17/11/2023 às 16h11min - Atualizada em 18/11/2023 às 00h02min

Antigravidade? Acho que não: Antimatéria “cai para baixo” 

*Daniel Guimarães Tedesco 

Valquiria Cristina da Silva Marchiori
Rodrigo Leal

Nem todo físico gosta de ficção científica, apesar do que muitos acreditam. Eu gosto muito de filmes e séries de forma geral, mas eu não tenho nenhum fascínio ou obsessão por Star Trek ou Star Wars. Acredito que esse meu comportamento se deve ao mau uso da física ou às possibilidades estranhas que algumas hipóteses de física avançada sugerem. Um exemplo é o uso em Star Trek, onde a Enterprise usa a aniquilação de matéria e antimatéria como propulsão em viagens mais rápidas que a luz. Em uma possível fusão entre arte e realidade, muitos acreditavam em uma possível antigravidade da antimatéria. 

Primeiro, vamos entender um pouco: A antimatéria é uma matéria de certa forma “exótica” que tem as mesmas propriedades da matéria comum, mas com carga oposta. O que torna a antimatéria exótica é o fato de que, quando uma partícula de matéria encontra a sua correspondente de antimatéria, elas se anulam mutuamente em um processo chamado aniquilação, liberando uma grande quantidade de energia. 

Ao longo de várias décadas, a comunidade científica tem pensado sobre a interação da antimatéria com a força gravitacional. A Relatividade Geral de Albert Einstein relaciona a quantidade de matéria e energia com a curvatura do espaço tempo. Em nossa vida cotidiana, estamos acostumados a pensar na gravidade como uma força que puxa os objetos para baixo, mas a relatividade geral nos diz que a gravidade não é bem uma força nesses moldes.  

Apesar de não gostar muito de analogias, vamos lá: imagine uma pessoa em um lençol muito grande, suspenso e muito esticado (a ponto de a pessoa não sentir a deformação ao pisar no lençol). Agora imagine algo pesado a ponto de deformar o lençol. Agora essa pessoa coloca uma bola de gude próximo dessa coisa pesada e ela se move em direção ao peso. Acontece algo semelhante no espaço-tempo. A presença de massa e energia curva o espaço-tempo, gerando a gravidade. A antimatéria tem a mesma massa e energia que a matéria, então ela também curva o espaço-tempo.  

A colaboração ALPHA realizou um experimento no CERN, na Suíça que consiste em aprisionar os antiátomos em um aparato chamado de armadilha vertical, com barreiras magnéticas localizadas acima e abaixo da amostra, perfeitamente iguais. Os resultados do experimento mostraram que os antihidrogênios caem como os hidrogênios: “para baixo”. A aceleração da gravidade medida para a antimatéria foi de 75% da aceleração da gravidade da Terra. Uma pena para quem ainda está esperando o hoverboard do filme de Volta para o Futuro.  

Ainda há muito para entendermos sobre a antimatéria e que seria muito útil em diversos aspectos práticos, como geração de energia limpa de forma mais segura, apesar de atualmente não ser viável (só no filme Anjos e Demônios mesmo que é viável por enquanto). Na verdade, existem algumas iniciativas para entender como usar a antimatéria como fonte energética, mas em um estilo bem sci-fi, para a geração de energia elétrica e propulsão em viagens espaciais. 

Acredito que os físicos estão nessa frente por várias questões como a explicação da assimetria matéria e antimatéria. Basicamente, quando o universo começou com o Big Bang, acreditava-se que quantidades iguais de matéria e antimatéria deveriam ter sido criadas. No entanto, observamos que o universo hoje é composto de muita matéria e pouquíssima antimatéria.  

Quem sabe não desenvolvemos um motor como o da Enterprise, enquanto buscamos respostas para as questões fundamentais? 

*Daniel Guimarães Tedesco é Doutor em Física pela UERJ e professor da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas no Centro Universitário Internacional Uninter  


Este conteúdo foi distribuído pela plataforma SALA DA NOTÍCIA e elaborado/criado pelo Assessor(a):
U | U
U


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp