07/02/2024 às 17h07min - Atualizada em 07/02/2024 às 17h07min
Novelas e Atrizes
DO CAFOFO DO DEZENA: CRÔNICA VIVA
Passei o final de 2023, e o início deste ano, em Águas da Prata. A cidade renasceu com o advento do Caminho da Fé. Traçado centenário de tropeiros, que percorre a Serra da Mantiqueira, desde a estância até a cidade de Aparecida, não mais lhes pertence. Ciclistas, peregrinos, curiosos, motoqueiros, os substituíram e percorrem o caminho em busca de introspecção, fé ou medalhas por mais uma conquista.
Sou nascido e criado nessa encosta, onde os dias passam preguiçosos. Este final de ano, não foi diferente. Quando não havia festa, minha rotina começava de manhãzinha com dez quilômetros de caminhada, depois a limpeza de dois terrenos contíguos à casa, ao cabo do guatambu, por fim, o banho e a procura de um lugar para o almoço. Invariavelmente assistia à novela da tarde, Mulheres de areia, por uma afinidade com a cidade de Itanhaém. A narrativa me deixava confuso pelas personagens Rute e Raquel, interpretadas por Glória Pires. Se não bastasse, à noite, ela voltava no papel de Irene em Terra e
Paixão. Aí virava uma meleca.
Fiquei a pensar o quanto é estranha a vida dos atores. Assistindo a uma cena entre Camila Pitanga e Tony Ramos, certifiquei-me que jamais conseguirei ser um. Nada relacionado à timidez que me acompanha desde a tenra idade. Não é isso. Na cena, a belíssima atriz, com os olhos marejados, diz: “Como pude me apaixonar por um canalha como você?” Nesse momento, jamais conseguiria responder o que Tony Ramos respondeu, e que pouco importa. Tornar-me-ia o Severino (Paulo Silvino – Zorra Total) e cairia aos pés da Camila pedindo perdão, que o que quer que tivesse feito, me corrigiria, nunca mais tornaria ao erro, que não conseguiria viver sem ela.
Tem mais, se o diretor quisesse mudar os rumos da história e colocar outro homem em sua vida, me demitira imediatamente. Muito mais, não vou entrar nas cenas dos beijos. Aí seria o fim!
Fernando Dezena é escritor. Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista, Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores e Curador Literário do Espaço Cultural da Boca do Leão
