14/11/2023 às 18h57min - Atualizada em 14/11/2023 às 20h04min

Mural gigante em edifício ocupado na região da Av. Paulista uniu histórias de personagens negros que impactam a vida da cidade

Obra, medindo 30 m de altura e assinada pelo artista e produtor cultural Kléber Pagú, foi pintada na fachada de um edifício da Ocupação Penha Pietras

Fausto Cabral
Unkagency
No mês em que é celebrada nacionalmente a importância da Consciência Negra, uma obra artística a céu aberto, recém-inaugurada, traz carregada em suas cores as trajetórias de três figuras distintas na história da capital paulista, cada uma com sua própria luta marcada pelo combate à desigualdade social e ao racismo, pela luta por moradia digna e pela celebração da cultura afro-brasileira.

Trata-se de “Morar Viver”, um mural com 30 m de altura x 9 m de largura, localizado num espaço bastante significativo: a lateral de 270 m² de um edifício na Rua da Consolação, entre a Avenida Paulista e a Alameda Santos, onde vivem 56 famílias da Ocupação Penha Pietras.

Este trabalho acabou cruzando as histórias do artista e produtor cultural Kléber Pagú, criador do mural; de Gabriela Feliciano, uma das moradoras e lideranças da Ocupação e de Penha Pietras (1968-2021), bailarina, atriz, professora de teatro e de dança, que dá nome à Ocupação.

O início deste trabalho se deu por conta de um convite do Festival Tomorrowland para que Pagú criasse um mural na cidade. Seu nome foi escolhido por conta de sua ampla experiência: ele já entregou mais de 270 instalações de arte urbana em colaboração com diferentes artistas, em espaços públicos de 22 países.

Além de entregar para a cidade mais uma obra de arte a céu aberto, o projeto contou com ações afirmativas junto à comunidade que vive na Ocupação Penha Pietras. Uma delas foi a contratação de duas moradoras que, após a receber as certificações em trabalho em alturas, trabalharam com Pagú na execução da obra.

“Só faria sentido criar um mural neste local se pudéssemos contribuir com algo que efetivamente fizesse diferença para a pessoas que moram na Ocupação”, enfatiza Kleber Pagú.
 
É onde entra a história de Gabriela Feliciano, de 36 anos, uma das moradoras da Ocupação, que auxiliaram Kléber Pagú no mural. Gabriela chegou à ocupação no ano de 2022 e pode ser considerada como uma das lideranças da comunidade, estando à frente de diversos projetos de melhoria, dentre eles a criação de projetos de sistemas hidráulicos e elétricos e a busca por recursos que garantam a segurança e dignidade dos moradores. Desocupado em 2021 durante o período da pandemia e com muitas dívidas, o edifício agora recebe aproximadamente 100 pessoas (56 famílias), sendo 47 mulheres (9 mães-solo), 24 homens e 27 crianças e adolescentes. Vale ressaltar que dentre este número estão 20 estrangeiros.

O trabalho em altura e a pintura de um mural desta magnitude, porém, foram novidades para Gabriela. “Foi um processo muito novo e estimulante para mim. Eu amo pintar, mas não tenho experiência como desenhista e ficava me perguntando como as pessoas pintavam as empenas. Eu nunca tinha me imaginado pintando um prédio ou trabalhando em altura”, afirma Gabriela Feliciano.

Sobre a capacitação para o trabalho, ela é enfática. “Foi muito importante, pois me deu segurança para ficar pendurada numa corda fazendo a pintura. Eu tive muito incentivo do Kléber Pagú desde o início, sou muito grata a ele por ter viabilizado essa oportunidade e por ter trazido essa experiência para a ocupação e para as pessoas que acabaram participando de todo esse processo”.

Penha Pietras – Por fim, tanto o nome da ocupação quanto o mural homenageiam uma personagem de extrema importância para a cultura paulista e o movimento negro: a bailarina, atriz e professora de teatro e dança Penha Pietras, falecida em 2021 em decorrência da Covid-19.

Extremamente respeitada no meio artístico, Penha Pietras fundou em 1985 o grupo “Os 16 meninos da 13 de maio”, que reunia crianças e adolescentes moradores dos cortiços da região da Rua 13 de Maio, em São Paulo. A artista atuou na televisão e no teatro e também trabalhou no renomado Ballet Stagium e na Secretaria Municipal de Cultura, tendo recebido diversos prêmios.

Além disso, Penha Pietras dedicou a sua vida à formação de uma geração de atores, atrizes e dançarinos vindos dos cortiços do bairro do Bixiga.

“Penha Pietras foi a figura escolhida para batizar a ocupação pois seu nome traz a força e símbolo de uma mulher brasileira, cujo trabalho social foi de reconhecida importância. A sugestão foi dada por uma das lideranças do Movimento de Moradia e Inclusão Social e foi aprovada numa assembleia. Todos concordaram que seria um bom nome a ser homenageado, sobretudo pelo fato de a ocupação ter sido criada durante a pandemia de Covid-19, mesmo período e motivo do falecimento de Penha Pietras”, explica Gabriela Feliciano.

FICHA TÉCNICA
Título da obra: “Morar e Viver”
Artista: Kléber Pagú
Patrocínio: Festival Tomorrowland

Auxiliares:
Gabriela Feliciano (Moradora da Ocupação)

Giulia Ramilo (Moradora da Ocupação)
Antony Capuzo (Artista)

Local: Ocupação Penha Pietras
Endereço: R. da Consolação, 2563, Consolação, São Paulo - SP
 

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