14/12/2023 às 02h49min - Atualizada em 14/12/2023 às 02h49min

Uma Voltinha no Brás

Do Cafofo do Dezena: Crônica Viva

Ir ao Brás no mês de dezembro é um teste de paciência (ou loucura?). Se não conhecer os meandros e labirintos do bairro, melhor nem arriscar. Primeiro, se for de carro, próprio ou alugado, pare longe das ruas dos maiores comércios populares. Trava de uma tal maneira que chegamos a gritar: “O que é que eu vim fazer aqui!” Melhor andar alguns quarteirões. Segundo, mesmo para andarmos é necessário tolerância. Carrinhos de compras para cá, carrinhos de compras para lá, angolanos lotando as calçadas com seus produtos que só Deus sabe de onde (talvez nem Ele), o buzinaço dos carros, sim, exatamente aqueles desconhecedores, que se arriscaram pelas ruas mais movimentadas. Os chineses fazem um capítulo à parte. Quando não estão fumando, andam com suas motinhos elétricas pelas calçadas, misturando-se com as bicicletas de entregas e com os compradores arrastando suas sacolas. Milhares de pessoas, de diversas nacionalidades, comprando e vendendo numa algazarra sem fim.
Não, não é mentira. Tudo começa às duas da manhã. Não só o comércio das ruas, a maioria dos shoppings populares abre nesse horário. Assim, não adianta ir ao Brás às quatro da tarde que encontrará as ruas vazias, talvez os africanos recolhendo suas lonas, ou chineses alquebrados fazendo um balanço do dia. Por toda a parte, o lixo se amontoa e a prefeitura corre para tirá-lo, antes da chuva. Outro ponto de desconforto é o tempo. Melhor dar uma olhadinha. Muitas ruas alagam, tornando quase impossível atravessá-las. Se, por acaso, for pego de surpresa, lá vai mais uma dica. Consiga dois sacos de lixo, calce-os nos pés até a altura dos joelhos, amarre-os e siga para o seu destino. Não, não leve guarda-chuvas, mesmo porque é quase impossível todos transitarem com eles abertos. Enroscam e trazem dissabores. Vi, certa vez, briga de sombrinhadas pelo estresse causado quando, no ar, elas se engancharam.
Punguista é coisa do passado. Os ladrões de celulares, e bolsas desavisadas, estão por toda a parte. Geralmente, quando se quer mandar uma mensagem, busca-se o refúgio do interior de uma loja. Bolsas e carteiras, juntas ao peito. Pessoas perdidas por toda a parte: “Onde é o Valtier, onde fica a rua Tiers?” Certa vez, trabalhando no mercado financeiro, a agência bancária tinha entrada pela rua Miller e Maria Marcolina, atravessava-se de um quarteirão ao outro. Como a entrada da Miller estava fechada, orientei o cliente a dar a volta e entrar pela Maria Marcolina. Pronto, lá veio a reclamação junto ao Banco Central, pois havia se perdido e não conseguira pagar a conta que precisava. Então, ficam as dicas, pois, apesar da bagunça, o Brás é lindo!

Fernando Dezena é escritor. Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista, Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores e Curador Literário do Espaço Cultural da Boca do Leão

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