24/01/2024 às 00h48min - Atualizada em 24/01/2024 às 00h48min

Citroën C3 Feel 1.0 atrai pela simpatia e preço, mas deixa a desejar em conteúdo

Cara e coração

O pequeno C3 é o símbolo de uma nova era para a Citroën no Brasil. A partir dele, a marca abriu mão do refinamento, que caracterizou seus carros até a década passada, e passou a apostar no despojamento e no custo/benefício. Tanto que o SUV C4 Cactus perdeu rapidamente espaço no mercado brasileiro, com queda de 80% nas vendas– (de 18.450 unidades em 2022 para 3.674 no ano passado). Por outro lado, com 30.443 emplacamentos em 2023, a marca não vendia tanto desde 2014. Desse total, 87%, ou 26.578 unidades, foram do C3.
Mas a melhor notícia para a holding que controla a marca, a Stellantis, é que isso representa apenas metade do que sai das linhas de Porto Real. A outra metade é muito bem-recebida por diversos mercados sul-americanos. O compacto da Citroën atua na faixa de entrada do mercado, com versões que começam em R$ 72.990 e vão até R$ 99.990. A versão avaliada, Feel 1.0 MT, fica em um meio-termo, por iniciais R$ 83.990.
A versão é a mais completa entre as animadas com o motor Firefly 1.0 de três cilindros. Este propulsor, produzido em Betim, rende 71/75 cv e 10,0/10,7 kgfm e é gerenciado por um câmbio de cinco marchas. A configuração conta também com rodas de liga leve, ar-condicionado analógico, luzes diurnas em led, computador de bordo, alarme, volante multifuncional, direção, vidros e espelhos elétricos e travas elétricas, inclusive na tampa de combustível, com controle remoto na chave.
Na interface com o motorista, o C3 tem painel em um pequeno visor de TFT com 3,5 polegadas, que exibe o velocímetro digital, temperatura do motor e nível de combustível e dados do computador de bordo. No vazio em torno há luzes-espia para freio, ABS, indicador de cinto de segurança, etc. O lado mais tecnológico no compacto é a central multimídia com tela wide sensível ao toque com 10 polegadas e espelhamento de Android Auto e Apple CarPlay por conexão sem fio.
Os itens de segurança se limitam basicamente ao obrigatório por lei. Ele traz airbag duplo e controle de estabilidade e tração e ABS. Tem ainda lanternas com sinalização de frenagem de emergência, assistente de partida em rampa e travamento automático das portas. Disponível como opcional está o pacote com sensor de obstáculos e câmera de ré, que acrescenta R$ 1.400 ao preço. Na parte estética, a pintura em duas cores acrescenta R$ 2.800 ao preço final.
Outro opcional são as barras de proteção nas portas, que vêm em um pacote de inclui protetor de cárter por R$ 900. É surpreendente esta ideia de tratar um item estrutural como acessório porque o C3 não foi nada bem nos testes de impacto da Latin NCap em julho do ano passado. Ele obteve zero estrelas, com 12,21 pontos de 40 possíveis. Esse resultado tem a ver com o projeto original do C3, pois trata-se de um modelo destinado a mercados periféricos da América Latina, Ásia e África, que usa a arquitetura Smart Car Platform, uma versão simplificada da CMP usada no Peugeot 208 e 2008.
 
Ponto a ponto
Desempenho – O motor Firefly 1.0 de três cilindros de origem Fiat é conhecido no mercado e bastante confiável. Não é uma máquina que impressione, mas cumpre com alguma dignidade o trabalho de movimentar os 1.037 kg do pequeno C3. Ele tem privilegia claramente a função urbana do modelo, tanto que a engenharia da Citroën reduziu a relação da segunda e terceira marchas (em comparação ao Argo), para deixar o modelo mais ágil em velocidades até 60, 70 km/h. Como ele é mais leve que o hatch da Fiat, o consumo nem chega a ser afetado. Nota 7.
Estabilidade – O C3 tem uma boa altura livre para o solo e acerto de suspensão bem firme, que controla bem a carroceria e encara bem buracos e desníveis. Esse acerto até rouba um pouco do conforto dos ocupantes, o que em parte é compensado pelos pneus 195/60 R15, com flanco de 11,7 cm. Como a proposta é andar no asfalto e na cidade, não chega a ser um problema. A direção elétrica é muito leve e agradável de manusear. Nota 8.
Interatividade – O centro das atenções no habitáculo do C3 é a central multimídia Uconnect, de 10 polegadas e conexão sem cabo. A tela fica em posição elevada para facilitar a visualização, mas não tem controle físicos: os comandos são diretamente na tela. O painel digital tem um visor pequeno e é simples demais. A versão não contava com câmera de ré, sensor ou quaisquer recursos de assistência à condução que não seja obrigatório por lei. Nota 6.
Consumo – Chama a atenção a grande diferença de consumo, acima de 40%, dependendo do combustível usado. Isso acontece porque é mais fácil atender aos níveis de emissões com etanol, o que faz com que a engenharia da marca trabalhe mais no consumo de gasolina. O novo C3 cumpriu médias de 9,5 e 10,3 km/l com etanol e 13,2 e 14,5 km/l com gasolina, na cidade e na estrada. São números razoáveis para um modelo urbano 1.0. As notas ficaram em A na categoria e B no geral. Nota 9.
Conforto – O interior do C3 é bem espaçoso e o teto alto reforça a sensação de amplitude. Como é alto e tem boa distância para o solo, consegue encarar bem os desníveis, mas a suspensão é rígida e transfere para os ocupantes boa parte das irregularidades. Os bancos seguram bem o corpo, mas poderiam ser mais macios. O isolamento acústico é menos eficiente que o desejado, mas pelo menos o motor Firefly não é dos mais barulhentos. Nota 7.
Tecnologia – Além da central multimídia Uconnect, com tela de 10 polegadas e espelhamento sem cabo, o C3 tem pouco a oferecer em relação à tecnologia, para um carro recém-lançado. A plataforma é uma versão simplificada para países periféricos da CMP, usada globalmente pela Stellantis. Isso significa, entre outras coisas, numa menor capacidade de responder aos testes de segurança e receber recursos modernos. Como focou mais no baixo custo, os equipamentos de segurança ficam no limite da lei. O motor Firefly é eficiente, tem concepção moderna e é econômico. Nota 5.
Habitabilidade – A boa altura da cabine oferece uma postura mais ereta dos ocupantes, o que torna o espaço no C3 muito amplo para cabeças e pernas. Já a largura reflete a condição de compacto e faz com que três passageiros no banco traseiro tenham de gozar de uma certa intimidade ‑ dois passageiros ali é o ideal. O acesso ao interior é facilitado pela altura do modelo e o porta-malas é muito bom para a categoria, com 315 litros. Nota 8.
Acabamento – O interior do C3 é decorado com bom gosto no design e nas texturas dos painéis internos – como a guarnição do console frontal em azul cobalto ‑, mas os materiais deixam visíveis a preocupação da marca em reduzir custo. Todas as superfícies são rígidas e a finalização é pouco detalhista. Está certo que o novo conceito da marca preza pelo despojamento, mas parece ter havido um certo exagero nesse caso. Nota 6.
Design – Por fora, o C3 faz o estilo fofinho, muito por conta das proporções: é altinho e curto, dando a impressão que é menor do que é realmente. As linhas são atraentes e originais, ao mesmo tempo em que mantém os elementos visuais característicos da marca, como é o caso do capô marcado pelo “double chevron” da marca. Nota 8.
Custo/benefício – O C3 tinha a função de aumentar a participação da Citroën no mercado brasileiro e conseguiu. No caminho, canibalizou o C4 Cactus, que envelheceu ao dividir a vitrine com o novo compacto. Mas o principal fator de vendas é mesmo o preço. Os valores ficam entre os pedidos por modelos subcompactos e outros compactos. O fato de ser alto e espaçoso também transmite uma ideia de valor. Nota 8.
 
Total – O Citroën C3 1.0 Feel somou 72 pontos em 100 possíveis.


Impressões ao dirigir 
Espaço funcional
A simpatia é um grande trunfo do Citroën C3. O modelo faz o gênero fofinho, por conta das proporções: ele é curto como um hatch e tem largura e altura semelhantes. Além de proporcionar um visual robusto, essa configuração de carroceria gera um bom espaço interno, tanto para os passageiros quanto para bagagem. Por dentro, no entanto, não há qualquer luxo. Tudo é funcional, com materiais simples e somente os bancos escapam do revestimento em plástico duro. O C3 é econômico também nos equipamentos. Tanto que a central multimídia até destoa. Trata-se do sistema Uconnect com uma vistosa tela de 10 polegadas instaladas no centro do tablier.
Sob o capô, o C3 traz o motor Firefly, a primeira sinergia local após a fusão entre PSA e FCA, na criação da Stellantis. É um motor 1.0 conceitualmente moderno, com três cilindros e seis válvulas, com recursos como avanço de ignição em até 50º. Ele nem é tão potente, 71/75 cv, mas esse sistema garante um bom torque, de 10,0/10/7 kgfm, por toda a faixa útil. Na prática, significa que o C3 passa sempre a impressão de estar cheio de disposição, pronto para acelerar – dentro, claro, das limitações de um motor 1.0.
Essa dinâmica fica ainda mais valorizada por conta da 2ª e 3ª marchas 5% mais curtas que no Argo, que usa o mesmo conjunto. O ímpeto de aceleração, no entanto, vai até os 70 km/h, aproximadamente – bem de acordo com a vocação urbana da versão. Tanto que o zero a 100 km/h consome demorados 14,1 segundos. A máxima fica em 160 km/h. Mas dinâmica do C3 é interessante não só por conta da motorização. Como tem uma boa distância livre para o solo, a Citroën se decidiu por um acerto de suspensão mais firme, que evitar a rolagem lateral. Ao mesmo tempo, adotou pneus de perfil alto, 195/65 R15, que amaciam a vida a bordo.
 

Ficha técnica

Citroën C3 Fell 1.0

Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, comando simples no cabeçote e duas válvulas por cilindro. Injeção eletrônica multiponto sequencial e acelerador eletrônico.
Potência máxima: 75 cv e 71 cv a 6 mil rpm com etanol e gasolina.
Torque máximo: 10,7 kgfm a 3.250 rpm com etanol e 10,0 kgfm a 4.250 rpm com gasolina.
Transmissão: Manual de cinco velocidades a frente e uma a ré. Tração dianteira.
Aceleração 0-100 km/h: 14,1 e 15,0 segundos com etanol e gasolina.
Velocidade máxima: 160 km/h com etanol e gasolina.
Diâmetro e curso: 70,0 mm X 86,5 mm. Taxa de compressão: 13,2:1
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson independente com barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás. Traseira com travessa deformável, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás.
Pneus: 195/60 R15.
Freios: A disco ventilado na frente e tambor na traseira com ABS e EBD.
Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,98 metros de comprimento, 1,73 m de largura, 1,60 m de altura e 2,54 m de distância entre-eixos. Altura mínima do solo de 18 cm. Oferece airbags frontais obrigatórios.
Peso: 1.037 kg.
Capacidade do porta-malas: 315 litros.
Tanque de combustível: 47 litros.
Produção: Porto Real, Brasil.
Lançamento mundial: Julho de 2022 (Índia).
Lançamento no Brasil: Setembro de 2022.
Preço da versão Fell 1.0: R$ 83.990.
Opcionais: Pintura em duas cores (R$ 2.800), câmera e sensor de ré (R$ 1.400) e barras laterais nas portas e protetor de cárter (R$ 900).
Preço da versão testada: R$ 85.790.

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