08/12/2023 às 02h11min - Atualizada em 08/12/2023 às 02h11min

Coisas do Além

Do Cafofo do Dezena: Crônica Viva

Sou o homem mais descrente do mundo ante às coisas sobrenaturais. Todos aqueles filmes terríveis, assistia sem um arrepio de medo. Sou temente às forças do bem e do mal que regem o universo desde que Lúcifer arrumou aquela briguinha e foi cantar em outro terreiro. Pura inveja. Mas, não é disso que se trata. Tem uma entidade rondando os meus aparelhos eletrônicos. Dia desses, contei a saga para instalar, no Cafofo, o ar-condicionado. Há poucas semanas, calor do cão em Águas da Prata, passeando na rua do comércio de São João da Boa Vista, cidade vizinha, avistei, na porta de um grande magazine, dezenas de ventiladores. Parei o carro, entrei apressado, escolhi um modelo todo preto com saliências cromadas, pedestal de um metro extensivo a dois, facilmente montável, garantiu-me a educada vendedora. Tudo certo, chegando em casa, antes mesmo de pegar a garrafinha de água para molhar a boca, montei e liguei o danado. Parecia aqueles turboélices quando da decolagem. O gozo do vento refrescante só foi perturbado por um leve cheiro de queimado. “Motor novo é assim mesmo, vai cheirar um pouco até amaciar”, afirmei, conhecedor do assunto. Duas semanas depois, já em São Paulo, tomei conhecimento que meu filho o levara para conserto, mais sete dias e o danado estava condenado. “Torrou inteirinho, pai.”
Não vou invocar a presença de nenhuma entidade por um ventilador e um ar-condicionado comprado de um sobrinho, que fugiu para o Canadá. Acontece que meu notebook tem hora que liga, mas, muitas, não liga. Não há voltagem errada para este tipo de aparelho; assim como não comprei daquele sobrinho. Está comigo há tempos e já levei duas vezes ao conserto em virtude do mesmo defeito. O parente do meu cunhado, de São João, abriu, mexeu e não encontrou o defeito. O Dell, quando coloquei frente-a-frente com um técnico paulistano do shopping popular na Avenida Paulista, homem magro e voz calma, ligou com a maior desfaçatez. “Este balcão é mágico”, brincou.
Agora, minha ferramenta de trabalho está inoperante. Há duas semanas sozinho na Mooca, esposa e filha viajando, ouço estranhos barulhos pela madrugada. Portas batendo, chinelos arrastando pelo corredor, armários rangendo. Tenho suportado bem a pressão, desacreditando no além. Mas se o notebook ligar, o atiro pela janela.

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