura, que inclui um pesqueiro e uma pousada rural. Atuou ativamente do movimento da piscicultura no vale do Ribeira, nos finais dos anos 1990 e início dos anos 2000.
Como morador definitivo de Sete Barras, participou da reorganização do Comtur – Conselho Municipal de Turismo, e atualmente é o presidente. Também preside e é cofundador da casa espírita “Casa de Caridade Jésus Gonçalves”.
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