16/01/2024 às 16h17min - Atualizada em 17/01/2024 às 08h00min

O Dilema dos dados da Mobilidade Urbana

Com a crescente adoção do pagamento de subsídios como parte da mudança no modelo de remuneração, cria-se uma janela de oportunidades para equilibrar o sistema

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O avanço tecnológico, embora traga consigo a pressão pela disponibilização de dados abertos, nos lança em um dilema intrigante: quais dados, com que abrangência e quem arca com os custos de sua geração, armazenamento e manutenção?
Atualmente, o sistema de transporte opera predominantemente sob concessões, onde a tecnologia embarcada, responsável pela geração de dados, é contratada pelo concessionário. Esse arranjo levanta questões sobre a responsabilidade, uma vez que o fornecedor tecnológico não possui um vínculo direto com o poder público, mas sim com a entidade privada que o contratou.
A solução para esse desafio reside na clara definição dos dados, nas diretrizes que regem sua utilização e na identificação das responsabilidades pela sua manutenção. No atual contexto jurídico e burocrático brasileiro, gerenciar os dados, em vez da tecnologia em si, parece uma abordagem mais viável.
Com a crescente adoção do pagamento de subsídios como parte da mudança no modelo de remuneração, cria-se uma janela de oportunidades para equilibrar o sistema por meio da disponibilização dos dados especificados pelo poder concedente
Entretanto, ao discutir a abertura de dados, surge uma questão fundamental: faz sentido o usuário de transporte não ter acesso a informações básicas, como rotas, horários e calendários? A falta de conhecimento sobre a oferta prejudica não apenas o usuário, mas também o sistema operador, seja ele público ou privado, ao comprometer a previsibilidade e confiança no serviço.
Avançando na camada de dados, o usuário deve ter acesso a posição em tempo real do veículo? Isso se torna uma métrica de qualidade e a falta de informação prejudica não apenas o usuário, mas também o sistema operador. A ausência de previsibilidade e confiança no sistema pode resultar na saída de usuários do sistema.
Avançando mais uma etapa, a discussão se volta para o acesso a dados granulométricos e detalhados, como a distância percorrida por passageiro por faixa de renda e o padrão de uso por trecho e faixa horária. No entanto, quem realmente se beneficia dessas informações? Como conciliar a necessidade de melhoria contínua dos serviços com a privacidade dos dados e o risco de uso por mercados não regulados e predatórios?
Assim como as redes sociais sugerem conteúdo com base no padrão de uso de cada usuário, existem mecanismos para aprimorar as ferramentas de mobilidade. Mudanças focadas na demanda, em vez da oferta, podem atender de forma mais eficaz os usuários, permitindo escolhas personalizadas e até mesmo bonificações para aqueles dispostos a fazer escolhas que, embora não sejam consideradas as melhores opções, são aceitáveis quando remuneradas.
Em última análise, o dilema do acesso aos dados na mobilidade urbana é um desafio complexo que exige um equilíbrio cuidadoso com transparência, eficiência e proteção da privacidade. A discussão aberta sobre quais dados podem e devem ser abertos e quais necessitam de controle mais restrito é essencial para moldar o futuro de um sistema de transporte urbano mais inteligente e orientado para o usuário.
Gustavo Planum é mestre em transportes e integrante do Mova-se Fórum Nacional de Mobilidade.
 

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