22/01/2024 às 09h44min - Atualizada em 22/01/2024 às 20h00min

Relacionamentos Comerciais Entre o Peru e o Brasil: Perspectivas e Desafios par 2024

Jo Ribeiro
Fonte Lilian Schiavo – Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal
Fonte Lilian Schiavo – Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal

Rafael Torres Morales Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Peru CEO da Rede Internacional de Negócios (RIN).

Atualmente, com uma política econômica ainda pouco clara no Peru e um modelo econômico expansivo, mas com uma crescente necessidade de arrecadação de impostos no Brasil, torna-se evidente a urgência de ambos os países em aumentar sua produtividade e eficácia, por meio de diversas vias, incluindo suas exportações. Este enfoque certamente poderia contribuir de maneira rápida para a melhoria econômica do Peru e do Brasil, aumentando assim um ambiente mais propício para o desenvolvimento de negócios e investimentos não apenas nesses países, mas em toda a região.

Atualmente, o Brasil ocupa a nona posição no ranking mundial do PIB, e um crescimento sustentado é antecipado para o ano de 2024. O Peru, por outro lado, mantém um crescimento constante em termos macroeconômicos nos últimos anos, exceto em 2023, quando uma desaceleração evidente foi observada (devido a fatores externos e internos), e espera-se que seja revertida, de acordo com vários indicadores, durante o ano atual. Portanto, uma iniciativa de ambos os governos para aumentar o intercâmbio comercial, que atingiu apenas US$ 2,5 bilhões em 2023 entre nossos países, não é apenas estratégica, mas também imperativa para alcançar um crescimento real de suas economias.

No que diz respeito às atividades de comércio exterior entre nossos países, até o momento, a balança comercial favorece o Brasil, com US$ 1,8 bilhão em exportações de produtos brasileiros destinados ao Peru. Isso coloca o Peru como o décimo sétimo destino das exportações brasileiras, apesar de o Brasil normalmente figurar como o terceiro ou quarto destino das exportações peruanas.

Embora tenham sido feitos diversos esforços, a disparidade entre nossas balanças comerciais gera o temido "flete muerto" para as exportações brasileiras. Isso é evidenciado nos produtos importados do Brasil, que acabam sendo mais caros no mercado peruano.

 

É importante destacar que uma grande porcentagem dos produtos de ambos os países é transportada via marítima em vez de terrestre (apesar de serem países vizinhos, com uma extensa fronteira). Isso contrasta com a situação na Argentina, que é o terceiro parceiro comercial do Brasil e mantém um intercâmbio comercial muito mais significativo do que o do Peru (isso evidencia a necessidade urgente de melhorar a conectividade terrestre entre ambos os países, bem como a logística complementar necessária para sustentar um fluxo comercial em grande escala).

Até agora, as principais rotas marítimas eram através do Canal do Panamá, mas devido aos crescentes tempos de espera, variando entre 4 e 20 dias, muitas empresas de navegação optam pela rota sul, através do Estreito de Magalhães. Isso torna a rota entre os dois países menos rentável, pois há menos paradas no caminho. Uma alternativa pouco utilizada, mas promissora, é o uso do porto de Tabatinga, na tríplice fronteira com a Colômbia. No entanto, estamos aguardando a aprovação e implementação pelos governos relevantes. Se esse ponto for superado, a utilização da Interoceânica seria ainda mais otimizada, tornando-a mais rentável.

Outro fato relevante, conforme revisado pela equipe de comércio exterior da Câmara Brasil-Peru, é que muitas transportadoras preferem a rota uruguaia, passando pela Argentina e pelo Chile, antes de subir para o Peru, resultando em um uso limitado da rodovia Interoceânica. Embora a fronteira de Iñapari com Assis apresente complicações, como o funcionamento não contínuo da alfândega e a falta de supervisão sanitária, sua utilização pode se tornar mais atraente para o setor privado, reduzindo o tempo de trânsito atual de 12 a 14 dias para não mais que 9 dias por meio dessa rota.

Apesar das complicações e obstáculos a serem enfrentados, como os impostos no Brasil e a falta de conhecimento sobre o mercado brasileiro, não há dúvida de que as exportações peruanas têm amplo espaço para crescer. Esse crescimento será evidente à medida que os problemas mencionados forem resolvidos e o comércio com o Brasil for ainda mais promovido.

O Brasil é um mercado atrativo, com uma população de mais de 200 milhões de habitantes e uma economia em expansão. A busca do governo brasileiro por reduzir as taxas de juros para o usuário final certamente impulsionará o consumo no Brasil, favorecendo os produtos peruanos que já são bem recebidos pelos consumidores brasileiros, como roupas, produtos agrícolas e comida peruana, além dos produtos tradicionais exportados 
continuamente pelo Peru para o Brasil, como cobre, zinco, ouro e farinha de peixe.

Atualmente, o Brasil exporta para o Peru produtos mais industrializados, como produtos químicos, maquinaria, equipamentos eletrônicos e produtos agrícolas clássicos como soja, arroz, óleo e milho. A partir de 2024, as exportações de produtos suínos se somarão às já fortes exportações de gado bovino, aves e seus derivados. A indústria brasileira é forte e produtiva, refletindo-se em sua capacidade de exportar para um mercado peruano com uma crescente necessidade de importação de alimentos básicos.

Além disso, é interessante destacar o uso que o Brasil está fazendo dos portos peruanos para exportar para outros países do Oceano Pacífico. Algumas empresas na parte oriental do Brasil, nos estados do Acre e Rondônia, já estão utilizando essa rota, e espera-se que esse modelo se expanda com o tempo, resultando em uma maior circulação de produtos brasileiros pelo território peruano, atualmente transportados principalmente pelo porto de Matarani. Da mesma forma, espera-se que esse método cresça ainda mais com a inauguração do porto de Chancay em 2025, que, devido às suas características e dimensões, é estimado para se tornar, em muito pouco tempo, o principal porto de toda a América Latina.


É inegável que o comércio entre os dois países experimentará crescimento em 2024. No entanto, a magnitude desse crescimento dependerá em grande medida do trabalho do setor público e do estímulo ao investimento privado em pontos-chave de nossas fronteiras, como Tabatinga, Cruzeiro do Sul e a Interoceânica (melhorando os processos aduaneiros em paralelo com a infraestrutura logística necessária, como terminais, hotéis, armazéns autorizados, etc.). Isso certamente promoverá o interesse do setor privado em aumentar as exportações de e para o Brasil e facilitará a saída de produtos brasileiros para a Ásia por meio do Peru.

Nesse sentido, por meio da Câmara de Comércio Brasil-Peru, recentemente constituída na cidade de São Paulo, esperamos colaborar ativamente na melhoria, promoção e impulso das relações comerciais e de investimento entre ambos os países, em conjunto com diversas entidades públicas e privadas do Peru e do Brasil que confiam em um futuro comum para o desenvolvimento de suas respectivas economias.
 

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