A Toyota conseguiu duas façanhas no mercado brasileiro. A primeira foi manter o Corolla viável em um mercado que os sedãs médios foram simplesmente dizimados. Com cerca de 3.500 unidades mensais, o Corolla detém 80% das vendas do segmento de 80%. Mas há não muito tempo, ele vendia quase o dobro disso, ou cerca de 6 mil unidades por mês. E é aí que aparece a segunda façanha da marca: conseguiu, com o Corola Cross, herdar os consumidores que abandonaram o sedã. O SUV hoje também vende 3.500 unidades mensais.
Esse desempenho não chega a ser surpreendente. Afinal, o Corolla Cross segue a mesmíssima lógica defendida pelo sedã médio, que é manter um padrão de racionalidade tão alto que é capaz até de emocionar os admiradores. Além de racional, o modelo tem cada detalhe do projeto pensado em oferecer tudo que o segmento exige, sem sobras, mas também evitar qualquer motivo para provocar rejeição. O carro anda bem, tem bom espaço interno, oferece conforto e é eficiente no consumo – na verdade, é o mais econômico no segmento, segundo o InMetro.
Além disso, a Toyota atualmente está buscando alavancar suas vendas com preços mais atraente. Hoje em dia, é o que tem o menor preço e também o melhor custo/benefício do segmento, com uma vantagem de pelo menos 10% sobre o rival mais próximo. A versão testada, XRE, custa R$ 177.390 e é a mais completa com motorização tradicional (2.0 litros aspirado, de 169/177 cv e 21,4 kgfm, e câmbio CVT). O modelo traz revestimento em couro e, desde a linha 2023, passou a ter o Toyota Safety Sense, o pacote ADAS da marca. Ele inclui sistema de alerta de colisão frontal com detecção de pedestres e ciclistas com frenagem autônoma, assistente de faixa, faróis altos automáticos e controle de cruzeiro adaptativo.
O crossover japonês traz ainda ar automático, chave presencial para travas e ignição, rodas aro 18, paddle shift no volante e câmbio com modos Eco e Sport, espelho interno eletrocrômico e faróis de neblina em led. Tem ainda seis airbags, sensor de luz, chuva e estacionamento traseiro, combinado com câmera de ré, luz de condução diurna em led e alarme.
Mesmo que carregue a tradição de resistência da marca, a proposta do SUV da Toyota não é aventureira. Ainda assim, as linhas encorpadas transmitem uma imagem bem robusta. A parte inferior da carroceria e as caixas de rodas são contornadas por molduras em preto e os para-lamas dianteiros e traseiros são bem ressaltados. A frente é dominada pela grade de grandes proporções, que forma com a entrada de ar inferior, também em preto, um conjunto bem agressivo. Tudo é acentuado pelos conjuntos óticos dianteiros e traseiros bem afilados, que dão um ar de modernidade.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 2.0 flex de 169/177 cv movimenta o Corolla Cross com uma certa facilidade, com bom torque em toda a faixa útil de giros, com acelerações bem progressivas. O zero a 100 km/h em 9,8 segundos está alinhado com o segmento e é razoável para um carro com mais de 1.400 kg. O câmbio CVT tem conversor de torque, 10 marchas simuladas e se programa de acordo com a forma de dirigir do motorista. Depois de alguns minutos, ocorre um bom entrosamento entre motor, câmbio e condutor. Para ganhar agilidade, é preciso manter os giros mais altos e para isso basta manter uma maior pressão no acelerador. Mas a ideia do modelo é oferecer um comportamento mais familiar, mas com uma dinâmica robusta. Coisa que o crossover tem. Nota 8.
Estabilidade – A estrutura do Corolla Cross oferece boa rigidez torcional, que se reflete positivamente na estabilidade. O conjunto suspensivo é bem acertado, mas não tem reações tão refinadas, muito por conta do eixo de torção na traseira – que a Toyota argumenta ser mais resistente. De qualquer forma, consegue filtrar bem as irregularidades do piso e demonstra um bom controle de carroceria nas curvas e frenagens. Nota 8.
Interatividade –O sistema multimídia do Corolla Cross tem os recursos esperados no segmento, mas a unidade testada mostrou uma certa dificuldade nas conexões sem fio com smartphones. Além disso, falta o complemento lógico, que é o carregado sem fio. A tela touch de 8 polegadas é de boa qualidade. No cluster principal, a pequena tela em TFT tem informações relativas a consumo de combustível, sistemas de alerta e computador de bordo. O modelo traz ainda chave presencial para travas e ignição, sensor de luz e de chuva, de obstáculos traseiro e câmera de ré. O freio de estacionamento por pedal é um pouco tosco, mas pelo menos alivia o console central de uma alavanca. Nota 7.
Consumo – O InMetro classificou o Corolla Cross XRE com os índices A na categoria e C no geral, com índices de consumo de 8,2 e 11,7 km/l na cidade e 9,0 e 13,0 km/l, na estrada, com etanol e gasolina respectivamente – o que significa uma sutil melhora em relação aos números que obtinha antes da entrada em vigor do padrão L7. O consumo energético caiu dos 1,79 Mj/km para 1,76 Mj/km. Nota 8.
Conforto – O isolamento acústico e a qualidade de rodagem do Toyota Corolla Cross são bastante compatíveis com o segmento e com o que os atuais rivais oferecem. A direção tem peso correto para uma condução calma e os bancos são ergonômicos. É um SUV médio básico, coerente com a faixa de preço. Nota 7.
Tecnologia – A Toyota costuma fazer projetos duradouros. Ou seja: suspensão, plataforma e motorização robustas. O Corolla Cross conta com todos os recursos exigidos no segmento, como sistemas de auxílio avançado ao condutor – ADAS ‑, chave presencial para travas e ignição, sensores de luz e chuva, entre outros. A central multimídia não se mostrou das mais amigáveis, principalmente na hora de estabelecer conexão com o celular. Nota 7.
Habitabilidade – Esse é um ponto alto do Corolla Cross. Mesmo com um entre-eixos menor até que o do sedã, com 2,64 m, há um bom espaço a bordo. A boa altura do modelo, de 1,62 metro, que permite uma postura mais ereta dos ocupantes e facilitar o acesso. O habitáculo recebe muito bem quatro passageiros e razoavelmente cinco. O interior é agradável, prático, mas sem requinte além do revestimento em couro. O porta-malas absorve 440 litros, o que é suficiente. Nota 9.
Acabamento – O acabamento segue o padrão da Toyota: não transmite a sensação de luxo, mas usa materiais resistentes que mantêm o mesmo aspecto ano após ano. Nas áreas de toque, as superfícies são macias, mas a maior parte é mesmo em plástico rígido, com algumas guarnições em preto brilhante. O estofamento é em couro perfurado e pespontado, o que melhora o ambiente. A construção e montagem são de boa qualidade. Nota 8.
Design – O design o Corolla Cross foi pensado mais no sentido de evitar rejeição do que para lançar modo. Não há qualquer ousadia nas linhas, mas é preciso reconhecer que tem certa personalidade. Principalmente pela frente alta e verticalizada, dominada pela grade no estilo bocão. Os ressaltos nos para-lamas emprestam um aspecto bastante robusto ao SUV. A convergência entre teto e a linha de cintura dão uma ideia de movimento. Nota 8.
Custo/Benefício – O Corolla Cross é o SUV médio-compacto com o menor preço no segmento. Esta versão intermediária XRE, é mais barata e mais completa que a versão básica Sport do Compass ‑ R$ 177.390 contra R$ 180.390. E o Corolla Cross ainda traz revestimento em couro e pacote ADAS, o Toyota Safety Sense, ausentes no modelo da Jeep. E tem uma vantagem ainda maior na comparação o Volkswagen Taos e o Honda ZR-V. Nota 9.
Total – O Toyota Corolla Cross XRE somou 79 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Na dose certa
A fama da Toyota de criar produtos racionais encontra uma ótima tradução no Corolla Cross. O SUV faz tudo de forma eficiente, sem sobras ou faltas. O motor é suficiente para acelerar de zero a 100 km/h os 1.420 kg do modelo abaixo dos 10 segundos. O câmbio CVT, com apenas alguns minutos de uso, se adequa à forma de conduzir de quem está ao volante e passa a oferecer uma dinâmica agradável – seja para um motorista que quer explorar um pouco mais a esportividade, seja para quem quer uma condução mais confortável.
De um modo ou de outro, a Corolla Cross se mostra sempre sob controle, embora as reações não sejam tão refinadas por conta da suspensão com eixo de torção na traseira. Ainda assim, o crossover contorna as curvas sem rolar em demasia e se reequilibra rapidamente após uma mudança de direção. Tudo isso mantendo as premissas do sedã que serve de base: ser um veículo para quem quer um meio de transporte seguro, confiável, eficiente e confortável.
O interior tem bom espaço para quatro adultos, o porta-malas oferece corretos 440 litros de capacidade. Uma ausência sentida em um modelo dessa categoria é o carregador por indução, que complementaria muito bem o recurso de espelhamento sem fio da central multimídia – que não é tão amigável quanto poderia. O acabamento é bem-feito, com materiais de qualidade, embora sem luxo. O revestimento em couro e a decoração discreta é um ponto a favor. Os comandos são acessíveis e bem localizados. O Corolla Cross tem muitas qualidades, inclusive dinâmicas, típicas de sedã. Com a vantagem de poder olhar o trânsito do alto.
Ficha técnica
Toyota Corolla Cross XRE 2.0 flex
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, de Ciclo Atkinson, transversal, 1.987 cm³, quatro cilindros em linha, comando duplo no cabeçote, quatro válvulas por cilindro, injeção direta e indireta e acelerador eletrônico.
Potência máxima: 169/177 cv a 6.600 rpm com gasolina e etanol.
Torque máximo: 21,4 kgfm a 4.400 rpm com etanol.
Transmissão: Automática do tipo CVT com conversor de torque, 10 marchas simuladas à frente e uma a ré. Tração dianteira e controle eletrônico de tração.
Aceleração 0-100 km/h: 9,8 segundos com etanol.
Velocidade máxima: 195 km/h com etanol.
Suspensão: Dianteira independente tipo McPherson, molas helicoidais e barra estabilizadora. Traseira por eixo de torção, molas helicoidais e barra estabilizadora. Controle de estabilidade de série.
Pneus: 225/50 R18.
Freios: A disco ventilado na frente e sólidos atrás com ABS e EBD.
Carroceria: Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,46 metros de comprimento, 1,83 m de largura, 1,62 m de altura e 2,64 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cortina.
Peso: 1.420 kg.
Capacidade do porta-malas: 440 litros.
Tanque de combustível: 50 litros.
Produção: Indaiatuba, Brasil.
Lançamento: 2021.
Lançamento no Brasil: 2019.
Preço da versão XRE: R$ 160.990.
Preço da unidade testada, com pintura metálica: R$ 162.940
AVALIAÇÃO TOYOTA COROLLA CROSS XRE por Eduardo Rocha | Auto Press
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