14/03/2024 às 16h09min - Atualizada em 15/03/2024 às 00h08min

Trabalho remoto para o exterior: qualidade de vida e remuneração em dólar atraem profissionais de TI

Por Giuliana Corbo*

Giuliana Corbo
Giuliana Corbo, CEO da Nearsure/ Foto Divulgação

A liberdade e a flexibilidade proporcionadas pelo home office estão hoje ao alcance de muitos profissionais. O modelo de trabalho já era bastante utilizado antes da pandemia da Covid-19. Após a crise sanitária, porém, trabalhar em casa passou a ser uma realidade, e até opção, para profissionais de muitos setores em todo o mundo, especialmente o de TI.

Uma pesquisa da fintech Husky (plataforma que facilita o recebimento de transferências internacionais) mostra que o número de profissionais que vivem no Brasil e trabalham para empresas no exterior cresceu 491% entre 2020 e 2022 (dado mais recente). O total passou de 1.251 pessoas para 11.284.  Os brasileiros da área de tecnologia da informação são os mais requisitados pelas empresas estrangeiras, seguidos por designers, influenciadores digitais e streamers.

A flexibilidade e qualidade de vida, entre outros aspectos positivos advindos desse modelo passaram a ter um peso importante na oferta de vagas e na escolha de muitos profissionais. Desde aqueles que estão se reinventando para ter mais autonomia até aqueles que buscam um novo emprego e os que sonham em ganhar em dólar, mas não querem, necessariamente, deixar seus países de origem. Outra razão que leva profissionais a buscar posições em empresas estrangeiras é a oportunidade de desenvolver projetos desafiadores e trabalhar com as mais recentes tecnologias e tendências de mercado.

Mesclar, no mesmo endereço, a vida profissional e pessoal, ter mais tempo para si ou com a família, não perder horas diárias no trânsito, definir o próprio horário de serviço e ter mais qualidade de vida são fatores que têm levado cada vez mais trabalhadores e empresas a adotarem esse novo padrão laboral.
O perfil, no entanto, vai além do profissional de TI. Profissionais de diversas áreas e cargos têm hoje a possiblidade de exercer suas funções de forma remota. São jornalistas, engenheiros, advogados, consultores, publicitários, administradores, tradutores, pesquisadores, entre tantos outros.

Outra pesquisa da Husky que ouviu, em fevereiro deste ano, 1.629 pessoas que trabalham remotamente, indica que os salários dos brasileiros que trabalham para empresas estrangeiras estão acima da média, com relação aos vistos em empresas locais. O estudo Global Workers 2023 – Panorama sobre os profissionais brasileiros que trabalham para o exterior mostra que esse profissional ganha em dólares, uma média equivalente a R$ 29 mil por mês. A maioria está na área de tecnologia.  

A Husky detalha que 98% residem no Brasil (a metade está concentrada na região Sudeste). E 46% preferem a vida em cidades menores; 54% estão nas grandes capitais, como São Paulo (26,7%), Florianópolis (10%) e Curitiba (9,4%). Ou seja, querem permanecer no local em que vivem, sem abrir mão das vantagens que as empresas estrangeiras podem oferecer.

Homens, sem filhos, e com uma idade média de 31 anos de idade, de acordo com o levantamento, formam a maioria nesse grupo, com 81,5%. Os que moram com os parceiros representam 67,9%, os que possuem bichos de estimação, 60,3%. Os profissionais com nível superior representam 94,9% do total, com destaque para a área de Exatas e cursos ligados à tecnologia.

A consultoria de trabalho flexível Scoop Tecnologies fez um levantamento que demonstrou que empresas que adotam o home office crescem mais rápido. O relatório registra a participação de 554 companhias de 20 setores nos Estados Unidos, desde tecnologia até seguros, que empregam 26,7 milhões de trabalhadores. A receita dessas empresas teve crescimento quatro vezes mais alto (21% entre 2020 e 2022) do que as que optam o modelo presencial (aumento de 5% no período).

Para os profissionais brasileiros de TI, particularmente, atuar em companhias estrangeiras, do conforto de sua casa, é uma possibilidade cada vez mais próxima, devido ao crescimento progressivo da demanda no setor e a busca por mão de obra especializada. Contudo, para galgar essas posições, é necessário preencher requisitos técnicos e ter domínio do inglês ou mesmo de um terceiro idioma. Aspectos culturais e comportamentais entre o Brasil e outros países também são desafios que também devem ser levados em conta no processo de integração e desenvolvimento dos profissionais que sonham com o trabalho remoto para empresas estrangeiras.

A exportação de mão de obra especializada em TI cresceu 36,4% em 2023 em relação ao ano anterior, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). O levantamento mostra que a área fechou o ano de 2022 com R24 bilhões de faturamento em exportações de profissionais do setor. A previsão da instituição é que o Brasil crie mais de 800 mil postos de trabalho entre 2021 e 2025.

Em um cenário em que a maioria dos trabalhadores brasileiros aposta no modelo remoto daqui em diante, o salário, a flexibilidade e a autonomia lideram o ranking de satisfação no trabalho. E mais, de acordo com a pesquisa “Futuro do Trabalho: Onde estamos e para onde vamos", realizada pela plataforma Futuros Possíveis em parceria com o Opinion Box com o objetivo de entender os hábitos presentes na vida dos brasileiros em relação ao trabalho, 70% das pessoas que disseram estar procurando emprego já consideraram trabalhar para empresas de fora do Brasil de maneira remota.

A realidade dos dados mostra que esse é um caminho sem volta, e tanto as empresas quanto os profissionais precisam estar preparados para um futuro cada vez mais digital e dinâmico, que demandará flexibilidade nas relações e modelos de trabalho, sejam eles presenciais, híbridos ou 100% remotos.

*Giuliana Corbo é CEO da Nearsure, empresa que conecta talentos de TI da América Latina com o mercado norte-americano.

 
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