08/03/2024 às 12h02min - Atualizada em 10/03/2024 às 00h06min

Mulheres relatam dificuldades na inserção de mulheres na engenharia e arquitetura

A presença feminina no meio vem crescendo ao longo das últimas décadas, mas ainda requer atenção

Carolina Mesquita
Freepik
A inserção das mulheres na engenharia e na arquitetura tem sido um processo gradual e desafiador, considerando que esses campos ainda são predominantemente masculinos. No entanto, ao longo das últimas décadas, tem havido um aumento significativo na presença feminina nesses setores, o que é crucial para promover a diversidade e a igualdade de gênero nessas profissões.

Historicamente, a engenharia e a arquitetura foram dominadas por homens, refletindo as normas sociais e as restrições culturais que limitavam as oportunidades para as mulheres. As barreiras incluíam preconceitos arraigados, estereótipos de gênero e falta de representação feminina nos espaços educacionais e profissionais.

A arquiteta Regina Catunda ingressou no curso de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC) na década de 1970. Naquela época, a turma era formada em sua maioria por homens. Além de fazer parte de uma minoria, ela recorda que a própria atividade do arquiteto estava se consolidando, uma vez que havia uma visão da profissão muita relacionada à decoração de interiores, que já era realizada pelos decoradores.

“Havia tanto desconhecimento sobre a arquitetura que, quando meu pai ia contar para as pessoas que eu tinha passado na universidade, ele dizia que eu ia cursar engenharia arquitetônica”, lembra a profissional aos risos.

Regina conta que, por ter demorado um semestre a mais que o tempo normal previsão para se formar e ter engravidado logo em seguida, ela não conseguiu uma colocação no mercado de imediato.

“Apareceram vários concursos, todo mundo passou, conseguiu seus empregos, e eu não. Eu tive que enfrentar um mercado que ninguém conhecia e, na época, eu não tinha conhecimento de ninguém, nem mesmo homens, que vivessem de arquitetura, que tivessem escritório e fizesse só aquilo. E eu consegui porque não tive outra opção”, afirma.

Casada com um engenheiro, a arquiteta passou a ter um contato próximo com outros engenheiros e a frequentar o universo das obras para conseguir indicação de trabalhos, incluindo a parte de instalação elétrica e hidráulica. “Eu fazia de tudo. Trabalhei muito com obras pequenas, casas, pequenas obras, prestei muito serviço para o Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Unimed, entre outros”, detalha.

A partir dos contatos que foi fazendo a cada trabalho e através das indicações que recebia é que Regina foi consolidando a carreira e o escritório. Ainda assim, continuou a enfrentar diversos desafios para conciliar a vida profissional e a familiar.

Mãe de quatro filhos, ela conta que levava as crianças para o trabalho e, atuando por conta própria, não tinha um horário fixo de trabalho, o que a obrigava a virar noites acordada em períodos de curto prazo.

“Eu via milhas colegas trabalharem oito horas por dia, bater o ponto no final do expediente e pronto, estavam livre. Eu tinha a flexibilidade de sair de casa mais tarde, levar meus filhos para a obra, para o escritório, mas em compensação não tinha nem sábado, nem feriado, nem dia, nem noite”, afirma.

Além de conviver com muitos engenheiros e outros profissionais nos canteiros de obra, Regina pontua que os homens também sempre ocupavam cargos de gestão e de decisão em empresas que eram clientes em potencial. De lá para cá, o universo da arquitetura já se tornou mais inclusivo, com as mulheres ocupando a maioria das cadeiras nas universidades, por exemplo.

Ainda assim, a profissional avalia que os homens continuam nos postos de poder. “Os postos-chave ainda são ocupados por homens. Os homens são quem ainda possuem os grandes escritórios de arquitetura, são quem assinam as grandes obras, tanto do setor público quanto do setor privado. Essa parte ainda não mudou. Ainda tem muito a ser feito”.

Trabalho sindical

Regina é associada do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Ceará (Senge-CE), o maior e mais antigo sindicato da categoria no Estado. Ao todo, a instituição possui quase 5 mil associados, dos quais 882 são mulheres. Além disso, a instituição possui uma mulher na presidência, a engenheira civil Teodora Ximenes, que está no cargo desde 2016 e vem contribuindo para um maior destaque e sensibilização da presença feminina do setor.

“Esse olhar feminino no Senge faz com que a gente possa fazer mais para a categoria, pois a mulher tem um olhar diferenciado. É certo que a maioria dos engenheiros e arquitetos são homens, mas essas 882 mulheres que estão associadas ao Senge-CE dão um upgrade para a engenharia e arquitetura, porque somos mais sensíveis aos pontos que precisam de atenção, somos mais cordiais, mais humanas”, afirma.

Teodora ainda ressalta o orgulho de, sendo uma mulher, estar à frente do Senge-CE. “O Senge-Ce para mim é como se fosse minha segunda casa. Eu ingressei no sindicato tão logo eu entrei na engenharia. Em 1984, fiquei na diretoria do Senge-CE, período que adquirimos o prédio da nossa sede, e estou feliz de estar de volta, podendo contribuir para a categoria com a minha experiência e conhecimento”.
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